Caso Battisti: Itamaraty divulga almoço que não aconteceu com embaixadores da Bolívia e da Itália

Os eleitores do presidente Jair Bolsonaro, cada vez mais tomados por uma cegueira que mescla abdução ideológica e pensamento colérico, não conseguem perceber que o governo busca desesperadamente algum fato positivo para distrair a opinião pública, como forma de compensar os seguidos tropeços da estreia. Que, é bom lembrar, não são normais, muito menos comuns.

A obsessão oficial por transformar a prisão do terrorista italiano Cesare Battisti em um feito do presidente era algo tão desmedido, que o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, cometeu o desplante de divulgar na manhã desta segunda-feira (14) sua participação em um almoço com a presença dos embaixadores da Bolívia e da Itália. Mas acabou desmentido pela diplomacia de ambos os países.

O tal almoço aconteceu no Ministério da Defesa e, além de Ernesto Araújo, contou com a presença do presidente Jair Bolsonaro, que não havia divulgado o encontro em sua agenda oficial, ferindo os princípios da transparência e da publicidade, inerentes ao cargo.


A embaixada da Itália no Brasil informou, por telefone, que o embaixador Antonio Bernardini não estava no país. A embaixada da Bolívia, por sua vez, informou que o embaixador José Kinn Franco sequer foi comunicado do almoço, que terminou por volta das 14 horas.

A assessoria de Jair Bolsonaro também não havia informado sobre sua participação no almoço, confirmada após o presidente deixar o Palácio do Planalto. A assessoria do Ministério da Defesa também não divulgou qualquer informação sobre o almoço. Na agenda do ministro Fernando Azevedo e Silva, divulgada na página eletrônica da pasta, constava apenas uma reunião com os comandantes do Exército e da Marinha e do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas.

Com o almoço em andamento, o Ministério das Relações Exteriores atualizou a agenda em seu site e excluiu o nome dos embaixadores da Itália e da Bolívia. Ernesto Araújo começa a demonstrar inequívoca afinidade com o presidente da República, já que adota a famosa “marcha à ré” sem qualquer constrangimento, mesmo que à sombra de informações nada verdadeiras.

Como o governo Bolsonaro precisava transformar Cesare Battisti em um troféu, mas acabou fracassando, é compreensível (sic) esse desespero no “day after”. Que todos os brasileiros fiquem tranquilos, pois a ópera bufa está só no começo, no primeiro ato.