Em nova estultice, Eduardo Bolsonaro diz que “diplomacia sem armas é como música sem instrumentos”

Nada pode ser mais absurdo em termos políticos do que, na esteira do nepotismo escancarado, indicar um incompetente confesso para cargo de importância e relevância. Esse introito serve para ilustrar a decisão do presidente Jair Bolsonaro de indicar um dos filhos para comandar a embaixada brasileira em Washington, cargo considerado como topo da carreira diplomática nacional.

Tão logo o nome de Eduardo Bolsonaro surgiu na mídia como provável embaixador nos Estados Unidos, o próprio filho do presidente da República admitiu, em conversa com jornalistas, que sua experiência internacional se limitava a um intercâmbio na terra do Tio Sam e um trabalho como fritador de hambúrgueres no estado norte-americano do Maine.

Com a indicação do seu nome prestes a ser enviada pelo Palácio do Planalto ao Senado Federal, onde passará por duas votações (Comissão de Relações Exteriores e Plenário), Eduardo Bolsonaro recorreu aos pesos-pesados do empresariado paulista para evitar tropeço que, em termos políticos, seria um desastre para o pai, o presidente da República.

Em evento reservado na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na última segunda-feira (12), Eduardo Bolsonaro mostrou novamente que sua indicação à embaixada em Washington não passa de sandice de uma família que acredita ter se tornado dona do país, o que não é verdade.

“Conto com o apoio dos senhores, caso tenham algum contato com senadores, para poder dizer a eles que a abertura que tenho junto à Casa Branca vai acelerar em muito os acordos comerciais e em outros setores que os senhores tenham interesse”, disse Eduardo.

Para não perder a viagem e confirmar sua incompetência para o cargo, o parlamentar aproveitou para recorrer à bajulação explícita. “No final das contas, os senhores não são os malvadões que exploram os empregados, são os que dão pontapé inicial na geração de empregos, é isso que precisamos para ter um país pujante”, declarou.


Se Eduardo Bolsonaro fosse tão competente como articulador, como alega o presidente da República, o governo não teria sofrido tropeço no caso do uso comercial da Base de Alcântara, no Maranhão. Na terça-feira (13), na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, na Câmara dos Deputados, parlamentares da oposição e do chamado “Centrão” conseguiram adiar a votação do acordo entre Brasil e Estados Unidos. É importante ressaltar que o presidente da Comissão é o próprio Eduardo Bolsonaro.

Como se fosse pouco, Eduardo de novo escancarou seu despreparo para o cargo ao afirmar que não se faz diplomacia sem armas. “O próprio Frederico II, conhecido como O Grande, disse certa vez que ‘diplomacia sem armas é como música sem instrumentos’”, declarou o deputado durante evento na Câmara.

Demonstrando que estultice é questão genética, o deputado afirmou que um país pacífico não é aquele que desprovido de armamentos. Declarou também que o discurso em prol do desarmamento serve como pano de fundo para “interesses sombrios de quem não tem projeto para a nação, mas só para si mesmo”.

O ex-ministro Gustavo Bebbiano (Secretaria-Geral da Presidência), que foi “fritado” por obra e graça de outro filho do presidente da República, disse, em entrevista à BBC, que a indicação de Eduardo Bolsonaro ao cargo de embaixador é “cara de pau, imoral e perigosa”.

“Eduardo, coitado, ele não tem a menor condição. Ele sequer sabe o papel de um embaixador. Ele não tem ideia. Eu convivi de perto com o Eduardo, ele não tem noções básicas de negociação, é um garoto, um menino, um surfista que teve um mandato por causa do pai, depois surfou de novo a onda do pai, na conquista do segundo mandato, mas é um rapaz completamente inexperiente. O nível acadêmico dele é bem iniciante, ele não tem condições”, declarou Bebbiano.

Indicar alguém desse naipe para tão relevante cargo é um ato de irresponsabilidade desmedida, que o Senado tem o dever de barrar de acordo com o que reza o bom senso e o compromisso com o futuro do País. Não se pode bater palmas para malucos dançarem no Palácio do Planalto.