Presidente da Andrade Gutierrez confirma “relações institucionais” com caciques do PMDB

(Cassiano Rosário - Futura Press - Estadão)
(Cassiano Rosário – Futura Press – Estadão)
Fala que eu te escuto – O lobista Fernando Soares, mais conhecido como Fernando Baiano, apontado na Operação Lava-Jato como operador do PMDB no Petrolão, o maior escândalo de corrupção da história, pediu a Otávio Marques de Azevedo, presidente da Andrade Gutierrez, doações para campanhas eleitorais. A revelação é do próprio Azevedo e consta de depoimento, em maio, à Polícia Federal, na condição de testemunha nos processos contra os ex-deputados João Pizzolati e Roberto Teixeira.

No interrogatório, o executivo não soube informar se o dinheiro seria destinado ao PMDB e ainda afirmou que a doação não foi consolidada porque a empresa tem política específica de doações eleitorais: não aceita intermediários. Otávio Azevedo negou envolvimento no processo de arrecadação eleitoral do senador petista Lindbergh Faria (PT-RJ).

O empresário confirmou ter “relação institucional” com peemedebistas, como o vice-presidente da República, Michel Temer; o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha; o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho; o atual prefeito do Rio, Eduardo Paes; e o ministro da Secretaria de Aviação Civil, Eliseu Padilha, porém negou que a empreiteira faça parte do chamado “Clube do Bilhão” – grupo de construtoras acusado de fraudar contratos com a Petrobras e distribuir propina a políticos.

O presidente da Andrade Gutierrez deve prestar novo depoimento a partir da próxima quinta-feira (25), na Polícia Federal, em Curitiba. Ele foi preso na Operação Erga Omnes, décima quarta fase da Operação Lava-Jato, juntamente com o presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, e outras dez pessoas.

De acordo com Azevedo, ele foi apresentado ao lobista Fernando Baiano por volta de 2010, mas só soube de quem se tratava realmente após o estouro da Operação Lava-Jato, em março de 2014. Segundo o principal executivo da Andrade Gutierrez, o operador Fernando Baiano esteve em quatro ocasiões no escritório da empreiteira “propondo parcerias para obras de infraestrutura”. O Azevedo negou, entretanto, ter conhecimento do sistema de arrecadação de propinas orquestrado por Baiano e afirmou ser “mentira” a acusação feita pelo doleiro Alberto Youssef, de que o lobista teria ido buscar R$ 1,5 milhão em propina na sede da empreiteira.

Antes do depoimento, o executivo apresentou à PF, em Curitiba, documentos sobre a venda de uma lancha, no valor de R$ 1,5 milhão, para Fernando Baiano. A transação é considerada suspeita pelos investigadores, que usam a compra como um indício da proximidade entre o presidente da Andrade Gutierrez e o lobista. Azevedo nega ter uma relação próxima com Fernando Baiano e também rejeita haver irregularidades no episódio de compra e venda da lancha.

É importante frisar que a Constituição federal garante, de forma inconteste, a presunção de inocência até o trânsito em julgado de sentença condenatória, mas não se pode esquecer que o efeito do cerceamento da liberdade é devastador. Isso significa que a prisão preventiva decretada pelo juiz federal Sérgio Fernando Moro, responsável pelos processos decorrentes da Lava-Jato, pode levar os investigados à delação premiada, principalmente se os advogados conseguirem prever a dosimetria de eventual pena. De tal modo, no vácuo desse cenário, muitas novas revelações poderão surgir a qualquer momento. (Danielle Cabral Távora)

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