Falsa inocência – A presidente Dilma Rousseff reagiu corretamente ao criticar a comparação que o diplomata Eduardo Saboia fez entre a embaixada brasileira na Bolívia e o DOI-Codi. De fato há entre ambos uma diferença monumental, como existe entre o céu e o inferno. Contudo, para quem é conhecida por sua aversão ao Cristianismo, Dilma surpreendeu ao citar dois locais do imaginário bíblico.
Considerando que, de acordo com a declaração presidencial, o extinto DOI-Codi era o inferno, permanecer preso durante quinze meses em uma representação diplomática, sem ter o direito de sair e circular livremente, pode ser interpretado como uma imposição luciferiana. Sem contar que cada ser humano tem sua concepção particular de inferno.
Dilma colheu dividendos negativos na operação de fuga do senador boliviano Roger Pinto Molina, adversário político do cocalero Evo Morales, mas é inaceitável uma chefe de Estado afirmar que desconhecia o plano. Esse comportamento remonta aos tempos do messiânico e fugitivo Lula, que nos oito em que ocupou o Palácio do Planalto jamais soube dos escândalos de corrupção que emolduraram seus dois governos. De igual modo é inaceitável a alegação de que Molina correu risco de vida durante o trajeto entre La Paz e Corumbá.
Se de fato desconhecia o tal plano, que rendeu a demissão do então chanceler Antonio Patriota e pode provocar a exoneração de Eduardo Saboia, a presidente deve deixar o Palácio do Planalto, pois está demonstrado que ela não tem competência para o cargo. Quer seja por suposta inocência, quer seja por sua incapacidade de escolher assessores mais confiáveis.
Entre os países latino-americanos governados por esquerdistas, o Brasil lidera o grupo, principalmente pela situação econômica, mas Dilma não quer perder o direito de permanecer no pedestal. Por isso reagiu de maneira intempestiva. Mas que os brasileiros não se enganem, pois no Palácio do Planalto pelo menos nove entre dez frequentadores sabiam do plano de fuga de Molina. Mesmo assim, a caça às bruxas deve durar mais alguns dias, até que o assunto saia do noticiário.