Governo aposta na venda de automóveis, mas financiamentos têm armadilhas perigosas

Mãos ao alto – Apostando no consumo interno elevado como forma de minimizar os efeitos da crise que atinge a União Europeia, o governo da presidente Dilma Rousseff anunciou medidas de incentivo ao crédito para que os brasileiros comprem mais automóveis, como se o setor automobilístico escondesse a solução derradeira para um país que tem problemas em diversos segmentos.

Com a queda das taxas de juro e a redução do IPI, as montadoras tentam despejar no mercado os elevados estoques que causavam preocupação. Contudo, a corrida às concessionárias não tem atendido às expectativas do governo e dos fabricantes, pois o endividamento das famílias e a disparada da inadimplência têm comprometido as eventuais operações de crédito.

O juro cobrado pelos bancos é, em tese, o menor (42,1% ao ano) desde 2010, mas conseguir financiar um veículo com as taxas anunciadas depende de uma série de fatores, que nem sempre o pretendente consegue cumprir.

Taxa de Abertura de Crédito

Se por um lado assumir dívida de longo prazo exige cautela redobrada, por outro o financiamento de automóveis tem armadilhas que a maioria dos cidadãos desconhece. A primeira delas é a malfadada Taxa de Abertura de Crédito (TAC), que em tempos outros proporcionava aos bancos e financeiras verdadeiras fortunas anuais, valores que estavam na casa dos bilhões. A TAC, que no caso de financiamento de um automóvel pode ultrapassar R$ 1 mil, foi banida dos financiamentos a pessoas físicas depois de longa batalha do ucho.info, mas os bancos voltaram a cobrar de maneira oficiosa e disfarçada.

O valor da TAC é cobrado sem que o cliente perceba a artimanha, sendo diluído nas parcelas do financiamento, o que faz com que a taxa torne-se ainda mais absurda. Brigar pelo fim da TAC rendeu ao editor do ucho.info processos judiciais e intimidações diversas, mas em nenhum momento perdemos o foco na luta contra mais um vilipêndio ao consumidor.

Taxa de retorno

Outra armadilha pouco conhecida é a chamada taxa de retorno. Dependendo do cliente, o vendedor de automóveis, que também atua como agente de bancos e financeiras, utiliza tabela de financiamento que traz embutido um valor que será repassado à concessionária. Essa manobra, que encarece sobremaneira o valor do automóvel, serve somente para fazer a alegria do vendedor e aumentar o lucro das concessionárias, que já não se contentam em ganhar apenas os valores relativos à venda.

Atenção

O melhor caminho a seguir é, de início, pesquisar o preço à vista do bem pretendido. Em seguida, compare os valores finais do financiamento entre os bancos que operam com as concessionárias e aquele onde o consumidor mantém suas operações bancárias e de crédito. Insista com o vendedor, em caso de financiamento com bancos terceiros, em saber o valor da TAC e da taxa de retorno. A surpresa do vendedor possivemente será maior que o roubo consentido que tem sido praticado com largueza e impunidade.