Temer desiste de reforma ministerial ampla e mostra ser refém do fisiologismo rasteiro dos aliados

Como antecipou o UCHO.INFO, a ampla reforma ministerial anunciada pelo governo fracassou. O presidente Michel Temer pretendia substituir os ministros que no próximo ano concorrerão a cargos eletivos, mas diante da chiadeira dos partidos da base aliada o recuo do governo foi inevitável. O plano inicial, puxado pelo impasse do PSDB em relação à permanência no governo Temer, produziria mudanças em pelo menos dezessete ministérios.

A decisão do presidente da República de abandonar o projeto de reforma, substituindo-o por mudanças pontuais, mais precisamente nas vagas ocupadas pelos tucanos, mostra que políticos aliados não querem perder a mamata proporcionada pelo cargo de ministro de Estado. Para justificar o posicionamento contra a reforma, alguns alegam que obras e projetos que estão em andamento nos ministérios facilitam a vida daqueles que no próximo ano tentarão a reeleição.

Não obstante, orçamentos bilionários de alguns ministérios permitem aos titulares das pastas e aos respectivos partidos benefícios ocultos, resultado do modelo batizado de “presidencialismo de coalizão”. Esse modelo consiste na entrega de ministérios no molde “porteira fechada”, garantindo aos ocupantes benesses de todos os naipes.

Para um governo que prometeu ser uma ponte para o futuro, a gestão de Michel Temer está mais uma vez flertando com o atraso que a corrupção proporciona. Afinal, não se pode crer que políticos sem competência em diversas áreas assumam ministérios complexos e que exigem talento e dedicação.


O recuo de Michel Temer diante da intifada de alguns partidos da base explica-se pela necessidade do governo de aprovar matérias no Congresso e chegar até 31 de dezembro de 2018, quando termina o mandato do presidente da República. Mesmo assim, no momento em que os atuais ministros deixarem os cargos para manter a elegibilidade, o que acontecerá até 2 de abril do próximo ano, os ministérios certamente serão ocupados por indicados pelos partidos da base de sustentação do governo.

Ademais, duas outras situações devem ser consideradas no escopo dessa rebelião contra a reforma ministerial. Ministro da Fazenda e pré-candidato declarado à Presidência, Henrique Meirelles teria de deixar o comando da economia caso prevalecesse o plano de Temer. Com a mudança nas regras do jogo, Meirelles terá até 2 de abril para decidir o que fazer em relação à corrida presidencial.

Outra questão complexa é a situação de dois ministros investigados na Operação Lava-Jato que não têm mandato eletivo, o que garantiria a manutenção do foro especial por prerrogativa de função, o foro privilegiado: Gilberto Kassab (Ciência, Tecnologia e Comunicações) e Marcos Pereira (Indústria, Comércio Exterior e Serviços). Casso deixassem os respectivos ministérios agora, ambos passariam a responder ao juiz Sérgio Moro, que imprime às ações penais ritmo maior do que o STF.

Considerando que o Brasil precisa de um choque de gestão para consolidar e impulsionar o movimento de saída da crise, palacianos preferem ceder à pressão dos fisiologistas, que cada vez mais usam o apoio ao governo como moeda de troca para manter o escambo criminoso que domina a política nacional.

apoio_04