A ordem é resistir – Carente cada vez mais de áreas verdes, pois ao longo de décadas foi transformada pela especulação imobiliária em selva de pedra vertical, a cidade de São Paulo é palco de disputa longeva sobre uma área que inicialmente foi tombada com o objetivo de abrigar um parque. O imbróglio envolve o Parque Augusta, localizado na esquina das ruas Augusta e Caio Prado, no centro da capital dos paulistas.
Com 25 mil metros quadrados e 300 árvores de 46 espécies distintas, todas remanescentes da Mata Atlântica, entre elas jacarandá e palmeira, a área abrigou no passado o Colégio Des Oiseaux, instituição de ensino privado mantida pelas cônegas de Santo Agostinho e voltada para a classe abastada de então, onde estudaram a ex-primeira-dama Ruth Cardoso e a ex-prefeita Marta Suplicy.
Tombado pelo Patrimônio Histórico em 2004 e até hoje sem um destino definido, o terreno foi declarado de utilidade pública em 1970, mas em seguida a Câmara Municipal revogou o decreto, devolvendo o imóvel aos proprietários. Fato é que o impasse já dura mais de quarenta anos, sem que as autoridades decidam o que funcionará em uma das últimas áreas verdes da cidade, que em sua região central desrespeita sobremaneira as recomendações da Organização das Nações Unidas sobre o tema. De acordo com a ONU, o ideal é que as cidades tenham 12 metros quadrados de área verdade por habitante, enquanto a capital paulista, segundo dados da própria prefeitura, tem 1,34 metro quadrado.
Desde o então prefeito Paulo Salim Maluf (1969-1971) ao atual, o petista Fernando Haddad, os mais variados projetos foram desenvolvidos tendo como cenário o que deveria ser o Parque Augusta. De supermercado a um Museu da Música Popular Brasileira, tudo já foi pensado para ser instalado no terreno, que já funcionou como estacionamento e foi endereço do Projeto SP, um reduto onde aconteciam eventos culturais.
Fato é que, pressionado pelas construtoras que desejam construir no local torres de apartamento, eliminando uma área verde de importância histórica, além de ambiental, Fernando Haddad alega que a prefeitura paulistana não tem recursos disponíveis para arcar com os custos da desapropriação do terreno, que com facilidade abrigaria o Parque Augusta, causa que o ucho.info defende sem titubear. Integrantes da sociedade civil se mobilizam de todas as formas para preservar a área, tendo já instalado no local alguns bancos e outros acessórios que começam a dar ao local uma aparência de parque.
Na última quarta-feira (4), o Ministério Público do Estado de São Paulo recebeu uma representação do Partido Ecológico Nacional (PEN), que requer a abertura de procedimento legal que garanta a preservação da área e a sua imediata transformação em parque público.