PMDB apoia advogado de mensaleiro para a Justiça, mas Temer deveria considerar relator da CPI dos Correios

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Logo após indicar Alexandre de Moraes ao Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente da República, Michel Temer, anunciou, em meio a uma enxurrada de especulações, que a escolha do novo ministro da Justiça não seria política, mas de caráter pessoal. Não se sabe o que Temer entende sobre indicação pessoal, mas é preciso que a pasta da Justiça seja entregue nas mãos de quem não apenas conhece o Direito, mas que seja isento diante de investigações, como é o caso da Operação Lava-Jato. Esse cuidado é importante porque em jogo estão interesses de muitos envolvidos no maior esquema de corrupção de todos os tempos, o Petrolão.

Michel Temer sondou alguns nomes respeitados no campo do Direito, mas deparou-se com alguns nãos e impedimentos. O primeiro nome a ser incensado pelo presidente da República foi o de Carlos Ayres Britto, ex-ministro do STF, cotado para o cargo desde a formação da equipe ministerial de Temer. Repetindo decisão anterior, Ayres Britto descartou a possibilidade de assumir a pasta, já que está confortável na área da advocacia.

Outro nome ventilado para assumir o Ministério da Justiça foi o de Ellen Gracie Northfleet, ex-ministra do STF, cujo currículo carrega um pequeno detalhe que, a depender da ótica de análise, transforma-se em empecilho. Ellen Gracie participou do Conselho Administrativo de uma das empresas de Eike Batista, o Mister X, atualmente preso no Rio de Janeiro sob a acusação de pagamento de propina ao ex-governador Sérgio Cabral Filho.

Descartados esses dois destacados nomes, surgiu no horizonte o também ex-ministro Carlos Velloso, do STF, um dos mais respeitados magistrados dos últimos tempos. Velloso tem, além do nome, uma trajetória brilhante a zelar, por isso sua eventual chegada ao Ministério da Justiça seria uma operação arriscada.

Em mais uma tentativa de levar a indicação do próximo ministro da Justiça para a seara pessoal, Temer considerou, mais uma vez, a possibilidade de colocar o criminalista Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, seu amigo de longa data, no cargo. Porém, pela segunda vez, Mariz perdeu posições nessa disputa, pois em seu rol de clientes há alguns investigados, denunciados e condenados no âmbito da Operação Lava-Jato, como, por exemplo, a construtora Camargo Corrêa.


Relator da CPMI dos Correios

Gostem ou não os brasileiros, a escolha do próximo ministro da Justiça se dará no campo político, pois o governo de Michel Temer precisa de apoio no Congresso Nacional para conseguir aprovar medidas que miram a necessidade de o País sair do atoleiro da crise econômica.

O fato de a escolha ser política não significa que o cargo de ministro da Justiça poderá ser usado para fins políticos ou privados. De olho na vaga e querendo abocanhar mais espaço no governo, disputa que rivaliza com o PSDB, o PMDB decidiu apoiar o nome do deputado federal Rodrigo Pacheco, de Minas Gerais. Ligado também ao senador Aécio Neves, seu conterrâneo, Pacheco conta com o apoio do líder do PMDB na Câmara, Baleia Rossi (SP).

A questão preocupante que paira nos céus de Rodrigo Pacheco, advogado criminalista, é que ele defendeu na Ação Penal 470 (Mensalão do PT), que tramitou no STF, Vinícius Samarane, ex-diretor do Banco Rural, que implodiu após o primeiro escândalo de corrupção da era petista. Condenado a oito anos de prisão por gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro, Samarane agora cumpre a pena em regime semiaberto. No rol de clientes de Pacheco também consta Kátia Rabello, ex-presidente do Rural, condenada a 14 anos e 5 meses de prisão por lavagem de dinheiro, evasão de divisas e gestão fraudulenta de instituição financeira (atualmente cumpre pena no regime semiaberto)

Considerando o fato de que a mencionada indicação passará obrigatoriamente pelo terreno político, que o indicado seja alguém de trajetória ilibada – todos têm – mas sem qualquer vínculo, mesmo que profissional, com operadores da corrupção sistêmica. Sendo assim, surge com força e credibilidade o nome do deputado federal Osmar Serraglio (PMDB-PR), ex-presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara e, acima de tudo, então relator da CPMI dos Correios, cujo documento final indiciou os envolvidos no esquema criminoso que consistia no pagamento de mesadas para a manutenção de apoio ao governo Lula.

Quem acompanhou os bastidores da CPMI dos Correios, como fez o UCHO.INFO, sabe da dificuldade enfrentada por Osmar Serraglio para concluir um relatório que apontava de maneira clara e inequívoca na direção dos responsáveis pelo esquema. Sem se render à pressão, mas ciente de que o relatório final da CPMI dos Correios alvejaria muitos interesses escusos, Serraglio conseguiu dar o primeiro passo no campo da tão esperada faxina política, algo que o País espera há décadas.

Em suma, entre nomear um defensor de mensaleiro e aquele que indiciou os envolvidos no escândalo do Mensalão do PT, com certeza a segunda opção é a melhor. Caso o presidente Michel Temer queira minimizar os estragos resultantes das recentes e estapafúrdias nomeações, o nome de Osmar Serraglio é o caminho, já que a decisão é política.

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