Medicamento de graça é anestésico palaciano para sufocar a rebelião na órbita do salário mínimo

Conversa fiada – Na manhã desta segunda-feira (7), Dilma Rousseff não apenas estreou no programa radiofônico palaciano “Café com a Presidenta” (o correto é “Café com a Presidente”), mas inaugurou a porção messiânica herdada do companheiro Lula da Silva. No programa gravado com a devida antecedência, Dilma destacou sua decisão de distribuir gratuitamente à população remédios para hipertensão e diabetes.

Em resposta a um ouvinte, a presidente lembrou que os medicamentos pesam no bolso dos mais pobres. “Uma parte bem maior da renda da população mais pobre é gasta com remédio, enquanto que para os ricos, essa despesa pesa bem menos”, declarou Dilma.

Ora, se as pessoas mais pobres enfrentam problemas para comprar remédio e o objetivo de Dilma Rousseff é extirpar a miséria que ainda impera em diversos setores da sociedade, não há justificativa para vetar um aumento maior do salário mínimo. Quando fazia uma ruidosa e nem sempre responsável oposição, o PT, partido no qual Dilma é uma espécie de “cristã nova”, sempre defendeu a adoção de um salário mínimo compatível com as necessidades básicas do cidadão. Considerando essa pretérita bandeira petista, o salário mínimo deveria valer pelo menos R$ 1,2 mil.

Voltando ao degradante binômio “medicamento-salário mínimo”, muitas cidades brasileiras têm enfrentado nos últimos dias uma onda de calor jamais vista. Por conta disso, dezenas de milhares de pessoas foram acometidas por doenças respiratórias, a começar por uma gripe incômoda e resistente. Um tratamento minimamente eficaz à base de medicamentos genéricos, em farmácias da cidade de São Paulo, não sai por menos de R$ 80, o que representa 14,81% do salário mínimo, que continua valendo R$ 540. Na rede pública de saúde, conseguir medicamentos para combater a gripe que se alastra pelo País é uma missão quase impossível. Quando o cidadão consegue algum medicamento, o tratamento se mostra, dias depois, absolutamente ineficaz.

O aumento de R$ 30 que o gazeteiro Luiz Inácio da Silva concedeu ao salário mínimo no apagar das luzes do seu mandato foi insuficiente para repor a perda decorrente da inflação do ano passado. Para piorar a situação, o mercado financeiro elevou a previsão da inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2011, de acordo com a pesquisa Focus, divulgada nesta segunda-feira pelo Banco Central. A expectativa do mercado para a inflação pulou de 5,64% para 5,66%, distanciando-se ainda mais do centro da meta de inflação fixada pelo governo federal, que é de 4,50% para o corrente ano.

Diante desse enxadrismo político e econômico, o melhor é descobrir durante quanto tempo o messianismo de Dilma Rousseff surtirá efeito na massa ignara da população.