Fosse o Brasil um país sério, responsáveis por boatos que agitaram o mercado financeiro estariam presos

Wesley e Joesley Batista não vieram ao mundo na condição de querubins barrocos, como já provaram as investigações da Operação Lava-Jato e alguns dos seus desdobramentos, mas os irmãos que controlam o grupo J&F foram presos sob a acusação de insider trading, uso de informações privilegiadas com o objetivo de auferir lucro no mercado financeiro. Isso é considerado crime e, portanto, a dupla foi obrigada a ver o astro-rei de forma geometricamente distinta.

Como sempre defende o UCHO.INFO, a lei vale apara todos e deve ser aplicada isonômica e indistintamente, sem privilégios a esse ou aquele cidadão. Na tarde de terça-feira (7), recebemos vários telefonemas para atestar a veracidade de uma suposta delação premiada que poderia atingir o ex-governador Geraldo Alckmin, candidato do PSDB à Presidência da República, mas de chofre afirmamos que se tratava de um golpe de algum alarife do mercado ou de alguém agindo a mando.

O boato que correu como rastilho de pólvora dava conta que Laurence Casagrande Lourenço, ex-presidente da Dersa, estava prestes a fechar acordo de colaboração premiada e forneceria à Justiça informações desfavoráveis a Alckmin.

Preso desde junho sob a acusação de favorecer empreiteiras em obra do trecho norte do Rodoanel, em São Paulo, e denunciado pelo Ministério Público Federal por fraude a licitação, associação criminosa e falsidade ideológica, Casagrande tem direito ao acordo de delação premiada, mas é preciso salientar que esse instituto previsto em lei não é tão simples quanto pão quente à disposição de hora em hora na padaria da esquina. Se por um lado somente um velhaco de plantão é capaz de inventar um boato tão depauperado, por outro apenas um safardana ousa levá-lo adiante.


Depois da confusão no mercado financeiro, que certamente encheu os cofres de alguns alarifes profissionais, Laurence Casagrande negou estar negociando acordo de colaboração premiada porque não cometeu qualquer crime. E classificou o boato como “mentira nojenta”.

A questão não é defender Geraldo Alckmin, que se for acusado em delação terá de se explicar à Justiça, mas de repudiar essas investidas espúrias de que uma minoria se vale para lucrar alguns milhões de reais no mercado financeiro, sem que as autoridades se mexam para apurar os fatos e prender os responsáveis. Ora, se a lei valeu lá atrás para Wesley e Joesley, deve valer agora.

A sandice foi tamanha, que outro boato interferiu no mercado financeiro, ajudando a cotação do dólar subir e a Bolsa a despencar. Uma suposta entrevista ao vivo de Lula era esperada a qualquer momento na terça-feira, como se isso pudesse mudar a realidade brasileira. Cumprindo pena de prisão na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, Lula está proibido pela Justiça de dar entrevistas, ao vivo ou gravadas, e de participar de debates eleitorais. Ou seja, é inaceitável que alguém que cuida do dinheiro alheio acredite em boato.

Diante da bizarrice, alguns operadores financeiros tentaram justificar o imbróglio com a desculpa de que o mercado vive momento de expectativa por causa das incertezas políticas e eleitorais. Esse argumento não convence, principalmente porque o mercado sobe com o boato e cai com o fato.