Editorial: Tarde demais

Editorial –

Diz a sabedoria popular que “antes tarde do que nunca”. Dependendo da situação, sempre será tarde. Os protestos ocorridos na última semana na maior cidade brasileira, São Paulo, trouxeram à tona uma discussão que deve ser analisada com a devida cautela. A cangalha principal do protesto era o aumento das tarifas do transporte público, mas com o passar do tempo, como missa de encomenda, surgiu a teoria de que o povo não mais suporta a lama que começa a transbordar do oceano da política nacional. Esse foi o sinal para que a sociedade, como um todo, mudasse de opinião em relação ao vandalismo que vem marcando os protestos.

Se de fato essa teoria é verdadeira, que o protesto tenha outro endereço ou, então, empunhe bandeira distinta. Até agora, o movimento serviu apenas para colocar contra a parede os adversários do Partido dos Trabalhadores, mesmo que para isso alguns companheiros tenham sido arrastados para a filha do sacrifício. Considerando essa tese lançada ao ar às pressas, o melhor seria transferir os protestos para a Praça dos Três Poderes, em Brasília, onde desmandos são cometidos como catapulta sem controle;

Como sempre afirmamos em editoriais, artigos e reportagens, o crescente desinteresse da população pela política é algo extremamente preocupante. Os brasileiros responsáveis pelo amanhã são alienados que só têm olhos para o próprio umbigo. Essa tática de alienação de longo prazo é conhecida e o cenário atual é pouco sombrio, sem qualquer sinal de parcimônia no horizonte.

Nas muitas ocasiões em que alertamos para o perigo dessa letargia social, inúmeras foram as vezes que recebemos críticas das mais variadas, inclusive de pessoas próximas. A crítica mais comum é que formamos um grupo de inconformados que não conseguem ver o lado bom da coisa. Que sacrificamos a vida pessoal e financeira por um idealismo burro. Pois bem, a realidade está nos noticiários para quem quiser conferir, o que não significa que sejamos profetas do apocalipse. Apenas exercitamos o raciocínio com visão crítica e antecipação.

Na pirotécnica tentativa de transformar o Brasil no país de Alice, o governo federal conseguiu instalar o caos de Norte a Sul, sem que as pessoas atentassem para a realidade. A conivência popular se deu nas reticências de medidas utópicas e populistas, só aplaudidas pelos próprios interessados no caos ou por quem desconhece a verdade dos fatos.

O Brasil está a um passo do precipício da crise, mas o governo de Dilma Vana Rousseff tenta escapar da responsabilidade. Essa fuga planejada se dá por meio de protestos que socializam a culpa, deixando a maior parte da mesma no colo dos adversários, como se os atuais inquilinos do Palácio do Planalto frequentassem a árvore genealógica de Aladim.

Por menor e mais desorganizado que seja, um país não pode ser governado da mesma forma como se administra um botequim de esquina. Lamentavelmente, é dessa forma que o Brasil vendo sendo conduzido na última década. Entre a ganância de quem vende aguardente e a ressaca de quem costumeiramente encosta o umbigo no balcão. O resultado não poderia ser diferente da ressaca que estamos enfrentando. Quem se preocupa com o Brasil é alvo de rótulos como chato, fora da realidade e outros adjetivos descabidos.

As vaias direcionadas à presidente Dilma Rousseff, no último sábado (15 de junho), no Estádio Mané Garrincha, é mais um triste episódio da história política nacional. Muitos brasileiros, cansados do status quo, entregaram ao berço esplêndido extasiados com o ocorrido. Independentemente da corrente ideológica da presidente, essa vaia custou ao País alguns bilhões de reais, dinheiro que saiu do bolso do contribuinte.

A essa altura dos acontecimentos seria simplista demais afirmar “não foi por falta de aviso”. Mas foi isso o que fizemos de forma incansável: avisar. Abrimos mão onda obtusa das manchetes para dedicar tempo e espaço para matérias lógicas e esclarecedoras, muitas vezes antecipando fatos que o tempo comprovou serem verdadeiros. Mudar o rumo da história era possível, mas agora é preciso encarar reticências nefastas.

De forma alguma cruzaremos os braços ou lavaremos as mãos, pois, além de contrariar nosso ideal maior, seria um ato de covardia. Agora, o que resta é resistir para que não ocorra o pior. Até porque, o Brasil confirma a cada novo dia que surge que é o país da piada pronta. O que obriga que cada brasileiro, sem perceber, ria de si mesmo.

O Editor