Ao afirmar que celulares de Bolsonaro foram invadidos, ministério tenta turbinar gravidade do caso

Continua surpreendendo o fato de o presidente da República não ter sido informado com antecedência, durante as investigações da Operação Spoofing, da eventual invasão dos seus celulares, mesmo que Jair Bolsonaro afirme não temer a ação dos criminosos, uma vez que que os hackers nada encontraram de importante nos equipamentos.

A informação foi divulgada na manhã desta quinta-feira (25) pelo Ministério da Justiça, horas depois de um encontro entre o ministro Sérgio Moro e o presidente, no Palácio do Planalto, ocasião em que foi detalhada a operação da PF que prendeu os hackers.

O anúncio de que os celulares de Bolsonaro teriam sido invadidos exige responsabilidade e não deveria acontecer dessa forma, dando margem a suspeitas de toda ordem. Quem conhece como se dá um interrogatório quando o assunto tem poderosos como vítimas sabe que tudo é possível.

O melhor exemplo, no âmbito da Operação Lava-jato, foi a não consideração do depoimento de uma funcionária da OAS que desmontou as declarações de José Adelmário Pinheiro Filho, conhecido como Léo Pinheiro e ex-presidente da empreiteira. Tanto o então juiz Sérgio Moro quanto a força-tarefa da Lava-Jato ignoraram o depoimento da funcionária.

Com a operação Lava-Jato na linha de tiro da ilegalidade e a reputação de Moro e Dallagnol carecendo de uma tábua de salvação, não se deve tirar conclusões precipitadas, assim como é preciso cautela ao analisar os fatos. Afinal, o Brasil é um verdadeiro paraíso para acusações infundadas, que produzem estragos incalculáveis na vida de inocentes (vide os casos do Bar Bodega, da Escola Base e do caseiro Francenildo Costa)


A informação de que os celulares do presidente teriam sido invadidos surgiu na esteira da notícia de que um dos hackers revelou, em depoimento à PF, intenção de vender ao PT os dados capturados no celular de Moro e disponibilizado anonimamente as mensagens ao site The Intercept Brasil. Com esse novo cenário jurídico abre-se um largo caminho para que o governo avance sobre o jornalista Glenn Greenwald, que já tem na contramão hackers presos que a partir de agora farão tudo e mais um pouco para minimizar as consequências do crime cometido.

Como explicamos em matéria anterior, é impossível uma equipe jornalística analisar enorme quantidade de dados em poucos dias, sendo que o trabalho exige checagem das informações, verificação da autenticidade e confirmação da procedência. Além disso, o material precisa ser confrontado com todos os atos praticados no âmbito da Lava-Jato, o que demanda tempo. Sendo assim, a tentativa de vincular a ação dos hackers ao site The Intercept Brasil é leviana.

É importante ressaltar que ao inserir o presidente Jair Bolsonaro no rol das possíveis vítimas dos hackers, o caso passa a ser tratado como terrorismo e será julgado sob a ótica da Lei de Segurança Nacional. Isso daria ao governo e ao Ministério da Justiça ferramentas, mesmo que torpes, de demonizar ainda mais a divulgação dos diálogos que comprovam um espúrio conluio o entre Moro e Dallagnol.

Que ninguém imagine que nas entranhas do poder a batuta do cotidiano está nas mãos de bem-intencionados, pois a realidade é muito distinta e assustadora. Além disso, há um verdadeiro cipoal de informações desencontradas tentando dar ares de veracidade a tudo o que vem sendo divulgado sobre o caso.