Eleição de Eunício Oliveira à presidência do Senado esconde séria ameaça às investigações da Lava-Jato

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Chega a ser desanimadora a situação política em que se encontra o Brasil, país movido pela corrupção que navega em um oceano de problemas quase sem solução. Os brasileiros clamam por mudanças no cenário político, mas ao que parece o status quo há de continuar. Isso porque políticos fazem dos seus mandatos senhas para um universo imundo e subterrâneo de negócios escusos.

Quem acompanhou a eleição para a presidência do Senado não demorou a perceber que o novo comandante da Casa, senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), é mais uma peça do jogo de cartas marcadas que impera no Parlamento nacional. Eunício, em discurso certamente escrito por terceiros, falou em “mudanças de costumes”, mas há de prevalecer o dito do quartel de Abrantes, onde tudo prevalecerá como d’antes.

Se para muitos a eleição do novo presidente do Senado é algo sem importância, as que conhecem as coxias da política representa algo preocupante. Não apenas pela figura de Eunício, mas principalmente pela composição da Mesa Diretora.

Tudo seria absolutamente normal se não existisse a Operação Lava-Jato, que flagrou algumas dezenas de políticos envolvidos no maior esquema de corrupção da história da Humanidade, o Petrolão. Maior partido da Casa, o PMDB continuará mandando no Senado. Além de Eunício Oliveira, eleito para a presidência, o partido ocupará a segunda-vice-presidência. A primeira-vice-presidência ficará com o PSDB, enquanto o PT assumirá a primeira secretária, uma espécie de prefeitura do Senado.


Os cargos acima listados serão ocupados por partidos que têm muitos integrantes investigados na Lava-Jato, sendo que alguns deles encontram-se na condição de réus em ações penais. A questão não é apenas os políticos que ocuparão os cargos, mas os partidos aos quais são filiados.

Como é de conhecimento público, vencida a primeira etapa do calvário petista no âmbito do Petrolão, os próximos alvos da Lava-Jato são o PMDB e o PSDB. Isso significa que não causará surpresa se o Senado inserir na pauta de votações matérias cujos objetivos são atrapalhar as investigações sobre os escândalos de corrupção na órbita da Petrobras e outras estatais.

O cenário torna-se ainda mais assustador porque o PMDB protagonizou uma escandalosa dança de cadeiras. Afinal, Renan Calheiros deixa a presidência do Senado para assumir a liderança do partido, de onde saiu Eunício Oliveira para comandar a Casa legislativa. Essa troca de postos permite a Renan Calheiros permanecer na vitrine da política nacional, decidindo o futuro do País na condição de líder do PMDB.

Dentro de quatro anos, no máximo, Renan tentará retornar ao comando do Senado, o que lhe dará condições extras de enfrentar a dúzia de processos a que responde no Supremo. Resumindo, mudaram apenas as moscas.

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