No Brasil, alto custo e desinformação dificultam operações como a de Angelina Jolie

Para poucas – O anúncio de Angelina Jolie de que fizera uma mastectomia preventiva (retirada dos seios) chamou a atenção para uma cirurgia agressiva, mas que, em casos como o dela, pode ajudar a reduzir significativamente os riscos de câncer de mama – o mais comum entre as mulheres. No Brasil, onde essa variação da doença mata 10 mil mulheres por ano, o procedimento feito pela atriz esbarra, segundo especialistas, na falta de informação e nos custos altos.

Jolie optou pela cirurgia de remoção das mamas após descobrir que tinha 87% de risco de desenvolver de um tumor no seio, doença que matara sua mãe aos 56 anos. Esse diagnóstico só foi possível por meio de um teste que identificou uma mutação dos genes BRCA1 e BRCA2. No Brasil, o valor desse exame varia de R$ 4 mil a R$ 8 mil, enquanto o da cirurgia de retirada e reconstrução da mama pode variar dependendo da técnica utilizada, do profissional envolvido e do hospital onde ela será realizada.

“Poucas mulheres ficam sabendo que são portadoras de uma mutação genética predisponente. Na falta de uma mutação documentada, fica difícil indicar um tratamento agressivo como a mastectomia profilática”, diz Rafael Kaliks, oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein. “A realização de mastectomia profilática sem a documentação de mutação genética predisponente não tem tanto amparo na literatura científica e deve ser evitada.”

O Sistema Único de Saúde (SUS) não cobre os custos do teste genético e da cirurgia preventiva. A cobertura também não é obrigatória nos planos de saúde – o pagamento ou não dos procedimentos varia de plano para plano.

Especialistas alertam que a retirada dos seios só é indicada em casos comprovados de mutação genética. Para o Ministério da Saúde, não existe um consenso científico sobre a retirada das mamas como forma de prevenção da doença. Além disso, a mastectomia, como toda a cirurgia, apresenta riscos, como complicações e infecções.

Diagnóstico precoce reduz a mortalidade

Esse procedimento, alertam especialistas, pode ocasionar também um grande impacto psicológico na paciente. A recomendação do ministério é o acompanhamento médico a partir dos 35 anos para mulheres com histórico de câncer de mama na família.

O médico e pesquisador José Bines, do Instituto Nacional de Câncer (Inca), lembra que o câncer hereditário é uma minoria entre os tumores – cerca de 10% dos casos – e, se houver suspeita de risco, a paciente deve passar por uma avaliação médica e somente depois realizar o teste.

“Concluindo que esse é o caso, existem várias estratégias e uma delas é a retirada das mamas. Mas ela não é uma indicação absoluta na tendência hereditária”, reforça Bines.

Por ano, são diagnosticados cerca de 53 mil novos casos de câncer de mama no Brasil. Bines afirma que a identificação precoce da doença e o tratamento adequado são os pilares para reduzir a taxa de mortalidade. O médico ressalta ainda que não existe um fator causador claramente associado à doença.

Os exames para diagnóstico da neoplasia, além do tratamento e do acompanhamento dos pacientes, são oferecidos gratuitamente pelo SUS. Segundo o Ministério da Saúde, o número de mulheres que fez exames de mamografia no ano passado aumentou 25,4% em relação a 2010. Em 2012, foram realizados 4,4 milhões de exames.

O excesso de peso, a ingestão de álcool e a exposição a radiações ionizantes em idades inferiores aos 35 anos podem aumentar o risco de aparecimento do tumor, segundo especialistas. Ainda não está comprovada a relação do uso de pílulas anticoncepcionais e o desenvolvimento do câncer de mama. (DW)