Useiros e vezeiros – A notícia de que a Polícia Militar paulista prendeu um policial por suposto envolvimento com o PCC não causa estranheza, pois trata-se de algo que acontece em muitos países onde a corrupção corre solta e o crime organizado ocupa as lacunas deixadas pelo Estado.
Somente um desavisado seria capaz de acreditar na capacidade dos integrantes de facções criminosas que se encontram presos de comandar o tráfico de drogas de dentro da cadeia, sem a ajuda de algum policial. Nesse cenário prevalece, quase sempre, a tese burra de criar dificuldade para vender facilidade. Não obstante, corre solto dentro dos próprios presídios.
É preciso deixar de hipocrisia e reconhecer que a força do tráfico de drogas é quase imbatível e que a corrupção que advém dessa atividade criminosa é piramidal, ascendente e capilar. Em suma, não importa o posto hierárquico, as autoridades são de alguma forma beneficiadas pela ação dos marginais, mesmo que desconheçam a profundidade dos fatos, se é que nisso pode-se acreditar.
As organizações criminosas que agem a partir de muitos presídios brasileiros têm como mola propulsora o tráfico de entorpecentes, atividade que tem avançado assustadoramente no País com a conivência de policiais. Sem contar o quase inexistente patrulhamento das nossas fronteiras, por onde passam como facilidade drogas e armas. É fato que não se pode medir todo os policiais com a mesma régua usada para classificar os que desonram as próprias corporações, pois há pessoas sérias na polícia, mas não se pode ignorar o poder de convencimento dos traficantes, que ora se valem das ameaças, ora do poderio financeiro.
Qualquer jornalista que cobre as pautas policiais, mesmo que seja um estreante, sabe como funciona um flagrante de tráfico de drogas. Nem sempre a quantidade apreendida é a mesma da registrada no boletim de ocorrência. É nesse detalhe perigoso que começa o perigoso envolvimento de policiais com os integrantes das organizações criminosas.
No momento em que as autoridades se dispuserem a compreender a relação desconexa que existe entre o patrimônio de alguns policiais e seus respectivos holerites, existirá uma chance de possível pensar na moralização das corporações policiais Na mais importante unidade da federação, São Paulo, é grande o número de policiais que não suportariam uma checagem patrimonial.
As autoridades do setor de segurança pública conhecem a realidade, mas preferem fechar os olhos diante do óbvio. O último milagre da multiplicação que se tem notícia ocorreu na Santa Ceia e para mandar policiais corruptos para a cadeia não é preciso grampo telefônico.