Conversa mole – No discurso que fez à nação para falar sobre o leilão do Campo de Libra, realizado na tarde desta segunda-feira (21) no Rio de Janeiro, a presidente Dilma Rousseff disse que a operação foi um sucesso. Um palavrório que já era esperado, pois afinal a presidente precisa manter no ar o mote populista “o petróleo é nosso”, não importando a grave situação financeira da Petrobras, que integra o consórcio que explorará o campo petrolífero no pré-sal.
Em cadeia de rádio e televisão, a presidente afirmou que o leilão dará ao Brasil mais soberania, assim como aos brasileiros garantirá um futuro melhor. Dilma disse que em 35 anos a União receberá da operação, da operação decorrente do leilão de Libra, pouco mais de R$ 1 trilhão, valor que o Estado brasileiro, como um todo, arrecada anualmente em impostos. Ou seja, muito pouco dinheiro para período tão longo. Esse montante mencionado por Dilma é composto da seguinte forma: R$ 15 bilhões do bônus de assinatura, R$ 270 bilhões em royalties e R$ 736 bilhões em excedente de óleo. A presidente falou também em batida de martelo no leilão, o que não acontece quando existe apenas um interessado.
Além da Petrobras, que detém 40% do consórcio (30% obrigatórios), participam da operação a anglo-holandesa Shell (20%), a francesa Total (20%) e as estatais chinesas CNPC (10%) e CNOOC (10%). O que se especula no mercado financeiro é que o governo chinês, por meio de suas estatais do setor, poderá injetar no negócio o dinheiro que é de responsabilidade da Petrobras, recebendo o valor investido em petróleo. O governo de Pequim adiantou um grande volume de dinheiro à Venezuela, que está devolvendo o montante em remessas diárias de 600 mil barris de petróleo.
A presidente pode falar o que bem quiser acerca do leilão, que não pode ser rotulado como tal porque só teve um interessado. Não custa lembrar que o governo brasileiro esperava a participação de pelo menos 40 empresas do setor no leilão do Campo de Libra, mas apenas 11 pagaram R$ 2 milhões para obter o edital e habilitar-se automaticamente. As três maiores empresas petroleiras do planeta – ExxonMobil, British Petroleum e British Gas – desistiram de participar da disputa.
Das onze empresas habilitadas, uma delas, a espanhola Repsol, desistiu horas antes do início do leilão, que contou com um esquema de segurança típico de país em guerra civil.
Considerando o desinteresse em cadeia por parte das maiores petroleiras internacionais, falar em sucesso é devaneio em último grau. Mesmo assim, a diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo, Magda Chambriard, não se conteve e disparou durante entrevista concedida no Rio: “Sucesso maior que esse é difícil de imaginar”. Em suma, o que não faltou foi ufanismo e desfaçatez no vácuo do leilão (sic) do Campo de Libra.