(*) Carlos Brickmann –
1 – A Justiça Federal proibiu a Siemens de participar de licitações públicas e de fechar contratos com qualquer Governo no Brasil por cinco anos. Calma: não se trata da ladroeira do cartel do Metrô e dos trens, que se arrasta em São Paulo desde o Governo Covas. Esta é outra, por irregularidades em duas licitações nos Correios, em 1999 e 2003 (irregularidade é, no caso, sinônimo de “propina”).
O colunista aposta um picolé de chuchu como a proibição acabará sendo revogada. Motivo 1: Há poucas empresas do porte da Siemens no mundo; ignorá-la nas licitações significa reduzir muito a concorrência, que já não é lá essas coisas. Motivo 2: lembra da Delta, a empreiteira de Fernando Cavendish, que depois de ser apanhada foi proibida de participar de concorrências públicas? Pois já está participando. De dezembro até hoje, ganhou umas 20.
2 – Os responsáveis pela segurança da Copa compraram caminhões blindados que atiram água e líquidos coloridos para dissolver manifestações. E anunciaram, com ampla cobertura, que esta é a mais moderna arma em uso na Europa, o que, aliás, explica por que é tão cara. Só que nas décadas de 50 e 60 a Polícia paulista tinha um caminhão igualzinho, com canhão de água e tudo, apelidado de Brucutu. Cansou de usá-lo em combate a greves e manifestações. Mas, como era razoavelmente barato, foi deixado de lado. Os novos caminhões não têm esse defeito.
3 – Explicação dada para a falta de luz no Aeroporto de Guarulhos: faltou luz.
4 – E as rachaduras no Aeroporto de Brasília? Deu rachadura porque rachou.
Recordar é viver
Dilma anunciou que o Brasil será autossuficiente em petróleo até 2015. Está atrasada: em 2006, Lula havia anunciado que o Brasil já era autossuficiente. Mas sua previsão tem pontos em comum com a de Lula. Também foi feita em ano de eleições presidenciais; e também não vai dar certo.
A produção de petróleo não aumenta aos saltos, mas aos poucos (e gasolina e outros derivados dependem de refinarias que estão longe da conclusão). Em 2006, autossuficiência de Lula, o Brasil produzia algo como 1,8 milhão de barris por dia, e consumia pouco mais de dois milhões; agora, autossuficiência de Dilma, o consumo é de quase três milhões de barris por dia, e a produção está em torno de dois milhões de barris.
Maria Candelária
A Justiça iniciou ação criminal contra Rosemary Noronha, pessoa de confiança do presidente Lula e chefe do Gabinete da Presidência em São Paulo até ser envolvida na Operação Porto Seguro, da Polícia Federal. Além de Rose – acusada de formação de quadrilha, tráfico de influência e corrupção passiva – há outros 17 réus. A Operação Porto Seguro investigava a venda de pareceres de órgãos públicos federais.
Atenção: este processo pode ter desdobramentos explosivos.
Se acaso você chegasse
Em outros tempos, antes da época do politicamente correto, este caso seria contado como piada de luxemburguês, tendo como astros o Manuelsky e o Joaquinsky. Mas o caso não tem nada com luxemburgueses e não é piada: o Governo paulista anunciou oficialmente que postou 15 homens em volta da Penitenciária de Presidente Venceslau, de segurança máxima, para emboscar criminosos que tentariam libertar Marcola, apelido de Marco Willian Herbas Camacho, líder do PCC. Os senhores bandidos que evitem aparecer para não ser emboscados.
Emboscada com aviso prévio é daquelas coisas em que São Paulo é pioneiro no mundo. Pelas informações oficiais, a Secretaria de Assuntos Penitenciários interceptou telefonemas de um preso, iniciou investigações e concluiu que um grupo de criminosos pretendia atacar a penitenciária com dois helicópteros, um deles armado com metralhadoras. No tiroteio, o comando do PCC seria içado para um dos helicópteros e levado a um aeroporto clandestino, de onde um avião decolaria para o Paraguai. O Governo montou então a emboscada, até convocando seis atiradores de elite, com armas capazes de derrubar helicópteros.
Mas alguém vazou a informação para “O Estado de S. Paulo” rompendo o segredo. O governador Geraldo Alckmin não apenas confirmou tudo como anunciou que a emboscada continuava de pé. Os bandidos dispõem da informação completa: sabem da emboscada, sabem quantos homens terão de enfrentar, e com que armas.
Será que tinha coragem?
Três possibilidades: a) montou-se a grande trapalhada e, pior, a trapalhada foi mantida; b) parte do Governo decidiu atrapalhar os planos de outra parte; c) o Governo, achando que o pessoal do PCC é burro, resolveu enganá-lo, marcando a emboscada para um local com a intenção de realizá-la em outro.
Certa vez, Chico Buarque propôs um novo ministério, o VDM, para advertir que certos planos mirabolantes Vão Dar, digamos, Meleca.
Esse plano não passaria pelo VDM.
Piada de salão 2
Não importa quem o componha, o Supremo Tribunal Federal é a instituição que dá a última palavra em questões jurídicas. Pode-se gostar ou não (e é difícil formar opinião sem ter lido as 50 mil páginas do processo), mas a decisão de que não houve quadrilha no Mensalão foi tomada na forma da lei. Os réus se livraram da cadeia por quadrilha, ponto.
Estão presos só na qualidade de corruptos.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.