(*) Carlos Brickmann –
Um deputado estadual do PSOL paulista pede a convocação de Robson Marinho, homem-forte do Governo Covas (e hoje conselheiro do Tribunal de Contas do Estado), para depor na Assembléia sobre denúncias de formação de cartel e de propinas em obras do Metrô e trens urbanos. É justo: a Justiça suíça bloqueou US$ 1,1 milhão de conta bancária atribuída a Marinho, no Crédit Lyonnais; e promotores suíços calculam que o movimento da conta foi de US$ 2,5 milhões.
É justo convocar Marinho, para que tenha a oportunidade de defender-se e de responder a dúvidas sobre o caso. Mas será suficiente? Será que ele, por mais poderoso que tenha sido, teria condições de tomar decisões de grande alcance sem a colaboração de mais ninguém? Impossível: em política, não há quem ganhe sozinho. O correto seria ouvir todo o alto-comando do Governo Covas na área, naquela época, não apenas para buscar culpados, mas também para verificar se quem tinha a atribuição de zelar pelos contratos não falhou em exercê-la.
Não é tanta gente: Belisário dos Santos Jr., Justiça; Antônio Angarita, Governo; Yoshiaki Nakano, Fazenda; André Franco Montoro Filho, Planejamento; Plínio Assmann, Transportes; Cláudio de Sena Frederico, Transportes Metropolitanos. E, claro, os dirigentes do Metrô e da Cia. Paulista de Trens Metropolitanos.
Mudez seletiva
Há mais de um ano o caso do cartel e das propinas é jogado no colo do conselheiro Robson Marinho, e só dele. Os demais integrantes do Governo Covas, na época em que os eventos denunciados começaram a ocorrer, até agora se mantiveram em ruidoso silêncio, com a boca abertamente fechada. Não se manifestaram sequer para demonstrar solidariedade ao colega denunciado.
É como se não o conhecessem, não tivessem jamais seguido suas orientações nem sido seus companheiros de Governo, de partido e de ação política. O governador Geraldo Alckmin, diante da criação da CPI sobre Metrô e Trens Urbanos, quase citou Jair Rodrigues, numa homenagem: “Deixe que façam”.
E ele era o vice na época.
Dinheiro na mão…
Lembra quando os Correios eram uma empresa exemplar? Mas não imagine que a direção dos Correios esteja inerte diante da decadência do serviço. Não, absolutamente! Está gastando R$ 42 milhões para mudar o logotipo da empresa, tirando alguns risquinhos que faziam parte da marca. Trinta milhões, dos 42, é o investimento em propaganda na TV e no rádio. O restante será gasto principalmente na troca de placas nas agências espalhadas pelo país.
E em que isso beneficiará a eficiência do serviço? Ora, caro leitor, também não se pode querer tudo!
…é vendaval
O comando das campanhas de Aécio Neves, Dilma Rousseff e Eduardo Campos calcula os gastos eleitorais em R$ 500 milhões. Não está incluído nessa previsão o gasto dos candidatos menores. E todos fingem que o horário eleitoral gratuito é gratuito. Mas o Governo paga, em isenções às emissoras, R$ 600 milhões numa campanha nacional. E paga pela tabela cheia, com 20% de desconto – provavelmente é o segundo mais caro que a TV cobra de seus clientes.
Ninguém é de ferro
O ministro Felix Fischer, presidente do Superior Tribunal de Justiça (“O Tribunal da Cidadania”, como se intitula), determinou que, a partir de 11 de junho, véspera do início da Copa do Mundo, não haverá decisões do plenário. Os ministros só tomarão decisões monocráticas, sem participação dos demais. Como após a Copa há recesso, o plenário só volta a decidir em conjunto a partir de agosto.
OAB?
Há advogados perguntando qual a posição da OAB. Este colunista arrisca duas possibilidades: a) discutir outra coisa (quando a Polícia Federal invadiu escritórios e prendeu advogados, nenhum deles condenado, a OAB, em vez de condenar a violência, debateu o tipo de cela em que ficariam); b) silêncio obsequioso.
Shakespeare não disse
Em nenhuma obra de Shakespeare existe o trecho “ser ou não ser, eis a questão”. Shakespeare não escrevia em português. Mas, para que possamos apreciar sua obra, há traduções. E as traduções são Shakespeare.
Por que tanto escândalo, então, quando uma obra de Machado de Assis é traduzida para o português atual? Adolfo Aizen adaptou (e bem) grandes clássicos para quadrinhos; Monteiro Lobato adaptou D. Quixote e fez com que este colunista, entre tantos, fosse atraído por Cervantes (e também pelo ótimo musical O Homem de la Mancha,de Dale Wasserman, com as belas letras de Joe Darion traduzidas por Chico Buarque). Tudo o que leva o público à boa leitura é bom. Literatura não é intocável, nem sagrada. E se fosse? A Bíblia foi escrita em hebraico e aramaico, traduzida para o grego, daí para o latim, daí para o português, Continua sendo a Bíblia Sagrada.
É coisa nossa
Irena Ruggiero, 81 anos, foi atropelada e morta por um carro da Polícia em Camboriú, SC, em 2007, quando atravessava a rua na faixa de pedestres. Agora a notícia atual: a Procuradoria do Estado exige dos herdeiros de dona Irena que paguem o conserto do carro.
Não é só jabuticaba que existe apenas no Brasil.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.