Dois pesos – Quando o UCHO.INFO afirmou que a nova CPI da Petrobras era desnecessária e serviria para atender aos interesses político-eleitorais dos integrantes da comissão, muitos foram o que nos dedicaram críticas, mas é preciso acompanhar com atenção todos os passos do colegiado.
No momento em que a política nacional experimenta um elevado nível de descrédito, o mínimo que os parlamentares deveriam fazer, em nome do País e dos cidadãos, é agir com coerência, mercadoria cada vez mais em falta no Parlamento brasileiro.
Com as eleições municipais de 2016 já despontando no calendário político do País, as CPIs são o palco dos sonhos de nove entre dez parlamentares, que aproveitam os holofotes da imprensa para ganhar doses extras de visibilidade.
Deputada federal pelo PPS do Maranhão e de olho na prefeitura de São Luís, capital do estado, Eliziane Gama parece que desconhece o significado da palavra coerência. E se conhece está agindo de forma nada republicana. Integrante da CPI da Petrobras, onde vem atuando à sombra de um binômio que mescla desenvoltura parlamentar com ambição política, Eliziane apresentou requerimento de convocação de Erenice Guerra, ex-chefe da Casa Civil, que integrou o Conselho Fiscal da companhia petrolífera entre 2006 e 2008.
Conhecido nas esferas do poder como pessoa de confiança da presidente Dilma Rousseff e ligada ao mensaleiro condenado José Dirceu, Erenice foi alertada em 2007 por um advogado da Petrobras, Claudismar Zupirolli, sobre o fato de o Tribunal de Contas da União (TCU) ter, à época, aumentado o rigor sobre a companhia por uso abusivo de decreto presidencial que permite gastos sem licitação.
De acordo com notícias veiculadas na imprensa, o advogado enviou e-mail em que, em dado trecho, informava à então assessora de Dilma sobre um “voa barata” entre os gestores da Petrobras, que estavam “com medo do recrudescimento do tribunal em cima deles”, por causa das contratações sem licitação.
O alerta dado à Erenice coincide com o período citado pelo ex-gerente da Petrobras, Pedro Barusco, como sendo o início da institucionalização da cobrança de propina na Petrobras. De acordo com Barusco, a corrupção foi sistêmica e institucionalizada, a partir de 2004.
A incoerência de Eliziane Gama não está em querer convocar a ex-ministra-chefe da Casa Civil, mas, sim, na não convocação de Edison Lobão, senador e ex-ministro de Minas e Energia, e Roseana Sarney, ex-governadora do Maranhão. Lobão e Roseana tiveram os nomes inseridos na fatídica lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e são alvo de inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal por suposto envolvimento no Petrolão, o maior escândalo de corrupção da história.
Como mencionado anteriormente, Eliziane Gama é candidata à prefeitura da capital maranhense e para manter seu projeto político em marcha não pode ter na contramão a peçonha dos clãs Lobão e Sarney. Ou seja, Eliziane Gama está disposta a investigar a roubalheira na Petrobras, desde que seu projeto político não sofra qualquer solavanco.