(*) Carlos Brickmann –
O apagão de Fernando Henrique, em 1999, segundo a explicação oficial, foi causado por um raio que atingiu o sistema elétrico em Bauru, SP. Era um dia ensolarado, seco, sem chuvas, nem uma garoinha sequer. Mas foi o raio, e pronto.
A presidente Dilma, que se considera especialista em eletricidade, disse em 2012 que raios não afetam nem produção nem distribuição de energia. “No dia em que falarem para vocês que foi raio, gargalhem”. E não é que o Operador Nacional do Sistema, Hermes Chipp, disse que o apagão da terça-feira pode ter sido causado por um raio? Nem deu tempo de gargalhar: Dilma arranjou espaço na sua irritação geral para ficar irritada com Chipp, e mandou seu ministro Thomas Traumann dizer que se o problema foi causado por raio é preciso apurar se os operadores estão fazendo a manutenção adequada da rede de para-raios.
Aguarde: um eletricista daqueles que sobem no poste vai levar a culpa.
Há detalhes interessantes nessa história. Na véspera do apagão, o ministro das Minas e Energia, Édison Lobão, disse que o aumento no consumo da energia não criaria problemas no abastecimento. Lobão é especialista em eletricidade: em sua casa, aperta um botão e a luz se acende; aperta outro, a luz se apaga.
Já de coincidências, não entende muito: nunca entendeu, por exemplo, porque o espelho de sua casa quebra assustado, por coincidência, tão logo ele se olha para fazer a barba. E, veja só, o apagão aconteceu exatamente um minuto depois que se registrou o pico de consumo de energia.
Pura coincidência, claro.
“Planejaumento”
O Governo Federal sabe que o preço influencia, e muito, o consumo – tanto que, para ampliar a produção de automóveis, baixou impostos, reduzindo o preço e levando mais gente a comprar seu carro. Mas, na área de energia, acha que preço não funciona: baixou na marra a conta de luz e estimulou o aumento do consumo, sem elevar no mesmo ritmo a produção de eletricidade. Deu azar: o consumo, já em alta, foi impulsionado por um calor sem precedentes, e há a estiagem que esvaziou as represas. A solução foi imitar mais uma vez os defeitos de Fernando Henrique e culpar o raio que ninguém viu (e que Dilma já proibiu).
Pizzolato, 1, 2, 3
Henrique Pizzolato, importante petista condenado no processo do Mensalão, foi preso na Itália, com passaporte falso, em nome de seu falecido irmão. Extradição ou não, não é a questão: ele será julgado lá pelo passaporte falso.
1 – Pizzolato votou duas vezes nas últimas eleições: uma como Henrique, outra como Celso, o falecido irmão. Se é fácil assim, quantos terão feito o mesmo?
2 – Pizzolato disse que queria ser julgado por tribunais democráticos como os italianos. Pois não é que agora está tendo sua oportunidade?
3 – O Governo italiano tem uma chance de ouro de vingar-se das sucessivas afrontas cometidas por Brasília no caso Césare Battisti: um tapa com luvas de pelica. Retribuir as afrontas com uma gentileza, enviando Pizzolato de volta ao Brasil. Dizem que ele está furioso por ter sido abandonado e tem coisas a contar.
Dúvida
Pizzolato agiu sozinho na elaboração do plano de passar-se por seu irmão e na falsificação dos documentos, ou contou com a ajuda de algum perito? Quem?
A bancada da Papuda
O ainda deputado federal João Paulo Cunha, do PT paulista, está preso; em sua companhia, há também o deputado Natan Donadon, do PMDB de Rondônia. Os dois, embora condenados, com trânsito em julgado, sem direito a recurso, querem exercer seus mandatos a partir das acomodações de que dispõem na Penitenciária da Papuda, em Brasília.
João Paulo radicaliza: pede que o emprego necessário para que possa deixar a prisão durante o dia seja o de deputado federal. Na verdade, ambos se esforçam para que a imortal frase de Lula continue verdadeira, e que a bancada de 300 picaretas não se reduza para 298.
Se estiver certo, está errado
O secretário estadual de Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, acusa “grupos organizados” de tumultuar o Metrô paulistano. Fernandes não disse, mas é curioso observar que o pico de defeitos do Metrô ocorre em anos pares, coincidentemente aqueles em que há eleições. Na última rodada de problemas, perto das eleições anteriores, achou-se até uma calça jeans impedindo o contato de um transformador e cortando a energia.
Imaginemos, pois, que Fernandes, secretário do Governo tucano de Geraldo Alckmin, tenha razão. Tanto o Metrô como os trens urbanos têm equipes de segurança, câmeras, acesso a peritos que podem ajudar na investigação. O Governo comanda também as Polícias Civil e Militar, com seus investigadores e serviços de informações. Que é que fizeram nos últimos anos para identificar e desmantelar os tais “grupos organizados”? Se o Governo estiver certo quanto à sabotagem, por que não agiu até agora?
O buraco da bola
O deputado Jerônimo Goergen, do PP gaúcho, apurou a dívida dos clubes das séries A e B com o Governo: R$ 2,3 bilhões (sendo R$ 900 milhões com a Receita). Goergen busca uma solução que, sem fechar os clubes, os force a pagar.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.