Pela tangente – Demorou, mas acabou acontecendo. A conhecida soberba do senado José Agripino Maia (RN) desmoronou no vácuo de um polêmico depoimento ao Ministério Público potiguar. Resta saber se o partido seguirá o mesmo caminho adotado em escândalos anteriores, como o de José Roberto Arruda (ex-governador do DF) e João Batista Ramos (ex-deputado federal flagrado com malas de dinheiro em jato particular), ambos expulsos do partido.
José Agripino foi acusado pelo advogado George Olímpio de exigir R$ 1 milhão para sua campanha ao Senado, em 2010. De acordo com o depoente, a doação foi viabilizada com a “ajuda” de um agiota indicado por Agripino Maia. Em depoimento prestado ao MP do Rio Grande do Norte à sombra de acordo de delação premiada, George Olímpio revelou detalhes de um suposto esquema de corrupção no DETRAN potiguar.
Aos procuradores, o advogado disse ter recebido, em setembro de 2010, do ex-deputado João Faustino uma pesquisa interna do Democratas na qual Rosalba Ciarlini liderava a disputa pelo governo do estado. “Iberê era governador. João Faustino me apresentou uma pesquisa interna com Rosalba na frente e disse que se preocupou com o assunto da inspeção (veicular). Ele disse que era importante falar com José Agripino. De lá mesmo ele ligou pra Zé Agripino e marcou um café da manhã no apartamento de Zé Agripino”, detalhou Olímpio.
“Chegamos lá, subimos para a parte de cima do apartamento, tem uma piscina, uma área aberta e o escritório dele. Começamos a conversar e ele disse que a informação era que eu tinha dado R$ 5 milhões para a campanha de Iberê. Eu disse a ele que eu não tinha esse dinheiro e estava no meio da construção dos equipamentos e não tinha nem condições de dar esse dinheiro. Eu disse que dei R$ 1 milhão a Iberê, e ele perguntou como eu poderia participar da campanha deles”, completou o advogado.
A partir de então, de acordo com as declarações prestadas ao MP, iniciou-se uma negociação na qual George Olímpio disse ter condições de dar R$ 200 mil à campanha do senador. “Eu também não queria perder aquele elo, porque pra mim aquilo foi um aviso muito claro: ou você participa da nossa campanha ou você perde a inspeção. Foi uma forma muito sutil, mas uma forma de chantagem. Eu tinha esse dinheiro no cofre do meu escritório. Eu saí de lá, peguei esses duzentos mil e voltei. Eu disse a ele que poderia dar mais R$ 100 mil na próxima semana e ele falou – ‘aí vai faltar R$ 700 mil pra você dar a mesma coisa que você deu pra campanha de Iberê”, revelou o advogado.
Ainda de acordo com o depoimento, José Agripino teria informado que contatar um amigo, o qual emprestaria R$ 400 mil a George Olímpio para que ele desse o dinheiro. “Eu peguei R$ 400 mil emprestados com Marcílio Carrilho, que hoje é presidente do Democratas municipal de Natal, com cheques meu ou do consórcio, para garantir. Paguei todo mês, a partir de outubro de 2010 a fevereiro de 2011, R$ 16 mil de juros. E ele disse ainda que ligaria para Ximbica (José Bezerra Júnior, ex-suplente de senador) para conseguir os outros R$ 300 mil. No outro dia ele marcou. Eu, ele (José Agripino) e Ximbica nos encontramos e eu peguei o dinheiro a juros também. Acho que era R$ 9 mil por mês de juros”, relatou o advogado.
George Olímpio disse também que no momento em que a inspeção veicular no RN foi suspensa e anulada, João Faustino assumiu a dívida com Marcílio Carrilho e Ximbica. “Eu não tinha como pagar essa dívida sem a inspeção rodando”, afirmou.
Desculpa de sempre
Em nota, o senador José Agripino Maia afirmou desconhecer “o teor da suposta acusação”. “Estaria eu sendo objeto de denúncia de igual teor à que a Procuradoria-Geral da República já teria apurado e arquivado? Por que razão estes fatos, que não são novos, estariam sendo retomados neste momento?”, questionou o parlamentar.
Com base na Constituição federal de 1988, que abriga com clareza o instituto da presunção da inocência, José Agripino não pode ser considerado culpado, pois as investigações e os processos ainda estão em curso, mas não pode ser declarado inocente, pois do contrário o acordo de delação premiada firmado por George Olímpio com o MP já teria sido desfeito. Ou seja, os procuradores no mínimo conseguiram provas referentes às denúncias feitas pelo advogado.
Deflagrada em 2011, a Operação Sinal Fechado apurou fraudes envolvendo o DETRAN do Rio Grande do Norte e detectou que George Olímpio era o mentor do esquema que desviava recursos do órgão. Na ocasião, doze pessoas foram presas, entre elas o próprio Olímpio, e outras 27 foram denunciadas pelo Ministério Público. E a Justiça do RN acatou de pronto a denúncia.
Em agosto de 2014, blindado pelo acordo de delação premiada, George Olímpio prestou depoimento ao MP e revelou novos detalhes do esquema criminoso. Na última sexta-feira (20), a delação premiada alcançou o deputado estadual Ezequiel Ferreira de Souza (PMDB), presidente da Assembleia Legislativa do RN, que, de acordo com o MP, teria recebido R$ 300 mil para acelerar no Legislativo potiguar a aprovação da lei que estabelece as bases da inspeção veicular no estado.
Como sempre afirma o UCHO.INFO, política, independentemente da bandeira partidária, é negócio milionário e seleto. Para se chegar a posições de destaque no cenário político nacional é preciso muito dinheiro, sendo que os recursos nem sempre têm origem confiável e lícita.
Não se trata de acusar antecipadamente esse ou aquele parlamentar, mas, sim, de reconhecer como funciona a política em seus bastidores. José Agripino Maia deve ao povo do Rio Grande do Norte muito mais do que uma simples nota distribuída à imprensa, mas provas incontestáveis de sua alegada inocência, pois diz o ditado popular que à mulher de César não basta ser honesta, mas parecer como tal. E vice-versa.