Fora do tom – Além da presidente da República, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, arrumou mais um árduo defensor, o vice Michel Temer. Após Dilma Rousseff dizer que Levy não deve ser transformado em “Judas” por causa das impopulares medidas de ajuste fiscal, Temer saiu em defesa do titular da Fazenda ao afirmar que o ministro “muito menos Judas e muito mais Cristo”.
A defesa em favor de Joaquim Levy nada tem a ver com os efeitos colaterais do pacote de ajuste fiscal no âmbito da população brasileira, que há muito sofre com crise econômica, mas busca minimizar as duras críticas petistas ao plano, já que o partido realiza de 11 a 14 de junho deste mês um congresso, em Salvador, quando o tema será discutido abertamente e alvo de ataques dos “companheiros”. Ou seja, o Palácio do Planalto não está preocupado com a carestia do brasileiro, mas em poupar Dilma da artilharia pesada da cúpula da legenda.
“Eu penso que o ajuste fiscal que o Levy está levando adiante vai representar exatamente isso: no primeiro momento parece uma coisa difícil, complicada, mas que vai dar os melhores resultados”, disse Michel Temer aos jornalistas. Acontece que como articulador político do governo e responsável direto pela aprovação das medidas de ajuste no Congresso Nacional, o vice-presidente também age em causa própria ao defender Levy.
Em vez de se agarrar ao proselitismo barato e adotar um discurso pouco convincente, Michel Temer deveria ter um mínimo de consciência e reconhecer que a política econômica adotada por Dilma no primeiro mandato, quando ele também era vice, foi um desastre e arruinou o País.
A grande questão não está apenas no plano de ajuste, mas na forma como a equipe liderada por Levy trata a economia brasileira, cada vez mais amarrada e despencando no despenhadeiro da crise. Não será apenas medidas de ajuste fiscal que a economia verde-loura retomará o caminho do crescimento. Se o Palácio do Planalto espera que isso ocorra, o melhor a se fazer é arrumar as malas e procurar o aeroporto mais próximo, como têm feito milhares de brasileiros, que deixam o País em busca de uma situação econômica menos complexa e um estado de coisas que passe longe da corrupção desenfreada.
Se por um lado o ajuste fiscal não será a tábua de salvação do Brasil, a avalanche de corrupção, o aparelhamento da máquina estatal e o aumento de gastos correntes por parte do governo representam a bola de ferro que leva o País para o fundo do poço. Sem combate à corrupção, redução de cargos de confiança e corte de gastos o País continuará no atoleiro.
De tal modo, Temer perdeu a grande chance de explicar aos brasileiros quanto o seu partido, o PMDB, cobra da presidente Dilma para aprovar no Congresso matérias de interesse do governo. Até porque, política é negócio e por isso envolve muito dinheiro e interesses.