Notícia sobre pedido de prisão de Lula causa euforia em Portugal e temor em alguns políticos locais

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Apresentado pelo Ministério Público de São Paulo à Justiça, o pedido de prisão preventiva de Lula repercutiu na imprensa internacional com impressionante rapidez. Muitos brasileiros ainda não sabiam do fato, mas do outro lado do Atlântico os portugueses comentavam o assunto como rastilho de pólvora.

Lula, visto com muita desconfiança na terra de Camões e Fernando Pessoa, é alvo de investigações envolvendo o ex-primeiro ministro português José Sócrates de Sousa, preso na Operação Marquês, mas agora em liberdade, obviamente vigiada.

Em 22 de julho de 2015, o jornal português Correio da Manhã publicou matéria que não apenas pode elucidar um escândalo transnacional, mas mostra os elos entre as operações Marquês e Lava-Jato.

A reportagem do diário lisboeta destacou que o veto do então primeiro-ministro José Sócrates à venda da participação da Portugal Telecom na Vivo à espanhola Telefônica inflacionou o negócio em aproximadamente em 1 bilhão de euros. Ou seja, dinheiro aos bolhões em qualquer parte do universo. O CM ressaltou à época, com muita propriedade, que a intervenção de Sócrates “ditou, em troca, a entrada da Portugal Telecom na brasileira Oi”.

As autoridades portuguesas suspeitam que a manobra espúria foi combinada com antecedência e requintes mafiosos entre Lula e José Sócrates, como forma de garantir milionárias propinas às autoridades de ambos os países. Se os investigadores portugueses conheciam à época da reportagem o valor da “comissão” não se sabe, mas a força-tarefa da Lava-Jato estimou em cerca de 200 milhões de euros, algo como R$ 1 bilhão.

As autoridades de Portugal anunciaram que fariam uma devassa nas contas bancárias de Carlos Santos Silva, o “testa de ferro” de José Sócrates, com o objetivo de apurar o montante que foi parar no bolso do então primeiro-ministro.

O ponto de conexão entre as operações Marquês e Lava-Jato é o cartel de empreiteiras que agiu criminosamente, ao longo de uma década, na Petrobras. Um dos principais delatores do Petrolão, o maior escândalo de corrupção da História, o empreiteiro Ricardo Pessoa (dono da UTC) detalhou o funcionamento do esquema de desvio de dinheiro da petroleira nacional, do qual participaram a Andrade Gutierrez e a Odebrecht. Eis o calcanhar de Aquiles que une o Brasil a Portugal.

Negócio suspeito

A Andrade Gutierrez é acionista da companhia telefônica Oi, que se fundiu com a Portugal Telecom. A Oi, nos tempos em que funcionava sob o nome Telemar, aportou R$ 5 milhões em uma empresa de jogos eletrônicos de Fábio Luís Lula da Silva, filho mais velho de Lula e que repentinamente trocou o anonimato de monitor de zoológico pelo estrelado de empresário bem sucedido. Quando isso aconteceu, Lula era presidente e por dever de ofício deveria ter ordenado veto imediato ao negócio. Ao contrário, calou-se para, em seguida, usar o costumeiro discurso inflamado para incensar a tese burra de que no Brasil o filho de um operário não pode ser bem sucedido.

Então presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo foi preso pela primeira vez na Lava-Jato em 19 de junho de 2015, sendo que em 10 de fevereiro deste ano voltou para a prisão. No dia seguinte, 11 de fevereiro, Azevedo conseguiu o direito de permanecer em prisão domiciliar, com direito a monitoramento por tornozeleira eletrônica.

Com sede em Minas Gerais, a Andrade Gutierrez, que há dias entrou com pedido de recuperação judicial, tinha Otávio Azevedo como comandante das operações da Oi em Portugal, que ensaiou fusão com a Portugal Telecom (PT), negócio geraria a CorpCo. Azevedo foi um dos representantes da Oi no Conselho de Administração da PT.

Otávio Azevedo deixou a Oi, até então um dos principais negócios da Andrade Gutierrez, após tomar conhecimento de uma dívida de 897 milhões de euros da Rioforte, braço não financeiro do Grupo Espírito Santo, junto à empresa. Azevedo sempre negou que soubesse da possibilidade de calote por parte do grupo português.

A saída de Otávio Azevedo da PT SGPS deveria ser entendida pelos artífices da confusão como claro sinal de que a Oi desconhecia a aplicação na Rioforte. Pelo menos era esse o objetivo da Oi, que usou tal argumento para forçar a renegociação da fusão entre a PT SGPS e a Oi, reduzindo a participação dos portugueses na futura empresa. Não se conseguiu provar que a Oi desconhecia a aplicação bilionária na Rioforte, mas a operadora brasileira conseguiu levar adiante a sua posição.

