Ex-diretora da ANAC, Denise Abreu promete fazer valer a vontade popular na corrida presidencial de 2014

(Foto: Ella Durst)
Caixa de surpresa – Por essa o Palácio do Planalto não esperava. Para surpresa geral, o Partido Ecológico Nacional (PEN51) anunciou que Denise Abreu, ex-procuradora do Estado de São Paulo e ex-diretora da Agencia Nacional de Aviação Civil (ANAC), é pré-candidata à Presidência da República. Aos 52 anos, mãe de dois filhos, mãe adotiva de outros dois, Denise Abreu abriu o baú, soltou a voz e contou ao ucho.info como se comportará em 2014.

Por qual razão se coloca à disposição do Partido Ecológico Nacional como pré-candidata à Presidência da República?

Denise Abreu — Vou começar respondendo com um chavão. Ninguém é candidato de si mesmo. Minha pré-candidatura à Presidência surgiu a partir de reuniões com o Partido Ecológico Nacional – PEN51 em que a militância avaliando os nomes entendeu que eu estou preparada e tenho o perfil e a estatura apropriadas por causa do conhecimento jurídico para fazer o que é certo, da imaginação jurisprudencial para criar o novo, da experiência em gestão pública para saber como fazer para dar certo e por causa da coragem política e da ética necessárias para propor e realizar transformações em meu país.

Saber o que fazer todo mundo sabe. Gente que sabe fazer é o mais difícil. Sou conhecida como uma pessoa que sabe tirar as coisas do papel. Foi assim que tirei do papel, junto com Dr. José da Silva Guedes (ex-secretario da Saúde do Estado de São Paulo no governo Mário Covas) 14 hospitais, que tirei do papel junto com os ministros Saraiva Felipe e José Gomes Temporão o programa “Farmácia Popular – Aqui Tem”. Repare, o momento é de insatisfação contra a mesmice. Por maiores que sejam os esforços do governo federal, não é possível esconder a insatisfação. As pessoas não se sentem representadas pelos donatários do poder, não concordam com os rumos e sentem que tem alguma coisa muito errada acontecendo no Brasil. Querem mudança, nova política, querem um País do tamanho dos impostos que pagam. Querem um Brasil de primeiro mundo. E sabem que podem ter um país de primeiro mundo. Gosto e sei correr riscos. Se der certo, felicidade. Se não der certo, sabedoria, experiência, vivência. Eu tenho orgulho de ter dito NÃO. Disse NÃO as coerções, disse não às pressões, disse não às ilegalidades, disse não aos interesses não republicanos. Em síntese, não fraquejei. O brasileiro quer que o próximo Presidente tenha coragem política de ficar do lado do Estado brasileiro e que saiba fazer um Brasil de primeiro mundo. Confio nas pessoas e acredito no Brasil. Não digo nesse País não viverei. É aqui que vivo e é aqui que gosto de viver. Deus é brasileiro. E mora no coração de cada um dos brasileiros.

Qual são os fatos dessa insatisfação popular que menciona? Para a presidente Dilma está tudo em céu de brigadeiro…

DA — Sou daquelas que pensa que mais vale acender uma vela do que amaldiçoar a escuridão. Dentre os programas do governo federal destacou-se o Bolsa Família. Hoje as pessoas sabem que o Bolsa Família não nasceu do dia para noite, mas é um programa que foi amadurecendo, passo a passo. Conquista das pessoas e que começou nos governos do PSDB. Quando trabalhava no governo Mário Covas escrevi o primeiro decreto que regulamentou o hoje denominado “Bolsa Família”. Isso é importante dizer. As pessoas sabem também que o Brasil ainda tem 5% ou 3,5 milhões de crianças e adolescentes, entre 5 e 17 anos, trabalhando em situação irregular. Sobretudo em Rondônia, Amazonas e Pará. As políticas públicas têm que responder às crianças e aos pais. O Brasil ainda não entrou na crise de emprego que atinge outros países, mas o governo não está cumprindo a meta de geração de emprego há três anos. Recentemente, reduziu a estimativa de geração de emprego em 2013. No início do ano, a previsão era de um salto de 1,7 milhão, reduziram para 1,4 milhão. O próprio ministro do Trabalho, Manoel Dias, admite o retrocesso. Há demissões no comércio. Há demissões nos estados do Rio Grande do Sul, Pernambuco e Espírito Santo.

