Recado dado – O exemplo de Eduardo Gaievski, levado aos mais altos cargos em Brasília por Gleisi Hoffmann, depois abandonado pela senadora e pelo PT em uma penitenciária no Sudoeste do Paraná, assombra o deputado André Vargas. Gaievski é acusado de ter cometido 28 estupros de menores, 14 deles contra vulneráveis (menores de quatorze anos).
Vargas, por sua vez, é suspeito de peculato e uso de função pública (além de deputado era vice-presidente da Câmara dos Deputados) para obter lucros em sua relação com o doleiro Alberto Youssef, preso na Operação Lava-Jato e com quem teria se associado para lesar o governo federal com a produção de medicamentos para o Ministério da Saúde. Em comum, os dois têm a relação próxima com Gleisi e seu marido, o ministro Paulo Bernardo da Silva, das Comunicações.
Gaievski aguardou em vão ser socorrido pelos amigos Gleisi e Paulo Bernardo, mandou muitos recados com ameaças, mas por enquanto nada falou do que sabia. Resultado: está na cadeia prestes a receber uma longa sentença. Vargas, que também é próximo ao casal, continua como coordenador da campanha de Gleisi ao governo do Paraná e garante que não repetirá os erros cometidos por Gaievski.
O petista já demonstrou essa disposição ao recusar-se a seguir o roteiro proposto pelo PT da renúncia imediata. “Não renuncio. Agora vou até o fim e vou fazer o meu sucessor na vice-presidência da Câmara”, avisou. André Vargas ficou especialmente furioso com uma entrevista de Glesi ao jornal “Folha de S. Paulo”, dizendo que o relacionamento de Vargas com Alberto Youssef e a viagem de avião que fez no jatinho do doleiro “é um envolvimento que não encontra justificativa para ter acontecido e acaba impactando no PT e na política”.
“Ela quer me transformar em outro Gaievski, mas não vai funcionar”, desabafa Vargas. Emissários do ex-vice-presidente da Câmara distribuem material que demonstra que caronas em aeronaves é o tipo de pecado cometido não apenas cometido por André Vargas, mas por muitos companheiros de legenda. Em especial pela senadora Gleisi Hoffmann e pelo ministro Paulo Bernardo.
Matéria da revista Época, de julho de 2011, mostra que Paulo Bernardo e Gleisi usavam habitualmente o King Air PR-AJT, da Sanches e Tripoloni, empreiteira das obras do PAC e suspeita de superfaturamento. Entre as obras a cargo da empreiteira está o Contorno Norte de Maringá, que além de ter atraso e estourou em várias vezes o orçamento inicial. De acordo com reportagem publicada pela Folha, a empreiteira aumentou em 1.273% seus contratos com o DNIT, entre 2004 e 2010.
O projeto do Contorno Norte de Maringá sempre contou com o apoio entusiasmado de Paulo Bernardo. Na campanha de 2010, a empreiteira doou R$ 7 milhões. No Paraná, os grandes beneficiários foram Gleisi Hoffmann (R$ 510 mil) e o chefe de gabinete de Paulo Bernardo, Enio Verri, hoje deputado estadual e presidente do PT paranaense. Verri, que também recebeu doações de Vargas (R$ 74 mil) para sua campanha de deputado, se recusa a falar em defesa do companheiro de legenda.
O restante da bancada do PT na Assembleia do Paraná, toda patrocinada por Vargas – ele distribuiu quase R$ 900 mil em doações eleitorais na campanha de 2010 –, segue a orientação de Gleisi e foge da imprensa quando o assunto é o parceiro de Youssef. “Ninguém mais me conhece”, desabafa o deputado. “Mas eu não tenho vocação para mártir, como o Gaievski”, avisa.