Moralismo de ocasião – “País da piada pronta”, como afirma o jornalista José Simão, o Brasil também deve ser visto como o paraíso dos oportunistas. A cada novo escândalo que pontua o cotidiano nacional sempre surge alguém tentando pegar carona na fama.
No caso dos auditores fiscais da prefeitura de São Paulo presos por causa de esquema criminoso de fraude no cálculo do ISS, mediante pagamento de propinas por parte de empresas de empreendimentos imobiliários, a ex-amante de um dos acusados agora posa de indignada.
A jovem Vanessa Caroline Alcântara, de 27 anos, que durante algum tempo manteve relacionamento com Luís Alexandre Cardoso de Magalhães, afirmou que o fiscal da prefeitura paulistana gazeteava aos quatro cantos que era corrupto.
“Ele falava isso para todo mundo”, declarou a ex-amante, que revelou que Magalhães dizia ser corrupto em churrascos com amigos, na charutaria que frequentava e inclusive para parentes de Vanessa, que garante jamais ter ficado com qualquer quantia da propina paga pelas incorporadoras.
Vanessa vinha brigando com o fiscal Luís Alexandre de Magalhães para aumentar a pensão do filho, de apenas nove meses, de R$ 700 para R$ 3 mil mensais, valor que entende ser justo e de acordo com a lei. “Só quero ficar com o cachorro, com a câmera digital que ele tomou, e é meu hobby, e com a pensão de R$ 3 mil”, declarou.
A jovem faz questão de destacar que foi a responsável pelo desmantelamento do esquema criminoso. “Por causa de R$ 3 mil, um cachorro e uma câmera, o Luís perdeu R$ 15 milhões”, disse Vanessa ao se referir ao ex-amante, que agora está às voltas com a Justiça por causa de um esquema de cobrança de propina que há muito existe na maior cidade brasileira.
O comportamento de Vanessa Alcântara é no mínimo dúbio, pois se o fiscal tivesse concordado em aumentar a pensão do filho que tem com a jovem possivelmente o esquema jamais seria descoberto. É essa forma de pensar de alguns cidadãos que coloca em dúvida a possibilidade de o Brasil um dia tornar-se um país sério e com índices de corrupção suportáveis.
Vanessa agora tenta entra nessa epopeia na condição de heroína, como se ter compactuado com o esquema criminoso liderado pelo então amante não fosse condenável. Vivesse nos Estados Unidos, onde a legislação é rígida e implacável, Vanessa Alcântara já estaria presa e acusada de um crime que por infortúnio não existe no Código Penal brasileiro: conspiração contra o Estado. Vanessa sempre soube da condição de corrupto do ex-amante, mas preferiu aproveitar as benesses patrocinadas pelo dinheiro imundo a delatar a quadrilha. O que só aconteceu porque teve seus interesses negados.
Situação idêntica ocorreu depois que o escândalo do Mensalão do PT veio à tona. Parceiras de alguns mensaleiros decidiram aproveitar os minutos de fama e criticaram com veemência os antigos parceiros. Porém, enquanto o dinheiro da corrupção estava financiando benesses de toda ordem essas falsas moralistas sequer tinham tempo para pensar nas ilegalidades cometidas.