Outro lado – A imprensa brasileira continua se comportando de maneira estranha, o que coloca a opinião pública à margem da realidade dos fatos. De nada adianta noticiar qualquer evento com superficialidade, apenas para cumprir tabela e não perder o trem da história jornalística. Assim como é irresponsabilidade permitir que o Palácio do Planalto paute os veículos de comunicação de acordo com os interesses do governo.
Nesta quinta-feira (19), o IBGE divulgou os resultados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), que apontam que o índice de desemprego em novembro ficou em 4,6%, apesar da desaceleração da economia no terceiro trimestre, da redução do ritmo do consumo e das dificuldades para se conseguir crédito. O resultado é o mais baixo para o mês e igual ao registrado em dezembro de 2012, o menor da série histórica do IBGE iniciada em 2001.
Como de costume, nos últimos meses do ano a taxa de desemprego recua por conta da entrada de recursos na economia, em especial do décimo terceiro salário, e da contratação de trabalhadores temporários no comércio, indústria e prestação de serviços.
A questão que não é analisada com clareza pela grande imprensa é o nível de emprego no País, que há muito vem perdendo a força registrada em anos anteriores. De outubro para novembro, o nível de emprego cresceu apenas 0,1%, nas seis maiores regiões metropolitanas do País. Na comparação com novembro de 2012, o nível de emprego recuou 0,7%.
O ponto crucial desse cenário é que o nível de emprego alcançou estabilidade técnica, podendo variar muito pouco daqui para frente. Como esse quadro que os especialistas classificam como pleno emprego, o governo não tem como apostar no consumo interno para reverter a crise econômica que chacoalha a nação e vem mostrando preocupante resistência.
Diferentemente do que afirmam os integrantes da cúpula do governo de Dilma Vana Rousseff, o futuro não exibe horizonte sombrio. Apesar de 1,131 milhão de pessoas encontrarem-se desempregadas, a perspectiva de melhora é pequena porque a mão de obra brasileira é de baixa qualificação, o que gera problemas aos empresários no momento da contratação. Parte do aumento do nível de emprego registrado em novembro resulta da aposta que algumas empresas têm feito no treinamento de trabalhadores desqualificados. Acontece que ao final do processo o trabalhador qualificado inevitavelmente tomará a vaga de um sem qualificação. E essa ciranda faz parte do pleno emprego.
A situação deveria ser diferente, já que dentro de alguns meses o Brasil será palco da Copa d Mundo da FIFA, evento que normalmente interfere positivamente no mercado de trabalho. Fora isso, os preparativos para os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, já deveriam estar impactando nas estatísticas do setor, mesmo que timidamente.
Não bastasse o mercado de trabalho estar perdendo o ritmo, o cenário torna-se nebuloso por causa de taxas de juro mais elevadas, a confiança dos empresários em queda e a precaução dos consumidores em relação a novos gastos. Mesmo assim, a presidente Dilma ousa afirmar que o Brasil está pronto para segurar qualquer situação adversa em termos econômicos. Em suma, se Dilma não mora no fabuloso país de Alice, aquele das maravilhas, por certo espera ganhar de presente de Natal uma camisa de força.