Vendas do Dia das Mães têm retração de até 16,4%; desemprego e juro alto são os vilões

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A segunda principal data para o comércio, o Dia das Mães, teve um dos piores desempenhos dos últimos anos. O desemprego em alta e o crédito caro foram apontados como os vilões desse recuo nas vendas. De acordo com dados preliminares, houve quedas entre 8,4% e 16,4%. A forte retração deve levar os lojistas a antecipar ainda mais as liquidações de inverno, uma prática comum que vem ocorrendo nos últimos anos.

De acordo com a Serasa Experian, as vendas no varejo por conta da data caíram 8,4% na semana entre 2 e 8 de maio em relação ao mesmo período do ano passado, quando os negócios já tinham recuado 2,6% sobre 2014. Além de ser a segunda queda consecutiva, o desempenho de 2016 foi o pior desde o início da série em 2003.

O resultado do Dia das Mães só não foi pior do que o da Páscoa, quando as vendas encolheram 9,6%, conforme a Serasa Experian. “Quando se está num inverno de menos 40 graus Celsius e a temperatura sobe para menos 35 graus não dá para sentir a diferença”, observa o economista da empresa de consultoria, Luiz Rabi. Embora a pesquisa não levante dados setorizados, ele acredita que as maiores retrações tenham ocorrido exatamente nas vendas de itens mais caros, como eletrônicos, que fecharam abril com retração 14%.

Essa tendência é confirmada pelo indicador apurado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) Brasil e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) que aponta retração de 16,4% nas consultas para vendas a prazo neste ano em relação ao do ano passado. Foi a terceira queda seguida e o pior desempenho desde o início da série do indicador que começou a ser apurado desde 2010.

“Muita gente deixou de comprar produtos de valor mais alto e as vendas a prazo foram as que mais sofreram”, analisou a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.

Nos itens de menor valor o quadro de vendas não foi muito diferente. Também houve retração, mas com quedas menores. Nabil Sahyoun, presidente da Associação de Lojistas de Shoppings (Alshop), diz que a retração no faturamento, já descontada a inflação, pode ter chegado a 4% em relação à mesma data de 2015, que tinha registrado um recuo de 3%. “Este foi o pior Dia das Mães para os lojistas de shoppings desde 2012”, ressaltou.


Além do bolso apertado e do cenário ruim para a renda e para o emprego, a falta de frio atrapalhou as lojas de vestuário que apostavam no inverno para desovar os estoques. “A falta de frio piorou a situação”, diz o presidente da Alshop.

Se as temperaturas se mantiverem elevadas e os estoques também, Sahyoun diz que as promoções podem se intensificar a partir de junho. As liquidações de inverno, que geralmente são antecipadas, podem começar antes em 2016. Para ele, tudo vai depender da situação de caixa dos lojistas e do volume de estoques indesejados.

Conforme o Boa Vista SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito) em parceria com a Fecomércio-SP, o varejo deixou de embolsar neste ano R$ 5 bilhões com as vendas do Dia das Mães por conta da queda de 4,6% registrada nas vendas em relação ao ano anterior. No ano passado o recuo havia sido de 1,2% sobre 2014.

Apesar da forte retração, Marcela Kawati, do SPC Brasil, pondera que nas próximas datas comemorativas do comércio a retração poderá ser menor. Isso porque a base de comparação, que é o desempenho de 2015, já é muito baixa.

Kawati lembra que as vendas por ocasião do Dia dos Namorados tiveram forte retração em 2014 em razão da Copa do Mundo, deram uma parada em 2015 e neste ano devem recuar em relação a um nível que já é muito baixo.

Rabi acredita que a retração de vendas do Dia dos Namorados varie entre 5% e 10% e prevê uma retração menor das vendas nas datas comemorativas do segundo semestre. “A partir de julho o tombo deverá ser menor”, avalia.

O economista da Serasa Experian avisa que a queda menor deve ocorrer por uma questão de base de comparação, uma vez que não existem fatores objetivos que podem melhorar esse quadro. Rabi afirma a desaceleração da inflação não será suficiente para dar um alívio no orçamento e trazer o consumidor de volta às compras. Além disso, há perspectivas de aumento do desemprego e os juros ainda continuam em níveis elevados.

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