Discursos palacianos sobre a economia não combinam com a assustadora radiografia da crise

crise_economica_10Sem solução – A decisão do governo federal de enviar ao Congresso Nacional uma medida provisória que modifica a meta de superávit fiscal de 2014 continua repercutindo mal, mas o cenário econômico vive momento ainda pior, pois não consegue se livrar de uma enxurrada de notícias ruins. Durante a campanha eleitoral, a reeleita Dilma Rousseff garantiu que a economia brasileira em breve retomará a pujança pretérita, mas o almoxarifado do Palácio do Planalto ainda não recebeu um carregamento de varinhas de condão. Até porque, reverter a crise econômica, que Dilma rotula como ideia fixa dos pessimistas, não é tarefa fácil.

O grande problema da economia verde-loura é a falta de credibilidade decorrente da incompetência de um governo paralisado e corrupto. Enquanto Guido Mantega, o já demitido ministro da Fazenda, rebate as críticas feitas pela “companheira” Marta Suplicy, os números da economia caminham na direção contrária dos discursos palacianos. Para que os adversários não nos acusem de golpismo, apresentamos abaixo uma análise setorizada da economia nacional.

Desemprego na indústria

Nesta terça-feira (12), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que o emprego na indústria brasileira registrou queda de 0,7% em setembro, o sexto recuo seguido. Na comparação com o mesmo mês do ano passado, a retração foi ainda maior, de 3,9% – o 36º resultado negativo consecutivo nesse tipo de análise e mais intenso desde outubro de 2009, quando o indicador recuou 5,4%.

De tal modo, no terceiro trimestre deste ano o índice de emprego tem queda de 3,7% e, no acumulado do ano, de janeiro a setembro, de 2,8% (ambas comparadas com o mesmo período de 2013). Em doze meses, a queda é de 2,6%.

Para complicar a ainda mais a já difícil situação do governo, que não sabe como escapar da sinuca econômica, o setor automotivo contribuiu para a queda do emprego na indústria brasileira. “O principal impacto foi da atividade de meios de transporte”, afirmou o economista Rodrigo Lobo, responsável pela Coordenação de Indústria do IBGE.

“Essa menor produção de veículos automotores, que já vem acontecendo há algum tempo, se reflete no mercado de trabalho da indústria há quatro meses”, completou Lobo.

Esse dado divulgado pelo IBGE mostra que a indústria nacional continua sofrendo com a equivocada política econômica do governo do PT, que ainda aposta na venda de automóveis como arma para enfrentar a crise. Em outras palavras, o castelo de areia desmoronou e os petistas continuam em festa.

Comércio em alerta

Após registrar avanço de 0,9% em setembro, a atividade do comércio varejista ficou praticamente estável em outubro, informou a Seara Experian na segunda-feira (11). De acordo com o Indicador Serasa Experian de Atividade do Comércio, registrou-se alta de apenas 0,1% no movimento dos consumidores nas lojas de todo o País em outubro, na comparação com setembro, já descontados os fatores sazonais. Na comparação com outubro de 2013, a alta foi de 3,4%. Diante desses resultados, o movimento dos consumidores no comércio acumulou, no período de janeiro a outubro de 2014, alta de 4,0% em relação ao mesmo período do ano passado.

De acordo com os economistas da Serasa Experian, taxas de juro altas e encarecendo o crédito, inflação oscilando ao redor do teto da meta, pressionando o poder de compra das famílias, e o baixo grau de confiança dos consumidores continuam impedindo movimento mais intenso no setor varejista neste ano.

Os empresários do comércio varejista estão cautelosos, o que explica o encolhimento contínuo da atividade industrial, não esperam nenhuma reação meteórica do setor até o final deste ano. A expectativa é que o comércio varejista registre avanço abaixo de 4%, índice considerado pequeno em um país cujo governo insiste em fazer do consumo interno a solução para a crise que só cresce. Para piorar o que já é ruim, os consumidores redobraram a cautela na hora da compra.

Inadimplência em alta

Quando, em dezembro de 2008, o então presidente Lula pediu aos brasileiros para que elevassem o consumo como forma de escapar dos efeitos colaterais da crise global, o primeiro alerta dado pelo ucho.info foi de que a inadimplência e o endividamento das famílias disparariam. Soberbos e incompetentes, os palacianos só souberam dizer que torcíamos contra o Brasil. O tempo passou e provou que estávamos certos, pois a inadimplência alcançou níveis preocupantes, enquanto o grau de endividamento das famílias cresce de maneira assustadora.

Na passagem de setembro para outubro deste ano, a inadimplência em todo o País apresentou uma suave melhora, com recuo de 1%, de acordo com o Indicador Serasa Experian de Inadimplência do Consumidor. Contudo, na comparação com outubro do ano passado, os pagamentos em atraso há mais de 90 dias cresceram 14,2% em outubro de 2014. Desde o começo deste ano a alta foi de 5,1%.

