Dois pesos – Não bastasse ter rasgado o discurso moralista do passado, o PT insiste em manter postura dual em relação a escândalos. Por ocasião da CPI do Cachoeira, a bancada petista, cumprindo ordens do Palácio do Planalto e do ex-presidente Lula, trabalhou intensamente nos bastidores com dois objetivos distintos. O primeiro deles era evitar que o empresário Fernando Cavendish, dono da Delta Construção, fosse sacrificado pela Comissão Parlamentar de Inquérito. O segundo objetivo era atingir o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e o então senador Demóstenes Torres, à época filiado ao Democratas.
O único que chegou ao patíbulo da culpa foi Demóstenes, que teve o mandato cassado por quebra do decoro parlamentar. Ele foi acusado de envolvimento com o empresário da jogatina Carlos Augusto de Almeida Ramos, o popular Carlinhos Cachoeira. A ligação de Demóstenes Torres com Cachoeira ficou evidenciada, segundo seus algozes, por presentes de casamento recebidos do bicheiro e mensagens de celular trocadas com o mesmo.
Agora, no rastro da Operação Lava-Jato, a Polícia Federal identificou o envolvimento do doleiro Alberto Youssef, já devidamente preso, com o deputado federal André Vargas (PT-PR), vice-presidente da Câmara doas Deputados. Vargas, no primeiro momento, disse que é um conselheiro financeiro de Beto Youssef, como é conhecido o doleiro, o que só pode ser uma piada de péssimo gosto. Até porque, um doleiro que tem o nome incluído nos maiores escândalos de corrupção do País não precisa se valer da genialidade (sic) de André Vargas, conhecido no interior do Paraná como “Bocão”.
Enquanto Vargas tentava sustentar sua desculpa esdrúxula, a PF se preparava para vazar novos e comprometedores detalhes dessa relação nada republicana. Nas quase cinquenta mensagens interceptadas pela Polícia Federal, André Vargas recebe orientações do doleiro, agenda reuniões com Youssef e chega ao absurdo de repassar informações das conversas que ele, como deputado do PT, mantinha com integrantes do governo de Dilma Rousseff. E ambos, Vargas e Youssef, usavam códigos nas mensagens trocadas, o que denota o viés malandro dessa relação pouco inocente. Na verdade, André Vargas fazia parte do organograma criminoso de Youssef e atuava como lobista do doleiro na Esplanada dos Ministérios.
A proximidade de André Vargas com o Alberto Youssef era tamanha, que o deputado chegou a pedir emprestado ao doleiro um avião para levar a família à capital paraibana, João Pessoa. Youssef desembolsou R$ 100 mil para pagar o fretamento de um Learjet 45 que serviu à família de André Vargas, que eufórico agradeceu a gentileza em mensagem comprometedora enviada por celular: “Valeu irmão”, escreveu o petista.
Rastreando telefones celulares dos investigados na Operação Lava-Jato a PF acabou descobrindo o vínculo de André Vargas e Alberto Youssef. No dia 2 de janeiro deste ano, véspera da viagem de férias da família do petista, Vargas e Youssef trocaram vinte mensagens sobre o avião. “Tudo certo para amanhã. Daqui a pouco te passo o tel do comandante… Duração do voo: 3h45 minutos, João Pessoa, Paraíba”, escreveu Youssef. Na sequência foi a vez de Vargas enviar mensagem: “Tem o telefone da América?”, pergunta o deputado, fazendo referência ao hangar onde embarcaria com a família. “Da América, não. Mas é só buzinar no portão que eles abrem”, respondeu o doleiro. “Valeu irmão”, escreveu Vargas. “Boa viagem e boas férias abs (sic)”, responde Youssef.
Pois bem, se por muito menos o então senador goiano Demóstenes Torres perdeu o mandato parlamentar, não há razão para evitar que o caso de André Vargas não seja analisado pelo Conselho de Érica da Câmara dos Deputados. Ou será que crimes cometidos por petistas não estão sujeitos à legislação vigente no País? Que o PT vem demonstrando com afinco a sua vocação para o banditismo político todos sabem, mas é inaceitável esse regime de exceção que o partido criou para proteger a “companheirada”.