Conversa fiada – O senador Roberto Requião (PMDB) elegeu-se duas vezes governador do Paraná (2002 e 2006) com a mesma bandeira: “abaixar ou acabar com o pedágio”, instituído por Jaime Lerner em 1998. Requião não reduziu o preço do pedágio e muito menos conseguiu acabar com a cobrança, mas “vendeu” ao eleitorado a imagem de adversário implacável das concessionárias de rodovias. Imagem essa que começa a ser abalada com a divulgação, por petistas ligados a Gleisi Hoffmann (que disputa com Requião vaga no segundo turno contra Beto Richa na eleição para o governo do Paraná), de uma versão bem menos heroica dessa história.
As revelações do PT se fundamentam em documentos e conclusões da nova CPI do Pedágio, em curso na Assembleia do Paraná. A mais chocante delas é de que Requião, apesar do discurso espalhafatoso, jamais foi adversário das concessionárias de rodovias. A CPI do Pedágio da Assembléia Legislativa paranaense apresentará ainda neste mês o relatório final e mostrará, segundo o PT, que a tese “baixa ou acaba”, martelada por Requião, era apenas mais discurso construído sob medida para enganar o eleitor.
Em 2004, Requião fez um aditivo ao contrato assinado por Jaime Lerner, reduzindo em 30% a tarifa da EcoCataratas. Porém, a contrapartida dada à concessionária foi muito alta. Ela foi desobrigada de realizar todas as obras de duplicação. O Ministério Público Federal investiga o tema e já aponta que os contratos de concessão de rodovias federais no Paraná foram alterados, em duas oportunidades – sem publicação em Diário Oficial ou comunicação ao governo federal – por Requião. Enquanto atacava as concessionárias, costurava “acordos secretos” lesivos ao usuário.
Em 2006, Requião fez um acordo secreto com a Caminhos do Paraná e transferiu as obras de duplicação dos 45 km ligando Guarapuava a Relógio de 2011 para 2020. Em 2008, Requião deu um presentão para a Ecovia (empresa de propriedade do grupo CR Almeida, de Marcelo Almeida, que senador quer que seja candidato a senador em sua chapa) e também mandou transferir a duplicação da rodovia PR-407, entre Paranaguá e Praia de Leste, que deveria estar pronta em 2011.
A Econorte recebeu concessões adicionais de estradas estaduais por meio de aditivos contratuais, passando de 245 km para 350 km sob sua administração. De acordo com o MPF, o usuário paga R$ 13,10 para rodar 100 km em trecho sem duplicação. A mesma empresa, compara o MPF, administra trecho de extensão semelhante em Minas Gerais e cobra R$ 2,85, além da obrigação de fazer a duplicação da pista.
Tudo não passou de discurso eleitoral embusteiro, pois na prática Requião fez acordos de coxia com as concessionárias. No contraponto, a população do Paraná continua pagando a tarifa de pedágio mais cara do País, enquanto que obras importantes, que salvariam vidas, foram canceladas, alegam os petistas.
A grande questão nessa queda de braços é que os protagonistas do litígio político têm seus respectivos telhados de vidro, mas insistem em atirar pedra um na cobertura do outro. No momento em que despencar o primeiro estilhaço, não sobrará um para narrar a epopeia, pois é grande o lamaçal que separa ambos os postulantes ao Palácio Iguaçu.