Morre, aos 97 anos, o poeta Manoel de Barros

manoel_debarros_01Minuto de silêncio – Foi anunciada nesta quinta-feira (13) a morte do poeta Manoel de Barros em Campo Grande, aos 97 anos, após ficar internado por duas semanas no Proncor da cidade. Nascido em Cuiabá em 1916, o autor era o grande veterano da poesia brasileira do século XX ainda vivo.

Ele publicou 28 livros em mais de 70 anos de carreira – sua “Poesia Completa” foi lançada em 2010. Premiado com o Jabuti duas vezes, com as coletâneas “O guardador de águas” (1989) e “O fazedor de amanhecer” (2001), Manoel de Barros foi também homenageado pela Academia Brasileira de Letras no ano 2000.

Carreira singular

O poeta teve uma das carreiras mais singulares e, de certa forma, tardias da poesia do século XX. Estreou em livro em 1937, com o volume “Poemas concebidos sem pecado”, mas não surpreende que o livro não tenha causado estardalhaço, com uma tiragem minúscula de apenas 20 exemplares. O volume seria seguido por “Face imóvel” (1942), “Poesia” (1956), e “Compêndio para uso dos pássaros” (1960). Foi contemporâneo, portanto, da segunda geração modernista, de poetas e autores como Vinícius de Moraes (que estreou em 1933) e Lúcio Cardoso (estreado em 1934). Produziu sua obra paralela à de todos os grandes modernistas.

Foi apenas com “Gramática expositiva do chão” (1966) que seu trabalho passou a ser notado. No entanto, nada se compara à popularidade que passou a ter a partir de meados da década de 1980, após Millôr Fernandes chamar a atenção do público para o trabalho do poeta mato-grossense. Os livros daquela década – “Arranjos para assobio” (1980), “Livro de pré-coisas” (1985) e “O guardador das águas” (1989) – atingiriam um público mais amplo.

Em 1990, sua poesia até então foi reunida em “Gramática expositiva do chão: Poesia quase toda”, e, com o famoso “O livro das ignorãças” (1993), transforma-se no poeta mais popular do país. Seus livros passaram a ter tiragens surpreendentes, para poesia, e cada volume era aguardado por um número crescente de admiradores. E os volumes passaram a aparecer em intervalos regulares, como “Livro sobre nada” (1996), “Retrato do artista quando coisa” (1998), “Exercícios de ser criança” (2000) e “Tratado geral das grandezas do ínfimo” (2001), entre outros.

Fazedor de leitores

Seu trabalho, que linguagem simples e um estado de constante assombro perante o mundo, teve um papel importante na formação de novos leitores de poesia na década de 1990. Nos Estados Unidos, onde foi traduzido por Idra Novey em uma antologia intitulada “Birds for a demolition” e lançada em 2010 pela Carnegie Mellon University Press, o poeta foi conectado ao trabalho de surrealistas e recebeu resenhas elogiosas. Foi ainda traduzido para o alemão e o catalão.

Não surpreende a leitura surrealista feita pelos americanos. Certamente, no Brasil, um antecedente seu em termos de linguagem poética foi Murilo Mendes (1901-1975), e sua atenção ao misterioso poder metafórico da fala popular já foi comparada à de João Guimarães Rosa (1908-1967).

Manoel de Barros escreveu: “Não preciso do fim para chegar / Do lugar onde estou já fui embora”, e estas são palavras aptas para encerrar outro obituário de um autor brasileiro, neste ano de perdas inumeráveis. (DW)

apoio_04