Com o controle da PT Portugal nas mãos, a Oi não demorou a colocar a empresa lusa à venda. Atualmente, a PT Portugal é controlada pelo grupo francês Altice, com sede no paraíso fiscal de Luxemburgo. A PT SGPS, rebatizada como Pharol SGPS, é a maior acionista da OI, que por sua vez instalou uma antena de celular a pouco mais de cem metros de um sítio em Atibaia, usado frequentemente por Lula – ele nega ser dono do imóvel. O sítio foi reformado por empreiteiras investigadas na Lava-Jato, o que pode levar Lula para a cadeia.


Tentáculos criminosos

A outra ponta dessa conexão luso-brasileira é o grupo Odebrecht, cujo presidente afastado está preso preventivamente em Curitiba e há dias foi condenado a dezenove anos e quatro meses de prisão no âmbito da Operação Lava-Jato. Durante meses a fio as autoridades da Operação Marquês procuraram indícios da ligação entre Lula, José Sócrates e a Odebrecht. Por isso o interesse dos portugueses nos desdobramentos da investigação brasileira.

Em setembro de 2011, Lula viajou a Lisboa como “embaixador” de investimentos brasileiros em Portugal, época em que ficou evidente que o petista agia como lobista da Odebrecht. O objetivo da visita do político brasileiro eram as obras dos Estaleiros de Viana e a privatização da TAP. A construtora estava de olho nas obras do estaleiro, enquanto a TAP interessava a um amigo de Lula, que à época era agenciado em terras lusas por José Dirceu, também preso na Lava-Jato. Duas semanas mais tarde, não por acaso, José Sócrates viajou a Paris para participar de homenagem a Lula, que hoje á alvo de investigação por corrupção e de pedido de prisão preventiva por lavagem de dinheiro e falsidade ideológica.

A Odebrecht, uma das principais operadoras do esquema de corrupção da Petrobras, custeou, em outubro de 2013, uma viagem de Lula a Lisboa, ocasião em que o petista participou do lançamento do livro de Sócrates, cuja apresentação ficou a cargo do ex-presidente brasileiro. Até 2013, a Odebrecht operava em Portugal com o nome “Bento Pedroso Construções”.

Zé brasileiro em terras lusas

Em novembro de 2011, Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, irmão de José Dirceu e sócio do “mensaleiro” na JD Assessoria e Consultoria, empresa que há muito está no radar da Lava-Jato, esteve em Lisboa para negócios e contatos quase secretos. Na ocasião, o primeiro-ministro português era passos Coelho, com quem Dirceu se conecta através de Miguel Relvas, ex-ministro e foco de investigações em Portugal.

À época, Passos Coelho começou a dar muita atenção ao empresário Germán Efromovitch (colombiano naturalizado brasileiro), agenciado por José Dirceu e muito interessado na privatização da TAP, cuja conclusão se deu em junho de 2015. O cliente do petista perdeu a disputa pela companhia aérea portuguesa.

Um dos encontros de Luiz Eduardo [irmão de José Dirceu] foi com Ricardo do Espírito Santo Silva Salgado, então presidente do finado Banco Espírito Santo. O encontro entre ambos foi organizado pelo escritório de advocacia português “Lima, Serra, Fernandes & Associados” (LSF), ligado a João Abrantes Serra, do qual José Dirceu sempre foi parceiro.

Não por acaso, no rastro da erva daninha que os petistas plantaram em Portugal, em 2012 uma campanha eleitoral ao Legislativo português foi custeada por um conhecido político brasileiro que agora mofa na cadeia por decisão do juiz da Operação Lava-Jato. Na ocasião, um marqueteiro brasileiro, que prospectava negócios em Lisboa, ouviu de um amigo de longa data que a tal campanha estava sendo paga por um dos próceres petistas. Possivelmente por alguém que tinha interesse na privatização da TAP.

Essa conexão do crime que une delinquentes brasileiros e portugueses passa obrigatoriamente por Angola, assunto que as autoridades lusas conhecem a fundo. Afinal, o político português eleito com dinheiro de um marginal brasileiro despejou, sem explicação convincente, verdadeira fortuna em um banco angolano.

Coincidência ou não, o marqueteiro João Santana, o preferido do PT, atuou fortemente em Angola, onde a Odebrecht tem muitos negócios e interesses em demasia. Santana ainda não conseguiu explicar à força-tarefa da Lava-Jato uma questão que matematicamente não fecha: como um ditador (no caso José Eduardo dos Santos), há quase quarenta anos poder, gasta R$ 50 milhões para ser reeleito. Um marqueteiro consultado pelo UCHO.INFO afirmou, sem medo de errar, que a campanha à reeleição do presidente angolano, em 2012, não custou mais de US$ 5 milhões.

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