(*) Carlos Brickmann –
Atenção, pessoal que comprou uma TV LED de alta definição, tela enorme, som surround, com toda a tecnologia de última geração, para ver o Brasil ganhar a Copa: no dia 19 de agosto começa o Horário Eleitoral Gratuito.
Gratuito para quem, cara-pálida? Para o Tesouro não é, pois deduz dos impostos das emissoras de rádio e TV o valor do tempo de propaganda – e, ao contrário do que ocorre com qualquer anunciante, que tem desconto, o Tesouro paga a tabela cheia. Para os candidatos também não: elaborar um bom programa para o horário eleitoral é caríssimo. É a principal despesa, hoje, da campanha. Para a democracia o prejuízo é maior ainda: graças ao horário eleitoral, dezenas de partidecos se formam, só para vender seu tempo aos partidos maiores. Podem receber dinheiro ou cargos no Governo. Isso explica o inchaço do número de Secretarias estaduais e Ministérios: é preciso pagar a turma que vende o tempo. Explica também as estranhíssimas alianças: em troca de alguns segundos no horário gratuito, partidos e candidatos mais fortes vendem a mãe, e entregam.
Este colunista já defendeu o horário eleitoral gratuito, em nome da democracia, por abrir a todas as correntes o acesso à divulgação de suas ideias. Hoje é contrário, em nome da democracia, por ter visto que tudo virou negócio. Pois há, além de alianças esquisitas, também partidos que não se aliam mas vendem o tempo para falar mal dos adversários de quem os comprou.
Chega de propaganda paga por nós. Quem quiser ser chato e falar besteira que pague por isso.
Caça ao tesouro
Na hora em que estiver com paciência, assista a um horário eleitoral inteiro. Em todos os programas, aparecem criancinhas felizes abraçando o candidato, há um “fala povo” (pessoas que, de maneira obviamente espontânea e gratuita, o elogiam). Se o candidato for do Governo, mostrará hospitais mais modernos que os americanos, escolas padrão FIFA com alunos delirantes de alegria, ruas bem iluminadas e de segurança máxima, onde não há roubos desde que o benemérito partido que apresenta o candidato chegou ao poder. Se o candidato for de oposição, mostrará onde seu partido fez hospitais muito melhores que os ali existentes, com escolas padrão FIFA como as que vai construir, e bandidos na cadeia.
Há outra coisa comum a todos. Se o caro leitor encontrar uma única e solitária verdade no que dizem os programas, ganha um vídeo de Alemanha 7 x Brasil 1.
Copiando!
Do portal Diário do Poder (www.diariodopoder.com.br), por Cláudio Humberto: “Trabalhar faz bem para finanças, ou pelo menos o Ministério do Trabalho parece fazer. Em 2006, Carlos Lupi tinha R$ 638 mil em bens. Após virar ministro de Lula, o patrimônio de Lupi disparou aos atuais R$ 1,2 milhão.”
Dinheiro eleitoral
O portal UOL levantou no Tribunal Superior Eleitoral quem são os dez maiores doadores de campanha eleitoral no país. Em 2010, doaram legalmente R$ 496 milhões a partidos e candidatos. Das dez empresas doadoras, sete foram investigadas, ou ainda estão sendo, por indícios de corrupção envolvendo contratos públicos. Nada mais natural, explica Gil Castelo Branco, fundador e secretário-geral da organização Contas Abertas: “Não é doação, é investimento. Existem estudos que indicam que, de cada R$ 1 doado em campanha, as empresas conseguem outros R$ 8,5 em contratos públicos”. Doadores e beneficiados estão em Eleições UOL
Gente fina é outra coisa
Dia 20, Juazeiro do Norte, Ceará. Grande festa popular em homenagem ao Padre Cícero, ruas cheias, romeiros vindos de longe. Na missa, os tucanos Aécio Neves, candidato à Presidência da República, e Tasso Jereissati, candidato ao Senado, com comitivas.
Pois não é que, na cidade superlotada, acharam um jeito de não se misturar à multidão? Conseguiram um cercadinho VIP, com cadeiras e tudo, que ninguém é de ferro. Tudo bem, eram cadeiras de plástico, indignas de um pessoal tão refinado que nem na missa se mistura, mas que se há de fazer?
Crime eleitoral
Dilma balança, mas segue como favorita para a Presidência. Não faz mal: há gente no Governo para quem vale tudo. Pelo menos onze computadores do Governo Federal, localizados no Palácio do Planalto, sede da Presidência, e no Serpro, Serviço Federal de Processamento de Dados, foram usados na campanha eleitoral, gastando o dinheiro do contribuinte, seja ele favorável ou não à candidata do PT.
De computadores oficiais saíram mudanças na Wikipédia, com retirada de menção a investigações do Ministério Público sobre irregularidades na Funasa, na época em que Alexandre Padilha era diretor de Saúde Indígena; em troca, entraram elogios a Padilha. Em 2010, a Wikipédia já tinha sido alterada por um computador oficial, que incluía informações da propaganda petista sobre intenções que atribuía ao tucano Serra de “acabar com todas as empresas estatais”.
É crime eleitoral. Mas, para descobrir quem usou os computadores, o Governo Federal precisará colaborar com as investigações, o que até agora não fez.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.