(*) Carlos Brickmann –
Nas investigações do Petrolão, há um falso problema; um problema real, sério; e o esboço de uma solução para – adivinhe! – o falso problema.
O problema real é que as principais empreiteiras do país estão sob fogo. E nós com isso? O caso é que estas são as empresas nacionais com capacidade para grandes obras, no Brasil e no Exterior. Se forem declaradas inidôneas, se a suspeita prejudicá-las em concorrências, o país terá de contratar firmas estrangeiras, desperdiçando know-how nacional e desmontando um setor que, tecnicamente, funciona bem desde o Governo JK. E quem garante que empreiteiras de fora terão comportamento diferente das nacionais, se intimadas a pagar ou perder?
Solução? Este colunista não tem a menor ideia. Se houve ilegalidades, tem de haver processos; se houver condenações, têm de ser cumpridas, na forma estrita da lei. Como conciliar essa necessidade imperiosa com a preservação do que há de bom nas empresas? Quem souber, quem tiver alguma ideia, que se manifeste.
O problema falso é evitar que o escândalo do Petrolão prejudique o Governo e seu partido. O problema é falso porque ninguém tem nada com isso: quem se beneficiou de malfeitos que responda por eles – inclusive eleitoralmente, se for o caso.
Mas é para o falso problema que o Governo Federal busca uma solução: convencido de que a Polícia Federal tomou o freio nos dentes, busca enquadrá-la com medida provisória que beneficia delegados e prejudica agentes. Pode ser pior: os agentes da Federal articulam uma grande greve para os próximos dias.
O que sai da boca…
O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, sugeriu à população que reaja à alta de preços trocando a carne por ovos. A inovação pode render um estrogonovo; mas ficaria difícil fazer um ovo a cavalo.
…o que entra na boca
O programa eleitoral do PT defendeu o secretário, e disse que, no tempo dos tucanos, povo só comia carne se mordesse a língua. E agora, que mandaram comer ovos? Antes, que é que o povo tinha de fazer para botar ovos na boca?
Tudo junto…
O ex-presidente nacional do PSB, Roberto Amaral, disse que ao apoiar Aécio o partido jogou fora um trabalho de anos de construção de um grande partido de esquerda. O novo presidente do partido, Carlos Siqueira, que conduziu o partido á aliança com Aécio, era o homem de confiança do falecido governador Miguel Arraes, até hoje reverenciado em Pernambuco, fundador e símbolo do moderno PSB, avô de Eduardo Campos. A viúva de Campos, Renata, amiga de Marina Silva, apoia Aécio e tem total confiança em Siqueira. Marina detesta Siqueira.
…e misturado
Só PSB? Não! Junior Friboi, amigo de Lula, forte doador de campanha do PT, integrante do PMDB de Goiás, decidiu apoiar no segundo turno o candidato que Lula detesta, Marconi Perillo, do PSDB; bateu duro no rival de Marconi, Iris Rezende, candidato de seu partido, o PMDB; anunciou que, depois das eleições, levará adiante seu projeto político, que inclui o PMDB e exclui Íris.
Lembrando: quem levou Junior Friboi ao PMDB foi Lula. O partido lhe garantiu a candidatura ao Governo. Esqueceram de combinar com Íris. Junior Friboi, que convenceu o rei Roberto Carlos a comer carne, não convenceu o cacique Íris Rezende a largar o osso. Íris terá cacife no PMDB para trocar a carne Friboi por ovo?
Em nome do filho
Jefferson Lima, radialista, 39 anos. Foi candidato ao Senado pelo Pará e teve mais de 700 mil votos. Ficou em segundo, derrotado pelo petista Paulo Rocha, e à frente do tucano Mário Couto, candidato à reeleição, nome nacional. Por que teve tantos votos? Jefferson centrou sua campanha num ponto: de todos os candidatos, era o único ficha limpa. Pois bem: no segundo turno, decidiu apoiar para o Governo o filho do famoso Jáder Barbalho, Helder, do PMDB, apoiado pelo PT e por Dilma.
Terremoto: sua esposa Michelle foi a primeira a condenar sua atitude. “Não compactuo com isso, estou chocada, envergonhada… não concordo e não apoio”, escreveu no Instagram. E disse que espera que seu filho “não siga o mau exemplo do pai”.
Jefferson Lima. Um nome a ser guardado com carinho.
O homem que acreditava
Por que o ficha-limpa Jefferson Lima decidiu apoiar Hélder Barbalho? Dizem que lhe foi prometida a legenda do PMDB para candidatar-se a prefeito de Belém. Dizem também que o PMDB lhe prometeu que não teria de se preocupar com os custos da campanha. E dizem também que ele acreditou nas promessas.
Prepare seu coração
Hoje, no Jornal Nacional, as pesquisas Ibope e Datafolha.
Adeus, amigo
Certa vez, uma indústria de produzir câncer decidiu nos processar – Marli Gonçalves e eu. Escolheu, para o processo, o local onde conhecia todo mundo, e que era distante para os réus. Quem nos acompanhou a Duque de Caxias, numa longa viagem de carro, foi o dr. Antônio Carlos Barros. E lá derrotou os fabricantes de câncer. Antônio Carlos, ótimo advogado, morreu há pouco. Já faz falta.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.