Deem ovos ao povo

(*) Maria Lucia Victor Barbosa –

maria_lucia_07As espirais da vida, em que pese repetirem através da história a essência da humanidade e seus comportamentos, muitas vezes desnorteiam e apontam para desfechos inesperados. É como se atirássemos em algo e acertássemos em outro. E isso acontece porque, como ensinou Nicolau Maquiavel, temos a tendência de imaginar as coisas como queremos que sejam e não como elas são. Por exemplo, não é incomum ocorrer frustrações em negócios provavelmente promissores, em previsões de economistas e videntes que dificilmente dão certo, em expectativas com relação a pessoas que pareciam uma coisa e reagiram de outro modo.

Evidentemente, as espirais ou constantes que vem e vão através dos fatos podem ser manipuladas, forjadas para apontar artificialmente em certas direções e, assim, manejar aspirações e sentimentos. Nesse aspecto se distingue o poder político, especialmente o governamental, que é capaz de forma eficiente de utilizar técnicas de manipulação e táticas de convencimento da opinião publica.

Campanhas são momentos privilegiados em que as técnicas e táticas se evidenciam com vigor. O marketing, então, se torna preciosa arte de construir imagens que agradem aos eleitores e marqueteiros ensinam candidatos a falar, a se expressar corporalmente, a se comportar e, sobretudo, a representar no palco iluminado da política.

No caso do PT, além de se orientar pelo marqueteiro funciona com seu próprio modo de ser e sempre utilizou as seguintes táticas: a mentira, a intimidação, a repetição como mantras de certas ideias como aquelas que denigrem o oponente, a atribuição aos outros dos próprios erros, o incitamento ao ódio entre ricos e pobres e entre negros e brancos, o posicionamento petista como único capaz de proteger e salvar os pobres e oprimidos. Enfim, petistas são maniqueístas: nós somos o bons, os demais são ruins.

E tem as pesquisas usadas como táticas de campanha, que também podem induzir e confundir eleitores. Nesta eleição ficou evidente no primeiro turno que os grandes institutos erraram feio e muito. Naturalmente, eles se defendem, mas tudo indica que se confirmaram as palavras do ministro e estadista inglês de origem judaica, Disraeli: “a estatística é uma forma nobre de mentira”.

Façamos, então, um pequeno cálculo com relação ao primeiro turno para ver se o inglês tinha razão.

A última pesquisa IBOPE/TV Globo e Estadão de 04/10 mostrava o seguinte resultado:

Dilma 40%
Aécio 24%
Marina 21%

A pesquisa Datafolha/Jornal Folha de S. Paulo e TV Globo na mesma data apontava para:

Dilma, 40%
Aécio 24%
Marina 22%

Pois bem, 142.822.046 foi o total de votantes. 104.023.802 foram os votos válidos, ou seja, 38.798.244 brasileiros votaram em branco, anularam o voto ou se abstiveram de votar, o que significa 27,17% dos votos válidos.

De acordo com os votos válidos, 104.023.802, tivemos a seguinte situação pelo TSE:

Dilma teve 43.267.668 votos, que representam 41,59% dos votos válidos.
Aécio teve 34.897.211 votos que representam 33,55% dos votos válidos.
Marina teve 22.176.619 votos que representam 21,32% dos votos válidos.

Tomando em consideração o total de votantes, 142.822.046, que é base de cálculo dos institutos de pesquisa teremos o seguinte resultado:

Dilma teve 43.267.668 votos que representam 30,29% do total de votos.
Aécio teve 34.897.211 votos, que representam 24,43% do total de votos.
Marina teve 22.176.619 dos votos que representam 15,53% do total dos votos.

Como se vê, as pesquisas erraram muito. Mas deixemos a aridez dos cálculos onde se utilizou a regra três e vejamos algumas notícias da economia:

O Estado de S. Paulo – 30/08/2014: investimento e indústria afundam e o Brasil entra em recessão.
O Estado de S. Paulo – 11/09/2014: prévia da FGV indica piora no emprego.
Folha de S. Paulo – 01/10/2014: economia do governo desaba para 10% da meta deste ano.
O Estado de S. Paulo – 09/10/2014: com a inflação tendo atingido 6,75% em doze meses o secretário de Política econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, recomendou ontem o seguinte: “os brasileiros tem uma série de outros produtos substitutos para a carne, como frangos e ovos, que vêm representando comportamento benigno este ano”.

Na Revolução Francesa, a rainha Maria Antonieta mandou dar brioche ao povo que pedia pão e acabou guilhotinada. As espirais da história às vezes se repetem com outras formas e com sinais trocados, mas sempre com a mesma essência humana. A presidente/candidata que se cuide.

(*) Maria Lucia Victor Barbosa é escritora e socióloga. (www.maluvibar.blogspot.com.br)

apoio_04