Em crise, São Paulo Futebol Clube antecipa verba de patrocinador e já teme penhora

spfc_06Penúria financeira – Em meio a um momento financeiro delicado do São Paulo FC, parte da diretoria tricolor teme que o clube não consiga amortizar as dívidas bancárias a partir de novembro e sofra com penhora de bens por execução de dívidas. O clube do Morumbi inclusive já antecipou recebíveis da Under Armour.

Os problemas financeiros no SPFC começaram ainda na gestão do ex-presidente Juvenal Juvêncio. O atual presidente Carlos Miguel Aidar, via departamento de comunicação, afirmou que de fato houve adiantamento de receita do contrato com a empresa norte-americana, e que até agora já recebeu R$ 20 milhões do contrato.

Entretanto, outra ala da diretoria diz que o São Paulo já recebeu R$ 25 milhões em verba da Under Armour, valor que corresponde a 20% do total do contrato. A empresa iniciou parceria com o clube em maio, mas ainda em dezembro pagou R$ 6 milhões de luvas e R$ 10 milhões adiantados do primeiro ano de contrato.

O acordo está avaliado em R$ 122 milhões e tem duração de cinco anos, até maio de 2020, e prevê o pagamento de R$ 15 milhões por ano, divididos em quatro parcelas, mais R$ 8,2 milhões anuais em material, além das luvas.

O departamento de comunicação do São Paulo argumenta que o valor recebido até aqui, de R$ 20 milhões, corresponde a apenas 10% do total do contrato com a Under Armour, que seria de R$ 200 milhões. Porém, o tricolor já admitiu que renegocia o contrato de comissão assinado com a Far East, intermediária do negócio, avaliado em R$ 18,3 milhões, que corresponde aos exatos 15% do montante de R$ 122 milhões totais do acordo com a Under Armour.

De acordo com dirigentes do clube, foi a antecipação de receita do contrato da norte-americana que permitiu que o São Paulo quitasse a dívida de quatro meses de direitos de imagem atrasados com o elenco de jogadores.

Apesar disso, o vice-presidente de futebol, Ataíde Gil Guerreiro, afirmou não saber como o dinheiro havia entrado no caixa do clube: “Não estou a par disso. Isso é melhor falar com o Osvaldo [Vieira de Abreu, vice-presidente de administração e finanças]. Ele me liberou e paguei os jogadores. O recurso, pelo que ele me falou, foi operacional normal do clube”, disse.

O departamento de comunicação do São Paulo também afirmou que no início deste ano o clube registrou déficit de R$ 14 milhões mensais e que isso já foi reduzido para R$ 7 milhões mensais. No entanto, outra parte da diretoria afirma que o clube opera atualmente com arrecadação mensal de R$ 18 milhões e despesa de R$ 33 milhões, o que resulta em déficit mensal de R$ 15 milhões.

A situação difícil preocupa principalmente em relação às dívidas bancárias. Segundo a diretoria, o clube paga cerca de R$ 8 milhões por mês entre amortizações e encargos do endividamento com bancos e teme que a partir de novembro não consiga pagar, mesmo imaginando que vá receber pelo menos 5 milhões de euros (R$ 18,9 milhões) pela venda do meia Gabriel Boschilia ao Monaco, da França.

Dentro do Morumbi, o discurso, por enquanto, é que a dívida é administrável e o problema é fluxo de caixa. A possibilidade de sofrer penhoras por descumprimento de pagamento a instituições bancárias também não afetaria o clube de imediato: o processo judicial levaria pelo menos um ano, na visão do São Paulo, para ser concluído.

Parte da diretoria vê como única solução para a situação do São Paulo a reforma de gestão nos moldes discutidos até agora e conforme sugeridos pelo empresário Abílio Diniz em reunião do conselho deliberativo no final de julho, que seria a criação de um conselho de administração, a ser presidido pelo presidente do clube, que se afastaria das funções executivas, assim como seus vice-presidentes que passariam a integrar o conselho de administração e teriam cada departamento profissionalizado com a contratação de pelo menos quatro executivos.

Assim, na visão desta parte da diretoria, o São Paulo passaria a ter – como clube-empresa – um certificado de credibilidade que permitiria a renegociação das dívidas bancárias, além de viabilizar a criação de um fundo de investimento. (Danielle Cabral Távora)

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