Aprovada em primeiro turno na Câmara, reforma da Previdência é um “faz de conta” de curta duração

Nada por ser pior do que profissionais de comunicação que afirmam ser a reforma da Previdência a redenção do País. Fosse a proposta enviada pelo governo ao Congresso Nacional um primor, como alegam os parlamentares da base aliada e muitos ufanistas que sequer sabem o que dizem, o presidente Jair Bolsonaro não precisaria antecipar o pagamento de R$ 1,5 bilhão em emendas parlamentares desde terça-feira (9).

Esse escambo oficial, que não é ilegal, mas é imoral, se justifica pelo fato que o parlamentares terão de suportar a pressão das bases eleitorais, que em algum momento reclamarão dos efeitos colaterais da reforma, que, ao contrário do que foi alardeado, acabará corroendo o bolso dos mais pobres.

A questão não é querer que o Brasil permaneça no limbo do caos fiscal ou torcer contra qualquer solução que tire o País de uma crise longeva e perniciosa, até porque isso seria mergulhar no oceano da esquizofrenia política. É preciso, sim, ser pragmático diante da realidade, buscando soluções que garantam o avanço da nação, sem prejudicar ainda mais um povo tão espoliado.

A proposta de reforma da Previdência é um “faz de conta” de curta duração, que mais adiante exigirá do Estado, como um todo, o desembolso de recursos para socorrer os novos miseráveis que se juntarão aos já existentes. Só não enxerga esse cenário que não quer ou quem foi abduzido por um movimento obtuso que tem o presidente da República na proa.

Se 80% do valor arrecadado pelos governos federal, estaduais e municipais é usado no pagamento de despesas obrigatórias, algo está errado nessa fórmula de governança. Quando o editor do UCHO.INFO condenava, décadas atrás, a criminosa prática de inchamento do Estado por parte de políticos fanfarrões interessados apenas na própria reeleição, sobravam críticas e ofensas de toda ordem. Ou pensa-se o Estado no longo prazo, ou continua-se a fazer remendos de tempos em tempos.


A situação econômica do País não é das melhores e o processo de retomada não pode ser como o que aconteceu nas eras Lula e Dilma, quando os petistas apostaram apenas e tão somente no consumo desordenado como solução. De nada adianta insistir nesse modelo de retomada econômica enquanto o poder de compra da população estiver atrelado a salários baixos, que sequer garantem condições de vida minimamente dignas.

Na última terça-feira (9), a Confederação Nacional do Comércio divulgou os resultados de uma pesquisa que mostra que em junho 64% das famílias brasileiras estavam endividadas (em maio era 63,4%). Trata-se do sexto mês seguido de alta do índice e o maior desde julho de 2013, quando marcou 65,2% de famílias endividadas.

Para piorar o que há muito deixou de ser bom, em março passado o País tinha uma legião de 63 milhões de inadimplentes, o que corresponde a 40,3% da população adulta. Esse quadro mostra não apenas a gravidade da situação, mas também e principalmente o quão difícil será reverter o caos, pois uma população com esse status não consome.

O mais interessante é que na esteira dos movimentos da Câmara dos Deputados para a discussão e votação em primeiro turno da reforma da Previdência, o mercado financeiro reagiu positivamente, com o Ibovespa operando na faixa dos 15 mil pontos, enquanto o dólar era comercializado abaixo de R$ 3,80. Quem no Brasil em crise tem dinheiro para comprar ações ou dólar? Saiam Às ruas, senhores parlamentares, e façam essa pergunta.

Que nenhum messiânico de ocasião surja em cena a reboque do discurso de que a reforma da Previdência permitirá a volta da pujança econômica, a geração de empregos, o retorno dos investimentos e a elevação do consumo. Quem fizer qualquer dessas afirmações – ou todas juntas – passará recibo de ignorância econômica ou revelará ao mundo que está a serviço do lucro fácil. É preciso coerência e parcimônia nesse momento, pois a eventual Nova Previdência está longe de ser a tábua de salvação.