As manifestações cobraram R$ 160 bilhões que o governo deixou de investir nos últimos 10 anos para melhoria nos serviços públicos. O Ministério da Educação, por exemplo, deixou de aplicar R$ 22,6 bi, valor que daria para construir 27 mil escolas ou comprar 131 mil ônibus escolares, aproximadamente. O Ministério da Saúde, de 2003 a 2012, deixou de investir R$ 39,5 bilhões, valor que daria para construir 15 mil UPA’s. Não se cumpre a Emenda Constitucional (EC-29/00) que visa assegurar em cada exercício financeiro uma aplicação mínima em ações e serviços públicos de saúde. De cada R$ 100 gastos com saúde no Brasil, R$ 65 são privados e R$ 35 públicos. Nos países avançados, 70% dos gastos com saúde são públicos. Nós somos o país que menos gasta em saúde pública e querem que a gestão seja excelente?

Nós crescemos nos últimos dez anos, mas o gasto federal diminuiu em relação ao seu orçamento e em relação ao repasse aos estados e municípios. Os prefeitos e os governadores não aguentam mais. Quem se omitiu ao longo desses anos? A União. No Ministério dos Transportes deixou-se de investir R$ 60,5 bilhões em estradas. A Confederação Nacional da Indústria calculou que, com a estrada BR-163 pronta, espinha dorsal que passa pelo centro do País, do Pará até o Rio Grande do Sul, o agronegócio brasileiro economizaria R$ 1,4 bilhão por ano em frete. As estradas são o principal meio de transporte no Brasil, com quase 60% das cargas e 96% dos passageiros, mas no ranking de qualidade de estradas, em 144 países, estamos na 123ª posição. E o problema não é falta de dinheiro. No Ministério das Cidades, responsável também por ações de habitação, saneamento e planejamento urbano, como um todo, deixou de aplicar R$ 41,8 bilhões entre 2003 e 2012. A Infraero investiu apenas 18% dos recursos previstos para 2013.

Entre 2003 e 2012, R$ 7,5 bilhões deixaram de ser investidos na área de Segurança Pública via Ministério da Justiça, no Departamento de Polícia Rodoviária Federal, no Departamento de Polícia Federal, no Fundo Penitenciário Nacional (FUNPEN), no Fundo Para Aparelhamento e Operações de Atividades Fim da Polícia Federal e no Fundo Nacional de Segurança Publica (FNSP). Deixaram ainda de investir na necessária reestruturação de carreiras essenciais como as de agente, escrivão e papiloscopista da Polícia Federal. Não é falta de dinheiro, já que estão sendo investidos bilhões de dólares em Cuba e no leste africano. Esse montante varia entre 5 e 7 bilhões de dólares, que levarão aproximadamente 14 anos para que saibamos o valor real, uma vez que os gastos estão na rubrica de gastos secretos. Enquanto isso, o Porto Santarém… não tem [dinheiro]. O Porto de Luiz Correia, no Piauí, não tem. A estrada do algodão no sul da Bahia não tem. Pra ferrovia Transnordestina, não tem. A ferrovia Norte-Sul, não tem. Pra seca do nordeste, não tem. Isto tudo é sustentabilidade.

(Foto: Ella Durst)

Gostou da privatização do PT?

DA — Penso que a Dilma espantou investidores estrangeiros. Dilma não teve competência para colocar o capital privado na exploração do petróleo no País, manteve o “estatismo” e perdeu bilhões por causa do modelo de partilha. A única coisa positiva é que agora o PT não pode mais abusar do discurso da privatização contra ninguém.

Qual a diferença entre Lula e Dilma?

DA — Lula alimentava o contraditório. Dilma, suprime. Lula é mais maleável, Dilma é mais inflexvel. Lula chega á uma reunião sem nada definido na cabeça. Dilma chega a uma reunião fixada em impor o que traz na cabeça. Lula quer o consenso. Dilma, o confronto. Por isso a base rachou. Rachou em 2006 com Heloisa Helena. Rachou em 2010 com Marina Silva. E vai estar rachada em 2014 com Eduardo Campos, um político profissional.

O Programa “Bolsa Família” é amigo ou inimigo?

DA — A primeira coisa é defender que o Bolsa Família não é um favor do governo, mas uma conquista social e, sobretudo, uma conquista das mulheres brasileiras, uma vez que o programa determina que a titularidade do benefício cabe às mulheres. De qualquer forma, miséria não é uma boa escola. As pessoas continuam na pobreza mesmo recebendo o Bolsa Família. Continuam muito pobres, vivendo em regiões tradicionalmente desassistidas pelo Estado, como o Vale do Jequitinhonha, o interior do Maranhão, do Piauí… O Bolsa Família não acomodou os pobres. Porque é da natureza humana desejar mais e melhor. Todos querem mais qualidade de vida. Ninguém gosta da miséria.

