Excesso de tolerância dos brasileiros faz com que políticos lutem para manter status quo da corrupção

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O Brasil vive um momento sui generis na seara política, sem qualquer perspectiva de mudança em relação à corrupção institucionalizada. Quando o UCHO.INFO, em diversas ocasiões, afirmou que os políticos acostumaram-se de tal forma a conviver com a ilegalidade, muitos acusaram-nos de não acreditar na possibilidade de uma assepsia profunda. Não se trata de descrença, mas da interpretação realista de um cenário que mescla o banditismo que se esconde debaixo de mandatos eletivos e a letargia de um povo que aposta no faz de conta.

Manobras de todas as espécies têm surgido no Congresso Nacional para tentar impedir uma faxina na cena política, sem que a sociedade tem esboçado qualquer tipo de reação a esse movimento rasteiro e covarde. Como se o Brasil fosse movido pela tese absurda do “rouba, mas faz”.

De um lado, na Câmara dos Deputados, parlamentares articulam um golpe contra a democracia. Querem anistiar o uso pretérito de caixa 2 e outros crimes frequentas no meio político. Isso vem acontecendo no rastro da discussão do pacote de medidas anticorrupção, que pode implodir a qualquer momento, dependendo do temor que tomou conta da classe política a partir da Operação Lava-Jato, em especial da anunciada colaboração premiada da empreiteira Odebrecht.

Do outro lado do Parlamento, no Senado, o presidente Renan Calheiros (PMDB-AL), alvo de uma dúzia de processos investigatórios que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF), trabalha diuturnamente pela aprovação da lei que pune o abuso de autoridade. A matéria dormita no Congresso desde 2009, mas do nada Calheiros decidiu colocar o projeto na fila de votação. Trata-se de uma retaliação ao Judiciário, que decidiu enquadrar o presidente do Legislativo, há muito conhecido por suas malandragens.

O povo brasileiro é tão acomodado e irresponsável, que Renan Calheiros renunciou à presidência do Senado para não ser cassado, no rastro do escândalo envolvendo o pagamento das despesas da amante, mas voltou ao cargo com a malandragem e a desfaçatez de sempre. Em países minimamente sérios, Renan estaria preso há muito tempo.


Também no Senado, o líder do governo no Congresso, senador Romero Jucá (PMDB-RR), investigado na Operação Lava-Jato, protagonizou um golpe contra a opinião pública brasileira. Jucá agiu de forma sorrateira e suprimiu do texto que trata da repatriação de recursos não declarados a proibição antes imposta a familiares de políticos. O texto foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJ), o que não impede mudanças no mesmo, mas essa é uma tarefa difícil. Ou seja, com o truque protagonizado por Romero Jucá o dinheiro da corrupção voltará ao País de forma legalizada, desde que pagos os impostos e as multas. Mesmo

Em outro flanco da Praça dos Três Poderes, mais precisamente no Palácio do Planalto, o presidente da República, Michel Temer (PMDB-SP), adotou silêncio obsequioso diante do escândalo envolvendo Geddel Vieira Lima (PMDB-BA). Ministro da Secretaria de Governo da Presidência, Geddel é acusado de pressionar o então ministro da Cultura, Marcelo Calero, para mudar decisão do Instituto do Patrimônio e Artístico Nacional (Iphan), que embargou a construção de um edifício residencial em Salvador, no qual o chefe da Secretaria de Governo é de um apartamento, adquirido pela bagatela de R$ 2,5 milhões.

Michel Temer sabe que Geddel cometeu um crime na esfera administrativa, mas prefere fazer ouvidos moucos para as denúncias de Marcelo Calero, que nesta quinta-feira (24), em depoimento à Polícia Federal, confirmou a denúncia. De tal modo, o STF terá de decidir se autoriza investigação da Procuradoria-Geral da República para apurar a atitude de Geddel.

Se o acima descrito é pouco para que a população reaja imediata e firmemente, colocando a classe política no devido lugar, é porque os brasileiros há muito deixaram de ter sangue nas veias. Em nações civilizadas e com cidadãos cientes de suas obrigações e direitos, o Parlamento já estaria cercado.

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