Mexendo com fogo – É no mínimo inconcebível o fato de a estrutura do governo ser transformada em comitê de campanha, como faz a presidente Dilma Vana Rousseff com a máquina palaciana. Almejar a reeleição é um direito que a presidente tem – e como tal deve exercê-lo –, mas não se pode confundir os interesses do País com os objetivos de sua campanha política. O Brasil está paralisado há alguns anos, mas para agravar o cenário agora vive uma crise política grave, que coloca a nação mais adiante na rota do descompasso.
Preocupada em não perder o tempo de televisão a que tem direito o PDMB, Dilma tenta sufocar a rebelião que eclodiu no principal partido político da base aliada. A ideia da presidente é isolar o líder do PMDB na Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (RJ), parlamentar hábil e profundo conhecedor do jogo político. É verdade que Cunha tem seus pontos de vulnerabilidade, os quais poderiam ser atacados pelos palacianos durante eventual reação mais acirrada, mas é preciso lembrar que o líder peemedebista, se cair, o fará atirando até o final.
Quando Eduardo Cunha foi escolhido para liderar o PMDB na Câmara, o ucho.info alertou para o detalhe de que o governo teria sérios problemas de relacionamento com o partido. E isso está se confirmando sem muito esforço, pois o peemedebista fluminense é dono de currículo político conhecido. Mesmo que sua capacidade de arregimentação seja grande, Eduardo Cunha não está agindo à revelia da cúpula do partido. Na verdade, ele age com o apoio velado dos caciques peemedebistas, que cobram mais e melhores postos no governo para que o partido continua no projeto de reeleição de Dilma Rousseff.
Lula, o lobista que continua dono do governo, vem operando nos bastidores para tentar conter a crise que surgiu entre petistas e peemedebistas, que nos últimos dias têm troca insultos publicamente. A situação começa a escapar do controle do Palácio do Planalto e o PMDB já cogita lançar candidato próprio à Presidência da República, o que atrapalharia os planos do PT. A ideia é lançar o destemperado Roberto Requião, senador e ex-governador do Paraná, como postulante ao cargo. Se isso acontecer, Dilma precisara da barba de Lula para colocá-la de molho, porque com o novo cenário as pesquisas eleitorais divulgadas até então aterrissarão na seara do mero devaneio.
Dilma tem ouvido os conselhos nada sensatos do marqueteiro João Santana e do “companheiro de armas” Franklin Martins, que tem defendido a tese de que batendo incondicionalmente na classe política a presidente há de crescer em meio à opinião pública. A continuar nessa trilha perigosa, Dilma só tem a perder, uma vez que o PMDB é formado por profissionais da política. Em suma, o fogo é alto, a temperatura política está elevada e a fervura da sucessão tende a subir.