Não bastasse a frouxidão de Bolsonaro, Moro mostrou ser igualmente frouxo ao rifar Ilona Szabó

Ao ser convidado para assumir a pasta da Justiça e Segurança Pública, logo após o segundo turno da corrida presidencial, o então juiz Sérgio Moro impôs a Jair Bolsonaro algumas condições para aceitar o convite. Entre elas, “carta branca” para montar sua equipe de trabalho e manter linha direta com o gabinete da Presidência, no que foi prontamente atendido.

Ao decidir mandar pelos ares 22 anos de magistratura – o que não é pouco –, Moro não sabia que o agora presidente da República desconhece o que é opinião firme, ou seja, o chefe do Executivo é refém da frouxidão. No contraponto, Bolsonaro sequer imaginava que o agora ministro da Justiça fosse frouxo a ponto de aceitar ordem para recuar em decisão tomada e anunciada publicamente.

Na quarta-feira (27), a cientista política Ilona Szabó, uma das grandes especialistas em segurança pública do País e fundadora do Instituto Igarapé, teve o nome anunciado por Moro para ocupar uma cadeira de suplente no Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP). Foi o suficiente para integrantes da nova extrema direita se rebelarem como furiosa manada nas redes sociais, criticando a indicação e exigindo a reconsideração da indicação.

A artilharia cibernética na direção do ministro da Justiça e da cientista política foi tamanha, que mais parecia investida de uma guarda pretoriana disposta a tudo. Os devotos de Jair Bolsonaro, que até então tinham Moro como um dos “queridinhos” do trôpego governo, alçaram o ministro à mira da maledicência, como se uma nação pudesse existir ao sabor das redes sociais. E o mesmo fizeram com Ilona, mostrando que o Brasil está se tornando um agrupamento de desajustados.


Convidada por Sérgio Moro para a suplência do CNPCP, Ilona faria parte do colegiado responsável por debater políticas públicas para o setor. Defensora do Estatuto do Desarmamento, o que desagrada sobremaneira os radicais apoiadores de Bolsonaro, Ilona Szabó exerceria no Conselho papel importante, pois faria contraponto ao pensamento majoritário dos conselheiros aliados ao governo e que defendem a flexibilização do acesso a armas de fogo.

A pressão exercida pelos direitistas radicais que apoiam Bolsonaro é um claro e perigoso sinal de que a democracia está sob séria ameaça, pois um conselho consultivo que não tem vozes dissonantes perde a razão de existir. Ou seja, é retrato de um governo totalitário.

Ao pedir desculpas pelo fato de ser obrigado a rever a indicação de Ilona Szabó para o CNPCP, o ministro da Justiça afirmou em nota que tomou a decisão em função da “repercussão negativa em alguns segmentos”, sem mencionar quais segmentos. Na verdade, Moro recebeu um telefonema do presidente da República, que o obrigou a rever a indicação. Ou seja, a suposta “carta branca”, se é que algum dia existiu, fez Moro amarelar.

Quando o UCHO.INFO afirma que Jair Bolsonaro é incapacitado e desprovido de estofo para cargo de tamanha relevância, sua horda de seguidores se rebela, como se estivéssemos a cometer a maior das heresias. Como contra fatos não há argumentos, um presidente da República que se deixa influenciar pelo humor das redes sociais não pode decidir o futuro do País. E quem é fantoche dos filhos não pode ter nas mãos o destino de mais de 206 milhões de brasileiros.

Encantado com poder, Sérgio Moro mostrou ao País quem realmente é, mesmo que muitos internautas tenham comemorado nas redes sociais seu pífio e covarde recuo. Fosse o herói que muitos dizem ser, Moro teria pedido demissão na sequência da ordem recebida do presidente da República. Só não o fez porque é tão frouxo e covarde quanto Bolsonaro.