Carne Fraca: governo fez críticas, mas após interdições não reconheceu importância da operação da PF

Horas depois da deflagração da Operação Carne Fraca, em 17 de março passado, integrantes do governo Michel Temer fizeram duras críticas à Polícia Federal, acusada de exagerar na divulgação dos dados da investigação. Sem dúvida houve um grave erro de comunicação, em especial quando afirmou-se tratar da maior operação da PF no País, mas não se pode acusar os investigadores de irresponsabilidade.

O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, foi, no primeiro momento, um duro e ácido crítico da Carne Fraca, mas com o passar dos dias foi obrigado a mudar o tom do próprio discurso e reconhecer que existiam irregularidades no setor de carne e produtos derivados.

Em recente entrevista coletiva, Maggi disse que todos os superintendentes do Ministério da Agricultura nos estados são indicados políticos, mas que pediu a cada um para que a atuação fosse estritamente técnica, sem qualquer compromisso de favores aos políticos e partidos responsáveis pelas indicações. Ou seja, o ministro reconheceu que o Brasil não é um país sério, pois quando políticos coneguem interferir na fiscalização do setor agropecuário é porque há algo errado na estrutura do Estado brasileiro.

Quando o governo colocou em xeque a seriedade e a eficácia da Operação Carne Fraca, o fez aproveitando o episódio para tentar atingir a Operação Lava-Jato e recolocar na pauta de votação do Congresso nacional o projeto que penaliza o abuso de autoridade.


As provas recolhidas ao longo das investigações da Carne Fraca mostraram robustez, obrigando o Ministério da Agricultura a intervir em alguns dos 21 frigoríficos que foram alvo da operação da PF. Do total, seis frigoríficos foram interditados, sendo que quatro deles foram obrigados a fazer um recall de produtos.

A investigação começou mirando em atos de corrupção praticados por fiscais agropecuários, mas ato contínuo os policiais federais identificaram irregularidades na fiscalização dos frigoríficos, as quais acabaram por explicar a cobrança de propina por parte dos servidores do Ministério da Agricultura.

Ora, se seis frigoríficos foram interditados e quatro anunciaram recall dos produtos que estavam no mercado nacional, deve-se concluir que a Carne Fraca não foi um mal, como sugeriram algumas autoridades, mas uma operação que escancarou à população como empresas de alimento lidam com as potenciais ameaças à saúde pública.

Sem dúvida a operação da PF provocou constrangimento comercial ao País na seara internacional, com direito a embargo da importação de carne brasileira por diversos países, mas o resultado das investigações deve ser encarado como primeiro passo para uma readequação do setor, principalmente no que tange a qualidade dos produtos consumidos pelos brasileiros e estrangeiros. De igual modo, a investigação revela a necessidade de se decretar o fim das nomeações políticas para cargos eminentemente técnicos.

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