A sábia voz do passado

(*) Carlos Brickmann –

carlos_brickmann_13Flávio Costa, lendário treinador, técnico da Seleção que perdeu o Mundial de 1950, disse no século passado que o futebol do Brasil só evoluía da boca do túnel para dentro do campo. Flávio Costa tinha seus defeitos como técnico, mas conhecia o ambiente. Fora do campo, o Brasil já perdeu esta Copa. A oportunidade única de criar um país mais moderno, aquela chance que Barcelona aproveitou para se transformar numa cidade melhor, esta foi perdida. Agora só nos resta ganhar dentro do campo. Perdida a ilusão de ganhar mais que uma taça, a vitória no gramado é o único caminho. Vencer no gramado nós sabemos. Aos gols, pois.

E, ganhando ou não, apesar de tudo deve haver uma bela festa. Os estádios já estão lotados, há fila de gente querendo cavar um ingresso. Nossa Seleção é o que temos de melhor – falta Ralf, falta Gil, mas não há muito por onde melhorar.

E, principalmente, teremos o prazer de saber que Ricardo Teixeira, um dos responsáveis por trazer o Campeonato Mundial ao Brasil, não poderá assistir pessoalmente aos jogos. Seria vaiado. Hoje, pela notoriedade que conquistou, mais gente sabe mais sobre ele. E veja o caro leitor como brasileiro é bonzinho: Joana Havelange, a filha de Ricardo Teixeira, aquela que compartilhou a frase “O que tinha que ser gasto, roubado, já foi”, estará nas tribunas de honra, ao lado do alto-comando do futebol mundial, assistindo em paz às principais partidas.

Dilma deve aparecer, ao menos na abertura, mas em silêncio; talvez o público, acredita, não a veja, ou se esqueça de vaiá-la. Lula deve ver a Copa em casa.

É tradição…

Muita gente achará injusta qualquer vaia a Lula ou Dilma. Mas há uma tradição de que político, em estádio, raramente escapa dos apupos. Getúlio Vargas, popularíssimo, foi vaiado no Pacaembu. Lula foi vaiado no Maracanã. Dilma foi vaiada na abertura da Copa das Confederações (e vem sendo saudada com um obsceno grito de guerra normalmente destinado a árbitros de futebol). O único presidente que não passou despercebido e recebeu aplausos foi o ditador Médici.

…e a vida continua

Frase do jornalista Cláudio Tognolli: marcaram o início da Copa para quinta-feira, 12, mas não adiantou: o clima é de sexta-feira, 13.

Na hora de descansar…

Caro leitor, faça um teste: telefone hoje para o Senado, em Brasília, e procure qualquer Excelência. Só estarão na Capital os senadores do PMDB, que votam na Convenção Nacional para homologar ou não o apoio a Dilma. Mas também não espere encontrá-los no local de trabalho. Aí já é pedir demais.

…descansar

O Tribunal de Justiça do Rio decidiu fechar todos os fóruns do Estado por oito dias. A causa das férias é nobre, claro: a Copa. Por que oito dias?

Porque sim!

Rouba pouco é ladrão

Mais quatro funcionários de multinacionais acusadas de participação no cartel do Metrô e dos três urbanos em São Paulo foram denunciados pelo Ministério Público à Justiça. Com eles, já foram entregues aos tribunais 34 executivos de grandes empresas. As denúncias se referem ao período 1998-2008, em que o Estado foi governado por Mário Covas, Alckmin e José Serra, todos do PSDB.

Rouba muito é barão

Primeira pergunta inconveniente: terão esses executivos de multinacionais montado sozinhos o cartel, enganando os experientes governantes e driblando toda a estrutura oficial de fiscalização da moralidade administrativa? Se fizeram isso, os sucessivos Governos foram de uma incompetência absurda.

Segunda pergunta inconveniente: de 2008 até hoje, um único secretário de Estado foi apontado como participante da manobra. Um só secretário, por mais centralizador que fosse, conseguiria abocanhar todo o montante da corrupção? Ninguém notou nada, ninguém o ajudou? Seus companheiros de Secretariado, todos, seriam cegos, surdos, crédulos, bobos, incompetentes? Ou mereceriam ser investigados?

Loiro, mas negro

Difícil de acreditar? Pois é difícil de acreditar, e verdadeiro. O Projeto de Emenda Constitucional 116 reserva metade das vagas no Congresso para quem se declare negro. Voto não importa muito: o importante é a cor da pele. Aliás, nem isso, já que o que vale é a autodeclaração: qualquer descendente de suecos com cabeleira platinum blonde pode se declarar negro e ter direito a uma vaga preferencial de deputado ou senador, mesmo que não tenha votos suficientes nem para se eleger vereador de cidade pequena.

Funcionaria como na reserva de vagas em universidades para quem se declarar negro: algo como uma “discriminação positiva”, com o objetivo de reparar injustiças históricas praticadas contra os negros.

O tamanho da coisa

A Câmara dos Deputados tem hoje 513 integrantes. Metade, conforme o arredondamento do cálculo, fica entre 256 e 257 cadeiras. Há 81 senadores, três por Estado; metade, conforme o arredondamento, oscila entre 40 e 41 excelências.

Este colunista tem uma proposta melhor: que Senado e Câmara fiquem com metade dos integrantes. Vão ficar mais ágeis, mais funcionais e muito mais baratos.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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