CPI das Privatizações deve convocar os fundos de pensão, José Mentor, Lula e o ex-presidente da Transbrasil

Pela culatra – O requerimento apresentado pelo deputado federal Protógenes Queiroz (PCdoB-SP) para que a Câmara crie uma CPI com o objetivo de investigar as privatizações da era do tucano Fernando Henrique Cardoso pode terminar em um enorme problema para o Palácio do Planalto. Não que qualquer denúncia de suposta corrupção deva ser abandonada, mas a base do tal requerimento é o conteúdo do livro “Privataria Tucana”, do jornalista Amaury Ribeiro Jr., que em 2010 esteve envolvido no escândalo de quebra de sigilo fiscal de alguns integrantes do PSDB, operação cujo objetivo era prejudicar a campanha presidencial de José Serra.

Se dúvidas ainda pairam sobre as privatizações promovidas por Fernando Henrique Cardoso, que sejam chamados a depor, caso a CPI prospere, os representantes dos fundos de pensão que entraram no negócio. Como se sabe, nove entre dez fundos de pensão de trabalhadores no Brasil são controlados por petistas. Isso dificilmente acontecerá, pois os fundos de pensão são verdadeiras caixas de Pandora do sindicalismo nacional, assunto que Lula e seus aduladores conhecem a fundo.

O citado livro se baseia em documentos da CPI do Banestado, assunto que foi exaustivamente debulhado pelo PT, meses depois de Luiz Inácio da Silva chegar ao Palácio do Planalto. À época, o relator da CPI foi o então deputado José Mentor, do PT de São Paulo, que em meio a escândalos sucessivos acabou produzindo um relatório pífio e muito criticado. Certa feita, uma dupla de conhecidos e influentes peemedebistas do Paraná aterrissou em Brasília para negociar a retirada de alguns nomes da lista de acusados de envolvimento em operações financeiras ilegais na agência do Banestado em Nova York e em um banco sediado nas Ilhas Cayman. O assunto vazou pelos corredores do Congresso Nacional e a confusão foi monumental.

Contudo, a CPI do Banestado teve uma parada repentina, estratégica e inexplicável. Essa parada foi motivada por Antonio Celso Cipriani, milionário que frequenta o segundo anel orbital de Lula. Ex-presidente da falida Transbrasil, empresa aérea que pertenceu ao seu sogro, Omar Fontana, Cipriani tem um histórico turbulento.

O voo cego do investigador de polícia que arruinou a Transbrasil

(Foto: Estadão)
Em 1978, Antonio Celso Cipriani era investigador do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), ocasião em que foi apresentado pelo delegado Romeu Tuma ao dono da Transbrasil. Sua missão, a partir daquele momento, era a suspeita de uso dos voos da companhia pelo narcotráfico, ou, então para proteger o comandante Omar Fontana de eventual sequestro, segundo comentou-se à época nos bastidores.

Encerrado o trabalho para o qual fora escalado, Cipriani acabou ficando na Transbrasil, pois o dono da empresa convidou-o a trabalhar na auditoria da empresa. Foi lá que o amigo de Lula conheceu Marise, filha de Fontana, com quem casou-se em segundas núpcias. A partir de então passou a caminhar na direção do comando da companhia aere que um dia foi freqüentou a seara da excelência.

Acusado de ter movimentado perto de US$ 100 milhões no exterior, enquanto a Transbrasil jazia e deixava um passivo na casa de R$ 1 bilhão, Cipriani, que por diversas vezes teve o nome citado por integrantes da CPI do Banestado, jamais foi molestado, resultado da preciosa ajuda de José Mentor, o relator da Comissão Parlamentar de Inquérito.

Quando o nome de Cipriani surgiu no rol de suspeitos da CPI do Banestado, o deputado petista José Mentor foi acionado imediatamente. Relator da Comissão, Mentor recebeu em seu gabinete o próprio Antonio Celso Cipriani, levado pelo advogado Roberto Teixeira, compadre de Lula. Por outro lado, Mentor e Roberto Teixeira, advogado no caso Varig, são amigos há mais de quatro décadas.

Depois do encontro, Mentor alegou que não recebeu ordens superiores para proteger Cipriano. Presidente da CPI do Banestado, o então senador tucano Antero Paes de Barros contradisse o relator. “Não tenho interesse em entrar numa polêmica pública com o relator, mas ele defendeu apurar tudo de Beacon Hill, menos Cipriani”, disse Antero, em referência à conta à conta no banco JP Morgan cujo sigilo foi quebrado. “Não tenho dúvida de que Cipriani movimentou um dos maiores montantes da CPI”, completou o presidente da Comissão.

O agora silencioso Antonio Celso Cipriani tem uma história interessante em relação ao ex-presidente da República. Depois de morar de graça durante alguns longos anos na casa do compadre, Lula comprou, em 1995, uma cobertura em São Bernardo do Campo, onde reside atualmente. O imóvel foi construído pela empreiteira Dalmiro, cujo advogado era Roberto Teixeira. Muito estranhamente, Lula deu como parte do pagamento do imóvel um cheque no valor de R$ 10 mil, que Dalmiro Lorenzoni, dono da construtora, havia dado a Teixeira.

Em 1992, a Construtora Dalmiro pagou R$ 484 mil a Antonio Celso Cipriani por um terreno que ele havia comprado meses antes por R$ 3,7 mil. A meteórica e absurda valorização do terreno encontra explicação no fato de o então prefeito de São Bernardo do Campo, Maurício Soares, petista e amigo de Roberto Teixeira, ter desistido de desapropriá-lo. Coincidência ou não, Teixeira era advogado dos três envolvidos no imbróglio: a Construtora Socepal, que vendeu o terreno; Cipriani, que viu seu investimento multiplicar 130 vezes em pouco mais de seis meses, e Dalmiro Lorenzoni, dono da empresa que construiu o prédio em que Lula mora atualmente.