Na esteira da soberba e do populismo, PSL mostra-se despreparado e pouco inteligente no tabuleiro político

(*) Ucho Haddad

Entre as muitas filigranas do homem, a burrice é incontrolável, pois é algo que se manifesta desde cedo independentemente da vontade do ser humano. Na melhor das hipóteses pode-se atenuar a burrice por meio de estudos contínuos e dedicação espartana, binômio que não garante à massa cinzenta status mais elevado. Como tudo na vida, combater a burrice (própria ou de terceiros) é uma operação de risco.

Se há um segmento da vida que não oferece espaço para a burrice, esse é o da política. Quem no meio político age a reboque da burrice está fadado ao fracasso, mesmo que demore a acontecer. Quando o populismo barato mescla-se à soberba, a política mostra-se implacável, não dando a quem quer seja oportunidade segunda e idêntica. Porém, diz a sabedoria popular que aprende-se melhor com os erros.

A punição torna-se mais severa quando, na política, seus atores deixam de usar o cérebro e agem com o fígado. A situação piora sobremaneira quando o combustível que permite esse movimento é o revanchismo ideológico. Política é um jogo contínuo, que como tal exige inteligência e frieza na tomada de decisões. Campo estratégico, a política requer de cada um espírito de sobrevivência. Isso significa que em algumas ocasiões é melhor ponderar e recuar do que agir à sombra da impetuosidade.

A decisão do PSL de expulsar de seus quadros o deputado federal Alexandre Frota é clara e inquestionável demonstração de burrice política. A burrice se agiganta e torna-se mais venenosa se considerado o fato de que o partido, pensando com o fígado, referendou a expulsão por causa de críticas ao governo e ao presidente da República. Em suma, fez-se a vontade de um governante que flerta o tempo todo com o autoritarismo.

As críticas de Frota, que na minha modesta opinião são lógicas e procedentes, deveriam servir de ponto de reflexão para o PSL e principalmente para Jair Bolsonaro, que, como garoto mimado, não aceita ser contrariado. Isso explica o período (28 anos) em que permaneceu no chamado “baixo clero” da Câmara dos Deputados, onde especializou-se em protagonizar polêmicas ruidosas e ataques sórdidos e rasteiros.

Ao contrário do que afirmam alguns ensandecidos e ignaros seguidores de Bolsonaro, não passei a considerar Alexandre Frota o gênio da vez, pois mantenho a coerência debaixo do escudo da razão e do pragmatismo. Apenas analiso a cena política usando o cérebro e o bom senso, sem jamais fugir à verdade dos fatos.

Quando alguém se recusa a escutar críticas alheias é sinal de evidente totalitarismo. Quando alguém se nega a refletir a partir das críticas de terceiros é sinal de burrice. Ao defenestrar Frota, o PSL agiu burramente e se rendeu ao viés totalitarista de Jair Bolsonaro. Totalitarismo e burrice política são ingredientes explosivos de uma só receita.

Sobre a eventual burrice de Bolsonaro é prematuro cravar opinião, mas posso garantir, com base em suas recorrentes estultices, que o presidente tem um pé e um bom pedaço do outro na seara da estupidez. Resumindo, falta apenas um leve empurrão para sua estreia – com pompa e circunstância – nesse universo do pensamento tosco e obtuso.

Eleito a reboque de um discurso recheado de falsos moralismos e defendendo o combate implacável à corrupção, Bolsonaro é que o se pode chamar de “mais do mesmo”. Para desespero dos brasileiros de bem, ele é um digno representante da “velha política”, algo que até recentemente condenava como forma de justificar sua devastadora incompetência.

Como mencionei acima, política é um jogo constante. E diante desse intrincado tabuleiro sentam-se apenas os que sabem jogar e têm frieza em doses suficientes para recuar e evitar uma fragorosa derrota.

No momento em que o presidente da República perde apoio lenta e continuamente, fazendo crescer o contingente de eleitores arrependidos, um recuo diante de críticas seria a manobra perfeita para estancar a sangria e conquistar novos simpatizantes. Essa hipótese deve ser descartada de chofre, pois Bolsonaro ainda não desceu do palanque. Continua em campanha e protagonizando polêmicas diversas, o que não lhe exige esforço extra, já que seus destampatórios dão conta do recado.

A expulsão de Alexandre Frota significa impor ao PSL a condição de segundo maior partido da Câmara dos Deputados – antes era o primeiro. Para piorar o que de largada já era ruim, o PSL cedeu a dianteira ao Partido dos Trabalhadores, seu figadal inimigo. O que para muitos pode parecer pouco, na prática representa muito e tem condição de provocar estragos consideráveis em termos políticos.

Alguém há de afirmar que o PSL tem dois deputados licenciados dos respectivos mandatos (podem reassumir a qualquer momento), mas o PT está em situação idêntica. Ou seja, os petistas agora ganham no fotochart. Mesmo assim, reconheço que até o momento, passados quase oito meses da estreia do (des)governo, a oposição ainda não encontrou o caminho para se reinventar, mesmo Bolsonaro proporcionando inúmeras oportunidades para tal.

O PSL tem a possibilidade de açambarcar parlamentares de outras legendas, é verdade, mas essa investida só será viável de agora em diante se o governo Bolsonaro conseguir alavancar a economia, que continua patinando na areia movediça da crise. E nenhum político troca de partido para ser cobrado além do normal. Ou o Posto Ipiranga faz jus à alcunha, ou o partido de Bolsonaro que se cuide.

Ser o maior partido no Congresso (Câmara ou Senado) significa muito, pois garante alguns privilégios, como mais espaço nas comissões permanentes e o direito de indicar relatores de CPIs e de projetos de lei e medidas provisórias, entre outras regalias. Além disso, no caso do PT, trata-se de reforço inesperado para uma legenda que perdeu a voz.

Para concluir, não se pode fechar os olhos para um detalhe importante: Frota permanece na condição de “puxador de votos”. Não por sua experiência política, que inexiste, mas por ser figura pública e também pela verborragia radical adotada na campanha e que durou até pouco tempo. Sua reeleição não está garantida, até porque ainda falta muito tempo para 2022, mas nas eleições municipais do próximo ano Frota poderá incomodar bastante, mesmo como “puxador de votos”, não importando o partido ao qual se filie. Basta manter as promessas e reforçar o discurso crítico. Afinal, a lufada de conservadorismo e intolerância que sopra sobre o País não é exclusividade do PSL, muito menos de Bolsonaro.

(*) Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista e comentarista político, escritor, poeta, palestrante e fotógrafo por devoção.

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