Troca de acusações entre Temer e Joesley é enredo mafioso e serve para piorar a crise

Diz a sabedoria popular que o ataque é a melhor defesa. Seguindo essa linha de raciocínio, o presidente Michel Temer (PMDB) decidiu ingressar na Justiça contra o empresário Joesley Batista, dono do Grupo J&F, que, após confirmar à Procuradoria-Geral da República (PGR) informações preliminares prestadas no âmbito de acordo de colaboração premiada, afirmou em entrevista à revista Época ser o peemedebista chefe da mais perigosa quadrilha do País.

As declarações de Joesley contribuem para piorar a grave crise política que chacoalha o Palácio do Planalto, mas essas devem ser analisadas com a devida reserva, pois causa espécie uma entrevista que de certa forma poupa o ex-presidente Lula, responsável pelo período mais corrupto da história nacional.

É importante destacar que no cenário político brasileiro inexistem inocentes, os quais dependem de muito dinheiro – na maioria das vezes de origem criminosa – para conquistar mandatos eletivos e cargos na máquina pública. De tal modo, não há como imaginar que nesse tiroteio de acusações exista alguém embalado pela inocência.

Joesley Batista quer acreditar que fez um bem enorme ao País ao delatar à PGR o esquema de corrupção que vem sendo desvendado pela Operação Lava-Jato desde março de 2014, mas o empresário só o fez porque percebeu a possibilidade concreta e crescente de ser preso a qualquer momento. Mesmo sem ser alvo de qualquer investigação no âmbito da Lava-Jato, Joesley se antecipou e colocou sobre a mesa a radiografia do esquema de corrupção operado pelo PMDB, assim como pelo PSDB.


Por outro lado, Michel Temer não convenceu ao, em nota divulgada pelo Palácio do Planalto no último sábado (17), ter chamado o empresário de “bandido notório”. Se de fato Joesley é o que o presidente da República afirma ser, receber alguém desse naipe, na calada da noite e nos porões do Palácio do Jaburu, em compromisso fora da agenda oficial, é no mínimo suicídio político.

Joesley Batista, que fechou acordo de colaboração muito além de premiado, depende da verdade para continuar em liberdade e desfrutando da fortuna que construiu à sombra de impressionante esquema de pagamento de propinas a parlamentares e autoridades. Por outro lado, Temer precisa continuar tergiversando sobre o escândalo, pois essa é a única estratégia para permanecer como presidente e evitar constrangimentos maiores.

Como mencionado acima, nessa epopeia bandoleira não há inocentes. Em vídeo divulgado nas redes sociais, Michel Temer explicou os motivos de sua viagem à Rússia e à Noruega, mas não perdeu a oportunidade de mandar um recado inominado a Joesley Batista. “Aviso aos criminosos que não sairão impunes. Pagarão o que devem e serão responsabilizados por seus ilícitos”, disse o presidente.

A fala de Michel Temer tem endereço certo, mas é preciso desconsiderar que esse discurso pode ser um tiro no pé do PMDB, partido que, ao lado do PSDB, entrou na nova fase do furacão em que se transformou a Lava-Jato. Afinal, reza a lenda que “o pau que bate em Chico, bate em Francisco”. E tudo o que os brasileiros desejam é a punição dos criminosos que levaram o País à mais grave crise ética e institucional da história.

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