Fila da degola – Se oficialmente a presidente Dilma Rousseff declarou que não acredita que o indiciamento do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, tenha reflexos sobre o governo, no backstage o partido já prepara uma estratégia para ficar longe do responsável pelas finanças petistas.
Segundo apurou o jornal “O Estado de S. Paulo”, tanto o governo quanto a cúpula do PT pressionam Vaccari Neto a deixar o cargo o quanto antes, pois assim mais cedo pode aliviar a pressão sobre a legenda e o governo. Alguns dirigentes do partido confirmam que a situação de Vaccari é “insustentável”. É a mesma estratégia adotada em 2005, no Mensalão do PT, quando o partido expulsou o tesoureiro Delúbio Soares na tentativa de amansar a opinião pública. Vale lembrar que em julho de 2011 o ex-tesoureiro foi readmitido nos quadros partidários, mas o mensaleiro acabou condenado por corrupção ativa na Ação Penal 470, pelo Supremo Tribunal Federal, e atualmente cumpre pena em regime aberto.
Investigado na Operação Lava -Jato, da Polícia Federal, Vaccari foi denunciado pelo Ministério Público à Justiça pelos crimes de lavagem de dinheiro, corrupção e formação de quadrilha. As investigações apontam que ele intermediou doações de R$ 4,2 milhões de empresas investigadas, mas, na verdade, os recursos eram oriundos do Petrolão, o maior escândalo de corrupção de todos os tempos. Ao todo foram 24 repasses de empreiteiras, em dezoito meses, no período de 2008 a 2010.
João Vaccari Neto foi um dos citados nos depoimentos do doleiro Alberto Youssef; do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa; e do ex-gerente de Serviços da estatal, Pedro Barusco. Todos mencionaram o tesoureiro do PT como responsável por receber propina em nome do partido.
Barusco ainda afirmou que o tesoureiro recebeu aproximadamente US$ 50 milhões entre 2003 e 2013, assim como enfatizou que o valor desviado para o PT, também com a participação de Vaccari, chegou a US$ 200 milhões. Foi Barusco quem decifrou para os investigadores o significado da palavra “Moch”, que aparecia nas planilhas detalhando a divisão do dinheiro. Trata-se de uma menção ao apelido de Vaccari – “mochila”, um acessório que ele sempre carrega.
Os petistas que pedem o afastamento do tesoureiro querem evitar o aumento do desgaste tanto do partido quanto da presidente Dilma ROusseff. E até mesmo quem apoia Vaccari dentro da legenda acredita que ele precisa se afastar para garantir a própria defesa.
O advogado de Vaccari, Luiz Flávio Borges D’Urso, divulgou nota negando que o petista tenha solicitado dinheiro para campanhas eleitorais do PT. Ele disse que seu cliente “repudia as referências feitas por delatores a seu respeito, pois não correspondem à verdade”.
O mais interessante nessa história é que o tesoureiro petista contratou um dos melhores criminalistas do País, sendo que os honorários dessa empreitada não são menores do que R$ 3 milhões. Há um detalhe que deve ser ressaltado nesse estranho e milionário episódio: a legislação eleitoral não permite que partidos políticos utilizem recursos do fundo partidário para contratar advogados com o intuito de defender integrantes das legendas. Isso significa que o PT está colocando a mão no bolso, talvez no imundo caixa 2, para salvar a “companheirada”. Assim como fez à época do escândalo do Mensalão. (Por Danielle Cabral Távora)