Boa parte dos compromissos firmados na eleição de 2010 não foi levada adiante. Como fazer para que isso não se repita em 2014?

DA — Lembrei agora de uma recente entrevista do Raimundo Fagner que falou sobre como será difícil pedir votos em 2014.

Isso quer dizer que não devemos ter muitas expectativas em relação à eleição 2014?

DA — Veja, na eleição quem toma decisões é o eleitor. As brasileiras e os brasileiros não aceitam mais a continuação da velha política. Querem soluções e resultados, querem, por exemplo, que acabe a maior crise de segurança pública do Brasil.

O PEN recebeu apoio da FENAPEF e grande adesão dos agentes da Polícia Federal. Pode-se dizer que será a candidata da Polícia Federal?

DA – O PEN é um partido vem se estruturando há um ano e meio e decidiu lançar candidatura própria para os cargos majoritários. Estamos em meio a um processo de revisão do estatuto do partido, elaborando um amplo programa de governo que só será apresentado após as prévias que faremos nacionalmente para colher diretamente do povo seus anseios e necessidades, filiamos vários Agentes da Policia Federal, extremamente qualificados, bem informados, republicanos, estadistas que sairão candidatos a Deputados Federais. Essa soma de vivências converge para dar ao Brasil um inédito sentido de Estado, como dizem em Portugal. É o momento certo para mudar. Nós vamos surpreender o Brasil.

Quem vai pagar a sua campanha? Uma campanha para presidente custa caro…

DA – Nosso entendimento é que a partir do indivíduo se constrói qualquer segmento da sociedade e por isso temos nomes indiscutivelmente preparados. O que mais estamos vendo é o grande ficando pequeno e o pequeno ficando grande. Em 2014, dos aparentes “nanicos” emergirão gigantes. As campanhas presidenciais deixarão de ser um mero palco de grandes marqueteiros. O sinal disso foram as manifestações de rua em junho deste ano, que demonstraram que a maquiagem das propagandas oficiais não tem mais sentido. A velocidade da informação nas redes sociais vem dando maior clareza à realidade socioeconômica que vivemos.

O que você fará de diferente dos candidatos que estão aí colocados?

DA – A principal diferença é o sentido de Estado. O Estado fica, os governos passam. As propostas programáticas apresentadas por todos os partidos não demonstram grandes diferenças. Nós do PEN temos discutido muito esse aspecto. O que nos diferencia dos demais é a visão de Estado, não de governo. Qualquer política pública a ser implementada deveria mirar no Estado, que é perene, e não nos interesses de cada partido que assuma o Governo, já que estes são transitórios.

É contra ou a favor da reeleição?

DA – Sou absolutamente contrária. Servir ao povo não pode se transformar em carreira política. As alternâncias são muito saudáveis para a consolidação da democracia.

Bem informada, trabalhou no governo, percorreu os bastidores do poder… Sente-se pronta para enfrentar uma campanha tão acirrada como será a de 2014?

DA – Participar de duas CPIs, nove meses apos do depoimento da Varig no Senado Federal, me trouxe um preparo especial. Tive nos meus calcanhares gente como Roberto Teixeira, Demóstenes Torres. Enfrentei, também, o sistema político viciado que a população demonstrou nas ruas não mais querer no poder. O que chama a atenção é o surgimento na cena política de uma nova juventude escolarizada por ideais, não pela letargia. Isto me estimula. Um povo bonito, jovem, escolarizado, cheio de ideias, atitudes. Ter contato com eles tem me ensinado muito.

A extensa maioria da opinião pública brasileira tomou conhecimento da existência de Denise Abreu por causa do trágico acidente no Aeroporto de Congonhas. Esse tema pode interferir de alguma maneira na sua campanha?

DA – Aquela calamidade foi a maior prova da incompetência de gestão do governo federal em termos de segurança. De qualquer forma, sob o aspecto jurídico, confio plenamente no Poder Judiciário de nosso país. Já no aspecto político, desafio qualquer dos adversários a trazer à baila o tema, já que será mais uma oportunidade para a nação constatar as razões pelas quais o sistema político transformou uma mulher em bode expiatório visando esconder as mazelas que permeiam a aviação civil brasileira. Não tenho qualquer responsabilidade direta ou indireta pelo trágico acidente. Você do ucho.info foi o único jornalista que teve coragem de defender a verdade e consequentemente sabe da minha inocência.