Ócio remunerado de deputados e senadores durante feriado prolongado de Carnaval custará R$ 42,7 mi

À sombra da intolerância, as eleições de 2018 miraram uma mudança na política nacional que está a anos-luz de acontecer, pois o status quo nesse cenário há de permanecer por muito tempo. Enquanto candidatos oportunistas, ávidos por votos, prometiam o que sempre souberam ser impossível cumprir, eleitores incautos acreditavam em promessas tão absurdas quanto embusteiras.

Desse cenário saiu a pregação que a partir de 1º de janeiro passado tudo seria diferente. O que se pode constatar, como previsto, é que tudo continua como d’antes, a exemplo do quartel de Abrantes, já que na política verde-loura o modus operandi é imutável por questões de sobrevivência. Quem está de fora promete o impossível apenas porque deseja entrar, mas quem está dentro não desrespeita as regras porque não deseja sair. E quem chega logo aceita o jeito de jogar.

Que o Brasil é o paraíso dos absurdos todos sabem – talvez seja correto afirmar que é o “país da piada pronta”, como diz o sempre bem-humorado jornalista José Simão –, mas é preciso ser coerente e admitir que esperar mudanças no curto prazo é sonhar com o impossível. O Brasil é o único país do planeta que por conta de uma tradição popular deixa de funcionar, como se não existisse crise e problemas aos bolhões para serem resolvidos.

Na quarta-feira (27), deputados federais madrugaram no plenário da Câmara para registrar presença no painel da Casa e, em seguida, rumarem para o aeroporto de Brasília, já que ninguém é de ferro e não se deve ignorar o feriado prolongado de Carnaval. A indignação da população centrou-se no fato de parlamentares terem registrado presença no plenário da Câmara apenas para não terem descontos no gordo contracheque, cujo valor será depositado nas respectivas contas bancárias nos próximos dias.


É claro que essa prática, comum, mas no mínimo escandalosa, provoca indignação, mas tudo passa com a aproximação da folia momesca. O brasileiro acostumou-se com a lufada de irresponsabilidade que há séculos domina o País e já não se incomoda com o folclórico mantra incorporado ao cotidiano: “O Brasil só começa a funcionar depois do Carnaval”.

Em qualquer parte do planeta, esse absurdo – a pasmaceira decorrente do Carnaval – simplesmente não existe, mas por aqui é aceito facilmente e com direito a doses de deboche, enquanto um truque comum mantido por parlamentares há décadas causa estupefação.

Os brasileiros deveriam se preocupar com o fato de o Congresso permanecer fechado e parado por doze dias, já que os parlamentares só retomarão a labuta no próximo dia 12 de março, possivelmente na parte da tarde.

Talvez esse escárnio seja mero detalhe para um país que está em crise há anos. Apenas para lembrar, cada deputado ou senador custa ao contribuinte brasileiro, em média, a bagatela de R$ 180 mil mensais, incluindo salário, verbas de gabinete e outros penduricalhos financeiros. Isso significa que nesse período em que o Rei Momo dará as cartas na Banânia, o Congresso, fechado e inoperante, mandará pelo ralo R$ 42.768.000,00.