Só conversa – “Nós queremos toda a verdade, somos o maior interessado nisso. Vou fundo nessa história. Punir os culpados”. Assim disse o governador Geraldo Alckmin (PSDB) ao anunciar o início de investigação por parte da Corregedoria da São Paulo para apurar a participação de empresas em carteis para fornecimento de material metroferroviário ao Metrô e à Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).
Sem prazo para a conclusão dos trabalhos, a Corregedoria já tomou o depoimento de pelo menos 23 pessoas, mas até agora não identificou nenhum indício de envolvimento de servidores públicos no esquema criminoso, do qual o Estado de São Paulo foi vítima, de acordo com declaração de Alckmin.
O processo investigatório teve início logo após a empresa alemã Siemens denunciar ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) denunciar a existência de um cartel que participou de licitações em São Paulo e no Distrito Federal.
Enquanto as investigações patinam em São Paulo, autoridades da suíça enviaram às autoridades brasileiras documentos que comprovam que um ex-diretor da CPTM recebeu em conta bancária do país europeu € 800 mil de forma parcelada, entre os anos de 1997 e 1998, período em que São Paulo era governado pelo tucano Mário Covas. Os extratos bancários foram anexados ao inquérito do caso Alstom, empresa francesa que à época teria participado de cartel para a obtenção de milionários contratos na área de energia e transporte público.
De acordo com os investigadores do caso, o dinheiro depositado na conta bancária do ex-diretor da CPTM é decorrente de corrupção e serviu para favorecer a Alstom em contrato de reforma de trens da CPTM. Os documentos foram obtidos por meio do Acordo de Cooperação Mútua Internacional (MLTA – Multilateral Treaty Agreement).
Independentemente da conotação meramente política que o Cade, presidido pelo petista Vinícius Duarte de Carvalho (é sobrinho de Gilberto Carvalho), insiste em dar o caso desde o início das investigações do órgão, quando começaram os vazamentos direcionados de documentos, o governador de São Paulo tem a obrigação de cumprir a palavra dada e punir com base no rigor da lei vigente os envolvidos em um crime que lesou os cofres paulistas.
É inaceitável qualquer tentativa procrastinatória no processo de investigação com o objetivo de proteger os responsáveis, especialmente no momento em que a sociedade espera dos governantes uma resposta às muitas cobranças que marcaram as manifestações de junho passado. E o fim da corrupção foi uma delas. De tal modo, Geraldo Alckmin tem o dever de cobrar celeridade aos envolvidos no processo, sem prejuízo da investigação. Da mesma forma deve ser cobrada a auditoria externa criada pelo governador paulista para apurar o caso denunciado pela Siemens.