Linha de tiro – Demorou, mas o grupo Odebrecht foi incluído no escândalo que emoldura a Operação Lava-Jato, da Polícia Federal. Conforme noticia o jornal “Folha de S. Paulo” na edição desta quinta-feira (2), Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento e Refino da Petrobras, teria revelado às autoridades, durante os depoimentos decorrentes do acordo de delação premiada, que a Odebrecht seria a responsável por um pagamento no valor de US$ 23 milhões (equivalente a R$ 57 milhões), dinheiro recebido em um banco da Suíça entre 2010 e 2011.
Na época dos depósitos, Costa era responsável pela construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, a obra mais cara da Petrobras, cujo custo final está estimado em R$ 45 bilhões, contra previsão inicial de R$ 5,6 bilhões. Em consórcio com a empreiteira OAS, a Odebrecht conquistou o terceiro maior contrato de Abreu e Lima, de R$ 1,48 bilhão (valor de 2010).
A Odebrecht nega ter feito qualquer depósito em favor de Paulo Roberto Costa ou um dos seus prepostos, mas uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU), divulgada no último dia 24 de setembro, revela que a Camargo Corrêa, a Odebrecht e a OAS superfaturaram contratos na obra da refinaria Abreu e Lima em R$ 367,9 milhões.
Como era de se esperar, a empreiteira baiana não apenas negou os fatos, mas acionou a artilharia na direção da Folha. Em nota, a empresa destaca: “A Odebrecht nega veementemente ter feito qualquer pagamento ou depósito em suposta conta de qualquer diretor ou ex-diretor da Petrobras. A Odebrecht mantém, há décadas, contratos de prestação de serviços com a Petrobras, todos conquistados de acordo com a lei de licitações públicas”.
A Odebrecht e seus controladores podem alegar o que bem quiser, mas contra fatos não existem argumentos. Se confirmada a informação de que Paulo Roberto Costa citou a empreiteira em um dos seus depoimentos, como forma de reduzir eventual pena condenatória, a Odebrecht terá muito a explicar às autoridades. Aliás, não custa lembrar que Marcelo Odebrecht, presidente do grupo, disse em recente entrevista que é a favor da ingerência da iniciativa privada no Poder Executivo. O que explica a nefasta proximidade do grupo com o Palácio do Planalto.
Mais adiante, ainda na nota divulgada em resposta à matéria jornalística, a Odebrecht conclui: “Neste sentido, é de estranhar a postura da Folha, que contradiz a cautela’ com supostos vazamentos de informações inverídicas em procedimentos de delação premiada, recomendada pelo editorial do jornal (Petrobras como prêmio’), publicado no último dia 9 de setembro”.
Problema maior
A grande questão é que nos desdobramentos da Operação Lava-Jato o grupo Odebrecht terá muito a explicar sobre o processo de expropriação da Petroquímica Triunfo, que na esteira de operação bisonha passou a integrar os negócios da Braskem, empresa do conglomerado baiano.
Para que os leitores compreendam a estranha manobra, que desrespeitou os direitos do empresário Boris Gorentzvaig (já falecido), então sócio da Triunfo, o setor petroquímico nacional é quase um monopólio do grupo Odebrecht. Isso porque o então presidente Lula quis assim, Dilma pressionou para que isso acontecesse dessa forma e Paulo Roberto Costa deu tratos às ordens palacianas.
No embalo das matérias do ucho.info sobre o estranho domínio da Odebrecht no setor petroquímico e a criminosa expropriação da Triunfo, o Ministério Público Federal decidiu abrir inquérito, no escopo da Lava-Jato, para investigar o caso. Sempre lembrando que as autoridades aproveitaram os muitos depoimentos de Costa para esclarecer dúvidas sobre o assunto.
No momento em que os sucessores de Boris Gorentzvaig abrirem a caixa de Pandora, o castelo de virtudes (sic) da Odebrecht deve ruir. Questão de tempo!