Os economistas da Serasa Experian destacam que os efeitos de uma economia mais adversa neste ano, em relação a 2013, com juro alto e inflação elevada, têm mantido o crescimento da taxa de inadimplência. O que justifica esse recuo em outubro sobre o mês anterior é a “a maior cautela dos consumidores nos últimos meses em assumir novos endividamentos, priorizando a quitação de dívidas”.

A queda no índice de inadimplência foi influenciada pelas dívidas não bancárias (junto aos cartões de crédito, financeiras, lojas em geral e prestadoras de serviços como telefonia e fornecimento de energia elétrica, água etc.) que apresentaram variação negativa de 3,7%. Nas demais modalidades de endividamento ocorreram altas: bancos (0,5%); títulos protestados (10,4%); e cheques sem fundos (4,3%).

Apesar de ter crescido a inadimplência com os bancos, o valor médio caiu 4,7% no período de janeiro a outubro, atingindo R$ 1.262,80. Em referência às dívidas não bancárias, o valor subiu 15,7%, passando de R$ 315,22 para R$ 364,79. No caso dos cheques sem fundos, houve acréscimo de 5,9%, ao alcançar R$ 1.741,94; e o valor dos títulos protestados ficou 3,1% acima dos dez primeiros meses de 2013, com R$ 1.399,15.

Poupança em queda

Em outubro, os depósitos na caderneta de poupança superaram os saques em R$ 540,3 milhões, o menor saldo positivo para o mês desde 2008, de acordo com dados divulgados no último dia 6 de novembro pelo Banco Central.

O saldo é 88% inferior ao registrado no mesmo mês de 2013. No acumulado do ano, a captação líquida da poupança apresenta saldo positivo de R$ 16,1 bilhões. No mesmo período do ano passado, esse valor era quase 3,5 vezes maior: R$ 53,46 bilhões. Ou seja, no acumulado do ano a queda foi de 70%.

Em outubro passado, os poupadores aplicaram R$ 144,22 bilhões e sacaram R$ 143,68 bilhões da poupança – o segundo maior volume mensal movimentado nas cadernetas ao longo do ano.

A queda na captação da caderneta de poupança indica que os consumidores estão usando as economias para pagar contas e saldar dívidas, escapando dessa forma das abusivas taxas de juro e multas cobradas dos inadimplentes. Esse cenário também aponta para um elevado grau de preocupação dos brasileiros em relação ao futuro, o que explica a elevação dos saques da poupança para liquidar empréstimos e financiamentos.

Salário mínimo na bacia das almas

Quando Dilma Rousseff decidiu que o aumento do salário mínimo seguiria uma fórmula que mescla o índice da inflação do ano e o índice de crescimento do Produto Interno (PIB) do ano anterior, o ucho.info afirmou que a medida seria um tiro no pé e outro pela culatra.

O aumento dado pelo governo ao salário mínimo que estará em vigência até 31 de dezembro próximo é suficiente para que o trabalhador consiga comer apenas um pão com banana por dia. Mesmo assim, Dilma ousa falar em valorização da menor remuneração possível no País.

Considerando que o crescimento da economia neste ano não deve ultrapassar a pífia marca de 0,2%, o aumento real do salário mínimo de 2016 será próximo de zero. Com isso, o trabalhador terá de se acostumar com a assustadora situação de ver o salário acabar enquanto mês avança lépido e fagueiro. Por enquanto o salário termina no meio do mês, mas em 2016 isso poderá acontecer depois de dez dias.

Não se pode esquecer que de acordo com o IBGE dois terços da população brasileira recebem menos de dois salários mínimos mensais, o que significa que cada um dos milhões de integrantes dessa massa recebe aproximadamente R$ 1,2 mil a cada trinta dias. Em São Paulo, maior cidade brasileira, o aluguel de um quarto em uma pensão mequetrefe não sai por menos de R$ 600 mensais.

Considerações finais

Com o avanço do desemprego na indústria, recuo na atividade do comércio varejista, alta do índice de inadimplência, queda na captação da poupança e salários cada vez menores, a única saída viável no meio da crise é o aeroporto internacional mais próximo. Como dezenas de milhões de brasileiros não têm possibilidade de deixar o País, o melhor a se fazer é cobrar diuturnamente do governo central uma solução de curto prazo para a crise que chacoalha o Brasil.

Enquanto não toma uma decisão, Dilma Rousseff assiste ao desfile do caos de braços cruzados, como se tal atitude fosse suficiente para resolver um problema que cresce mais rápido que massa de pão.

Imaginar que a indicação de um nome respeitável para o Ministério da Fazenda será o primeiro passo para debelar a crise é passar atestado de inocência, quiçá de ignorância. Não se pode acreditar em uma governante que durante quatro anos errou de maneira escandalosa na condução da economia e agora surge com o discurso visguento que fará a lição de casa. Fazer a lição de casa depois de reprovado serve para nada.

Ou o brasileiro aceita a ideia de que será preciso esforço continuado durante cinquenta anos para o País recuperar o status anterior, ou então que fechem o Brasil para balanço. Do jeito que está não dá!

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