Áudio de Fabrício Queiroz mostra que discurso moralista de Bolsonaro não passa de mero embuste

Adepto do palavrório embusteiro, prática comum no meio político nacional, Jair Bolsonaro foi eleito presidente a reboque do discurso da transparência e do combate à corrupção, em suma, prometendo exercer o cargo de maneira nova e diferente. Foi acreditando nessa falácia que os incautos conduziram ao Palácio do Planalto alguém que é o que se chama de “mais do mesmo”.

Já no posto de presidente, Bolsonaro decidiu atacar os opositores com o mote “velha política”, como se ele próprio não fosse fruto da “velha política”, assim como três dos seus cinco filhos. A fala moralista durou poucas semanas, pois a possibilidade de ver seu Flávio, senador pelo PSL do Rio de Janeiro, ser levado ao Conselho de Ética do Senado, fez com que Bolsonaro amenizasse o discurso e suspendesse os ataques ao Congresso.

O tempo passou e provou que Jair Bolsonaro é a “fulanização” do engodo, algo que ficou claro no caso envolvendo o ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz, responsável pelas “rachadinhas” no então gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) e que depositou R$ 24 mil na conta bancária da atual primeira-dama. Até o momento, o presidente da República não esclareceu seu envolvimento com o “faz tudo” que sempre lhe foi servil.

Apesar do discurso moralizador de combate à corrupção, Bolsonaro apequenou-se diante da decisão do STF de suspender ações judiciais e investigações iniciadas a partir da quebra ampliada de sigilos bancário e fiscal. A decisão do Supremo, tomada em caráter liminar pelo ministro Dias Toffoli, contempla o que determina a Constituição, mas casou espécie o silêncio do presidente da República, que ao longo da carreira política sempre se insurgiu contra tudo e todos, inclusive contra a Carta Magna.

Nesta quinta-feira (24), o jornal “O Globo” divulgou, em matéria publicada, áudio em que Fabrício Queiroz demonstra que não apenas continua agindo nos bastidores da política, mas sugere a aliados a busca por cargos no Congresso a partir do gabinete de Flávio Bolsonaro.


Em nota enviada ao diário carioca, Queiroz admitiu que mantém influência por ter “contribuído de forma significativa na campanha de diversos políticos no Estado do Rio de Janeiro”.

Também por meio de nota, Flávio Bolsonaro afirmou não ter aceitado qualquer indicação de Queiroz, destacando que não mantém contato com o ex-assessor desde o ano passado. Com a legislação vigente privilegia o benefício da dúvida, a afirmação do senador fluminense merecer ser checada.

“Tem mais de 500 cargos, cara, lá na Câmara e no Senado. Pode indicar para qualquer comissão ou, alguma coisa, sem vincular a eles (clã Bolsonaro) em nada”, diz na gravação. Em seguida, o ex-assessor completa “20 continho aí para gente caía bem pra c…”.

Em outro trecho, Queiroz fala de forma enfática: “O gabinete do Flávio faz fila de deputados e senadores, pessoal para conversar com ele, faz fila. Só chegar lá e nomeia fulano aí para trabalhar contigo aí, salariozinho bom desse aí para a gente que é pai de família, cai como uma uva”.

Em depoimento escrito ao Ministério Público do Rio de Janeiro, entregue em 28 de fevereiro deste ano, Fabrício Queiroz afirmou que sua função na Alerj “se assemelhava a do chefe de gabinete” e que “tinha a possibilidade de nomear assessores”. Porém, o ex-assessor ressaltou no documento que atuava para “gerenciar as questões relacionadas à atuação dos assessores fora do gabinete do deputado”.

O caso em questão é mais um escárnio que será varrido para debaixo da alcatifa palaciana, pois Jair Bolsonaro continua abusando da desfaçatez para manter a falsa imagem de Don Quixote tropical contra os corruptos. Fosse o Brasil um país que tivesse o parlamentarismo como forma de governo, Jair Bolsonaro já teria sido despejado do Palácio do Planalto.